Eu quero a sorte de um amor louco

Eu quero a sorte de um amor louco

Isso mesmo. Amor desatinado por amar sem limite, sem medida, sem preocupação com o saldo nem nada mais. Quero um amor biruta e sem juízo, doido varrido, desses que tocam a campainha no meio da madrugada, que fazem juras de amor numa segunda-feira às seis da manhã. Que largam tudo, enfrentam o chefe e um trânsito insano só por algumas horas de grude.

Quero anomalia sentimental, um amor amalucado, sem tempo ruim, que me leve pela mão em incríveis aventuras, que chute barreiras e gente do contra. Com sabor de sal e cheiro de maresia, procuro um amor viril e corajoso, que seja audacioso e vivaz, sem cabresto, correndo solto, desenfreado. Comigo. Junto a mim. Amor do tipo que arranca o fôlego e tira o prumo, que faz suar e tremer, que ferve o sangue e dá calafrios. Tudo ao mesmo tempo.

Nesses dias em que todos andam por aí sorrindo e desejando um feliz ano novo, eu quero mais é que me roguem um amor desvairado! Então, esperançosa, eu retribuiria de volta: Pra você também, um romance bem caprichado, nada equilibrado, com mil loucuras a dois! E assim, nossos desejos de amores delirantes e afoitos se multiplicariam feito coelhos na mata. É que de gente sã e comedida o mundo está cheio, e cheia também estou eu de tanto amor vazio.

Ah, bem que poderia ser assim! Esse positivismo dentro de cada um de nós, dia e noite, vida afora, sem importar se é dia santo, feriado ou domingo chuvoso! Confesso que estou esperançosa, afinal, se existe a tal da lei do retorno, já é hora de que um amor extraordinário cante à minha janela! Porque nunca fui de romper corações a torto e a direito, e ainda por cima, faz tempo que venho sendo premiada com modéstia amorosa.

Chega. Não quero sensatez, amor conciso nem nada que caiba nas minhas mãos. Já não me contento com migalhas de afeto, súplicas de tempo e compromisso, nada disso. Mendigar carinho e atenção não preenche nenhum buraco, muito pelo contrário, só faz cavar mais fundo o poço do amor próprio. Quem vive com pouco, na expectativa do muito, sofre por sobreviver precariamente na miséria de sentimentos.

Nada mais sábio que o velho ditado: Antes só do que mal acompanhado. Porque se não for pra ser inteiro, que não seja. Não dá para ser consentido com as questões do coração. Pequenice não sustenta alma densa, gente intensa, amor de portão. É por essas e outras que eu digo e repito, que bato no peito e firmo o pé: Eu quero a sorte de um amor louco!

Karen Curi

é jornalista.