Concedido anualmente pela Academia Sueca, o Nobel de Literatura premia, desde 1901, autores que fizeram contribuições relevantes ao campo literário. A lista dos ganhadores evidencia a desigualdade de gênero no universo artístico: ao longo de mais de um século, apenas 15 mulheres receberam a honraria. Além disso, nove dessas escritoras foram premiadas ao longo dos últimos 30 anos, o que indica um lento avanço na equiparação. Entre os homens autores, vários deles são conhecidos no Brasil, como Thomas Mann, William Faulkner e Albert Camus. Mas, quanto às autoras, muitas ainda não obtiveram o devido reconhecimento. Para os que desejam conhecer um pouco mais sobre elas, a Bula elaborou um resumo sobre a vida e a obra dessas 14 mulheres.
Na nona edição do Nobel de Literatura, pela primeira vez uma mulher foi laureada: Selma Lagerlöf, uma das escritoras suecas mais lidas no mundo. Ela nasceu na província de Varmlândia, na Suécia, e cresceu na fazenda de Marbacka, local que hoje é aberto a visitantes. Na juventude, formou-se professora e passou a lecionar História na cidade de Landskrona. Era feminista e publicou seus primeiros versos, em 1885, numa revista que apoiava a causa. Em 1891, estreou como romancista com “A Saga de Gösta Berling”. Com o sucesso, continuou publicando até receber a proposta de escrever “A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson Através da Suécia” (1907), sua obra mais popular. Além do Nobel, foi a primeira mulher a ser admitida da Academia Sueca de Letras.
Grazia Deledda foi a segunda mulher e a única italiana a ganhar o Nobel de Literatura. Ela nasceu na aldeia de Nuoro, na região da Sardenha, em 1871. Grazia frequentou a escola por apenas quatro anos, o que, na época, foi considerado suficiente para uma garota, mas também recebeu aulas particulares de italiano. Sua professora a ajudou a enviar um de seus textos para um jornal e, aos 13 anos, Grazia teve a primeira história publicada. Ainda em 1900 publicou o primeiro romance, “Nell’azzurro”. “Caniços ao Vento” (1913), “Marianna Sirca” (1915) e “Cosica” (1937) são alguns dos livros mais conhecidos da autora, que publicou 32 romances e 250 contos ao longo da vida. Grazia Deledda morreu em 1936, em Roma.
A dinamarquesa Sigrid foi a segunda mulher a ganhar o Nobel de Literatura, em 1928. Ela nasceu em 1882, em Kalundorg, mas se mudou para a Noruega ainda na infância. Foi com o pai, que tinha grande conhecimento sobre história, que Sigrid aprendeu os segredos da arqueologia e as sagas nórdicas. Começou a publicar livros aos 22 anos, enquanto trabalhava como secretária. Sua obra mais famosa foi “Kristin Lavransdatter”, uma trilogia medieval que se passa na Escandinávia. Segundo a Academia, Sigrid ganhou o Nobel “principalmente pelas suas fortes descrições da vida nórdica durante a Idade Média”. Ela morreu em 1949, com insuficiência respiratória.
Pearl S. Buck nasceu em 1892, em Hillsboro, nos Estados Unidos. Filha de missionários presbiterianos, foi levada ainda criança para a China, onde foi criada. Estudou psicologia na juventude e tornou-se mestre em Literatura, nos EUA. Depois da década de 1930, não voltou mais à China, mas o país influenciou fortemente suas obras e sua visão de mundo. De acordo com a Academia, Pearl fazia “ricas e verdadeiras descrições épicas da vida dos camponeses chineses”. Ela escreveu mais de 110 livros, dos quais “Vento Leste, Vento Oeste” (1930) e “A Boa Terra” (1931) são os mais conhecidos. Com esse último, também ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção em 1932. Pearl morreu em 1973, aos 80 anos.
Gabriela Mistral, pseudônimo da chilena Lucila de María del Perpetuo Socorro, nasceu em 1889, em Vicuña. A escolha do nome foi uma homenagem aos seus poetas prediletos: Gabriele D’Annunzio e Frédéric Mistral. Trabalhando como professora, tornou-se conhecida ao vencer os Juegos Florales de Santiago, uma competição de literatura, com o livro “Sonetos de La Muerte”. Após o reconhecimento, ocupou vários cargos diplomáticos na América Latina. Morava no Brasil, em 1945, quando soube da sua vitória no Nobel de Literatura. Foi amiga de muitos escritores brasileiros, chegando a lançar um livro com Cecília Meireles. “Desolacion” (1922) e “Tala” (1938) são algumas de suas obras mais conhecidas. Ela morreu em 1957, em Nova York.
