As graphic novels, romances gráficos em tradução livre, são histórias em quadrinhos publicadas em formato de livro. Distinguem-se das HQ’s comuns por serem narrativas com início, meio e fim, que desenvolvem de forma mais profunda as complexidades de cada personagem. O surgimento do termo é atribuído ao escritor e desenhista Will Eisner, que o inseriu na obra “Um Contrato com Deus” (1978). Para os que desejam conhecer o gênero, a Bula reuniu em uma lista 12 indicações fundamentais. Pelos livros sugeridos, é possível acompanhar a evolução das graphic novels ao longo do tempo. Entre os selecionados, estão “Maus: A História de Um Sobrevivente” (1980), de Art Spiegelman; e “Daytripper” (2010), dos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá.
“Um Contrato com Deus” reúne quatro contos, todos situados em um conjunto de cortiços no Bronx, nos Estados Unidos. As histórias são ligadas pelo tema da experiência migratória e focam no cotidiano de pessoas comuns, que vivem alegrias e tristezas enquanto tentam ganhar a vida e criar os filhos na América, sonhando com um futuro melhor. A obra foi o início de uma trilogia, composta também pelos títulos “A Força da Vida” (1988) e “Avenida Dropsie” (1995). Publicada timidamente em 1978, “Um Contrato com Deus” ajudou a definir o termo “graphic novel” e inspirou uma grande geração de artistas que seguiram os passos de Will Eisner.
Maus (“rato”, em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art Spiegelman, o autor. O livro é considerado um clássico inovador das histórias em quadrinhos, representando judeus como ratos, alemães como gatos e poloneses como porcos. Além da Guerra, Art aborda a difícil relação que sempre manteve com o pai e a ausência da mãe, que cometeu suicídio. “Maus” foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, Spiegelman ganhou o Prêmio Pulitzer de Literatura. Desde que foi lançada, a obra tem sido objeto de estudos e análises de especialistas de diversas áreas.
A trama de “Watchmen” se passa nos Estados Unidos, nos anos 1970, numa realidade em que super-heróis chamados de “vigilantes” são comuns no combate ao crime. Devido a uma greve da polícia, em protesto contra os heróis, o governo promulga a Lei Keene, que exige o registro formal de todos os combatentes fantasiados. Alguns se registram, enquanto outros se aposentam ou decidem viver como heróis fora-da-lei. Anos depois, um dos ex-combatentes é assassinado e a investigação de sua morte revela uma conspiração para acabar de vez com os vigilantes. Considerada um marco na história dos quadrinhos, “Watchmen” foi originalmente publicada em 12 edições.
O livro reúne as histórias que o artista de quadrinhos e jornalista Joe Sacco ouviu em uma viagem que fez ao Oriente Médio, entre 1991 e 1992. Durante meses, ele coletou relatos nas ruas, nas escolas, nos hospitais e nas casas de refugiados, onde entrevistou mais de cem palestinos e judeus. Por meio de seus desenhos realistas, o autor sensibiliza ao mostrar como vivia a população expulsa das terras que habitavam, pelos israelenses. Ao mesmo tempo em que se sentem esquecidos pelo mundo, os palestinos lutam pelo que acreditam e pelo resgate de sua cultura. O livro teve uma continuação, “Palestina: na Faixa de Gaza”.
Marjane Satrapi tinha apenas 10 anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita. Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane escreveu “Persépolis”, sua autobiografia em quadrinhos. Sua história detalha o impacto da guerra e do extremismo religioso sobre os iranianos, especialmente mulheres.
“Fun Home” é um marco dos quadrinhos e das narrativas autobiográficas, uma obra sobre sexualidade, relações familiares e literatura. Pouco depois de revelar à família que é lésbica, Alison Bechdel recebe a notícia de que seu pai morreu em circunstâncias que poderiam indicar um suicídio. Nesta aclamada autobiografa em quadrinhos, ela explora a difícil, dolorosa e comovente relação com o pai. A autora retraça também os próprios passos, da criança que cresceu entre os cadáveres da funerária da família, na zona rural da Pensilvânia, à jovem que se encontrou nos livros e na arte. Num trabalho sutil, Bechdel trilha o caminho de sua vida em busca de um pai enigmático e incontornável.
“Solitário” apresenta uma história em que sonho e vida cotidiana se mesclam com sensibilidade e humor. Em um pequeno farol, um eremita experimenta uma vida rodeada de solidão. Morador do lugar desde que nasceu, há 50 anos, ele tem a imaginação como única companheira. Quando um marinheiro novato começa a trabalhar no barco que toda semana leva provisões para o Solitário, ele passa a fazer perguntas que toda a população dos arredores evitou ao longo de uma vida: “Quem ele é? Por que se esconde? Por que nunca saiu do farol? Como é viver com tanta solidão?”. Essa pequena atitude é o bastante para dar início a uma sucessão de eventos que mudarão para sempre a existência serena do ermitão.
Em “Retalhos”, Craig Thompson retrata sua própria história, da infância até o início da vida adulta, numa cidadezinha dos Estados Unidos que parece estar sempre coberta pela neve. Seu crescimento é marcado pelo temor a Deus imposto pela família, que se interpõe contra seus desejos, como o de se expressar pelo desenho. Ao mesmo tempo, Thompson descreve a relação com o irmão mais novo, com quem ele dividiu a cama durante toda a infância, mas de quem se distanciou com o passar do tempo. Na adolescência, Thompson se aproxima de Raina, uma garota vivaz e de alma poética que muda as visões que ele tem da família, de Deus, do futuro e de si mesmo.
“Habibi” se passa nos dias atuais, em uma “paisagem oriental” fictícia, chamada Wanatolia. Conta a história de dois escravos fugitivos, Dodola e Zam. Após ter sido entregue para se casar, com apenas 12 anos Dodola é raptada por ladrões que desejam vendê-la como escrava. No cativeiro, ela salva um pequeno garoto, chamado Zam, por quem desenvolve um amor maternal. Os dois conseguem fugir e crescem juntos no deserto, sozinhos em um navio naufragado na areia. Em meio a sentimentos cada vez mais conflitantes, Dodola passa o tempo contando a Zam histórias do islamismo. Para garantir a sobrevivência dos dois, ela se prostitui com viajantes que passam pelo deserto.
Em 2009, no Teerã, os iranianos marcham pelas ruas de sua capital em protesto pelas eleições presidenciais, os manifestantes exigem a recontagem de votos. Bandeiras verdes hasteadas marcam a indignação do povo. Começam os tiros. Pessoas correm para todos os lados, muitos feridos. Neste cenário de caos, Zahra perde seu filho Mehdi, talvez para sempre. Passando por hospitais e necrotérios, implorando a burocratas corruptos, fazendo visitas diárias à prisão Edin, e esperando com todas as forças que sua busca não termine no cemitério ao sul de Teerã, Zahra tenta encontrar Mehdi. “O Paraíso de Zahra” é uma trama ficcional permeada de pessoas reais e eventos com uma visão profunda do Irã.
“Grama” é uma graphic novel antiguerra que narra a história real da sul-coreana Ok-sun Lee, vendida pela própria família na infância e forçada à escravidão sexual pelo Exército Imperial Japonês. Ela é uma das várias mulheres que foram capturadas para servir aos soldados nas chamadas “casas de conforto”, espalhadas pela China e por territórios ocupados pelo Japão durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial. Ok-sun Lee, hoje com mais de 90 anos, se tornou uma importante ativista pela indenização das “mulheres de conforto”, e é por meio de seus relatos que a autora Keum Suk Gendry-Kim conta sua triste história de vida.