Tanto medo. Medo de amar outra vez. Medo de entregar meu coração mais uma vez. Por isso o amarro, amordaço, ponho coleira, focinheira, seguro com as duas mãos e os pés fincados na areia. Por medo, também, de que meu coração teimoso não me obedeça. Ele é forte e insistente, tenta ladrar e não consegue, então grita no silêncio abafado de um grunhido. Faz força para se soltar das amarras e correr ao encontro — ou reencontro — do amor.
O coração quer, rosna, tenta roer as cordas. Depois dá uns passos para trás. É que a dor de amor dói tanto que nunca sara. Diminui, se ajeita, aquieta e se acomoda no peito. Aí toca aquela música, alguém usando aquele perfume, o filme de novo na TV, uma fotografia… E a dor volta, o vodu do amor espeta aqui dentro sem condolência. Podem me chamar de covarde. A verdade é que eu estou protegendo o meu bem maior, do mundo lá fora, das pessoas, dos outros animais. E faço isso, também, por amor, porque me amo antes de tudo e de todos.
Entre idas e vindas, tropeços, estradas, nascentes, poentes e trilhas… O que eu sei é que amar é uma troca, e quando essa troca não é justa, ou não é feita, alguém sai no prejuízo. E nada pior do que ficar de mãos vazias, ter a sensação de tempo perdido. Porque para amar a gente tem que ser honesto. Honesto com nós mesmos e com o outro, botar o amor na mesa pra ver quanto tem cada um, quanto cada um pode dar, até aonde pode ir. Honestidade no amor é isso, e vai muito além da fidelidade e do compromisso. É esclarecer as expectativas, porque uma vez dispostas assim, aos olhos, fica mais fácil saber o que se quer e o que se almeja. Senão, depois, sempre tem alguém que diz: “Peraí, mas você disse que… Você me prometeu… Eu achei que…”
O mundo seria perfeito se todos fossem amantes honestos! Menos decepções, menos sofrimento, menos mal-entendidos e suposições… Sem contar o desperdício de lágrimas. Aí você pensa que tudo está perdido e que ninguém presta. Se torna vítima do outro, da vida, de você mesmo. Até que o amor bate, novamente, à sua porta. Pode ser um novo romance ou uma história antiga. Não importa, ele vai tocar a campainha e o medo vai assombrar a sua casa. Os fantasmas desiludidos te dirão as mais tenebrosas previsões. Já os erês virão com a sua alegria e esperança assoprando bons ventos.
Mas coração é como opinião, cada um tem o seu. E amor também. Alguns são enxurrada, outros chuvisco. Tem amores de primavera e amores de outono, amor de maratona e de caminhada. Sou covarde na minha solidão, junto das minhas memórias, até que o amor chegue bem pertinho e faça voar borboletas aqui dentro! O medo não pode ser maior e mais forte que o amor.
Olha, pode ser que ele não apareça com um buquê de flores nem com poemas na ponta da língua. Até porque amor perfeito é utópico e idealizar uma companhia acaba sendo frustrante. Corre-se o risco de que ninguém atinja às expectativas, e aí o sofrimento é triplo: por sonhar um alguém, por se decepcionar com o personagem não correspondido e por terminar só, amargando uma história que não vingou. Não se esqueça de que você não foi o primeiro e nem será o último a sofrer por um amor. Nosso time é enorme e nossa linguagem é universal. Somos tantos espalhados aqui e acolá!
Quando o amor chamar por você, não ponha empecilhos, não o mande embora a vassouradas. Pessoas são diferentes, bem como seus corações. Se não deu certo com um, com dois ou três, não significa que não dará certo com um novo amor. Aliás, deu certo sim, cada qual em seu momento. Plantios e colheitas acontecem em tempos diferentes. Às vezes curtos, outros longos. Muitas flores, nem tantas.
Aceite, adube-se por dentro e esteja pronto para receber a semente do amor no seu coração. Sem medo de ser feliz.