Passaram-se 21 anos até que uma mulher ganhasse novamente o Prêmio Nobel de Literatura. A vencedora de 1966 foi Nelly Sachs, escritora alemã de raízes judias. Ela nasceu em Berlim, em 1891, e começou a escrever poesias aos 17 anos. Com o surgimento do nazismo, decidiu se aprofundar na literatura judaica e suas obras refletem os anseios e dores de seu povo. Em 1939, com o auxílio da escritora Selma Laferlöf, fugiu para a Suécia com sua mãe. Os demais familiares e o noivo de Nelly foram mortos em campos de extermínio. Entre as obras mais cultuadas da escritora, estão “O Die Schornsteine” (1947) e “Eli” (1951). Ela ganhou o Nobel juntamente com Shmuel Yosef Agnon, outro autor judeu. Nelly Sachs morreu em 1970, em Estocolmo.
A sul-africana Nadine Gordimer nasceu em 1923, em Joanesburgo. Escreveu seu primeiro conto, “Come Again Tomorrow”, aos 9 anos de idade. Estudou na Universidade de Witwatersrand, mas abandonou o curso para dedicar-se inteiramente à escrita. Seu livro de estreia, a coletânea de contos “Face to Face” (1949), já revelaria sua principal temática na literatura: a preocupação quanto à segregação racial na África do Sul. O primeiro romance, “The Lying Days”, foi publicado em 1953. “O Conservador” (1974) e “July’s People” (1981) são alguns dos mais populares. Uma das principais vozes contra o apartheid, Nadine Gordimer morreu em 2014, aos 90 anos, vítima de câncer.
Toni Morrison nasceu em 1931, em Lorain, nos Estados Unidos. Apesar das dificuldades financeiras de sua família, era uma leitora ávida na infância. Em 1953, formou-se em Inglês na Universidade Howard, onde também foi professora. Nos anos 1960, tornou-se editora, ajudando a propagar a literatura de escritores negros pelo país. Seu primeiro livro, “O Olho Mais Azul”, foi lançado em 1970, seguido por “Sula” (1973) e “Song of Solomon” (1977), com o qual alcançou reconhecimento internacional. “Amada” (1987) é o seu romance mais famoso ainda hoje. Segundo a academia do Nobel de Literatura, os livros de Morrison são caracterizados por “força visionária e lastro poético”. Ela morreu em 2019, devido a complicações de uma pneumonia.
Conhecida como “o Mozart da Poesia”, Wislawa Szymborska foi uma poeta, crítica literária e tradutora polonesa. Nasceu em 1923, em Kórnik, e começou a escrever ainda na infância. Estudou Filologia Polaca e Sociologia na Universidade Jaguelônica, mas não terminou os cursos devido a dificuldades financeiras. Publicou seus poemas em jornais da Cracóvia e tentou lançar a primeira coletânea em 1949, mas foi censurada pelo governo do país. Três anos depois, estreou com “Por Isso, Vivemos”. “Calling out to Yeti” (1957) e ‘View With a Grain of Sand” (1998) são algumas de suas principais obras. Quando ganhou o Nobel de Literatura, em 1996, era pouco conhecida fora da Polônia. Hoje, suas obras já foram traduzidas para 36 idiomas. Szymborska morreu em 2012, na Cracóvia.
A austríaca Elfriede Jelinek nasceu em 1943, em Mürzzuschlag. Pressionada pela mãe, que desejava que Elfriede se tornasse um gênio da música, entrou em uma grave crise psicológica na juventude. Rebelou-se e encontrou o próprio caminho na literatura, publicando seus primeiros textos e poemas no final da década de 1960. Ativista política e feminista, tem sua obra marcada pela forte crítica social à violência e opressão feminina, ao consumo e à corrupção pelo poder. “A Pianista” (1985), “As Amantes” (1975) e “Lust” (1989) são alguns de seus livros mais conhecidos. Segundo a academia, Jelinek venceu o Nobel da Literatura “pelo seu fluxo musical de vozes e contra-vozes que, com extraordinário zelo linguístico, revelam os absurdos da sociedade”.
Filha de britânicos, Doris Lessing nasceu em 1919, em Kermanshah, no Irã, onde seu pai administrava um banco. Estudou em um convento dominicano, mas abandonou os estudos por desavenças com as freiras, tornando-se autodidata a partir de então. Anos depois, mudou-se para a Inglaterra, para trabalhar como telefonista, e juntou-se ao Left Book Club, círculo de leitores com inspiração comunista. Seu primeiro livro, “A Canção da Relva”, foi publicado em 1950. A obra mais famosa, que a lançou como uma escritora reconhecida internacionalmente, foi “O Carnê Dourado” (1962). Recebeu o Nobel da Literatura aos 87 anos, tornando-se a pessoa mais idosa a ganhar o prêmio. Ela morreu em 2013, em Londres.
Herta Müller nasceu em 1953, na comuna romena de Niţchidorf. Seu pai foi membro da SS, organização militar do regime nazista, e sua mãe foi deportada para a Rússia, onde passou cinco anos em campos de trabalho forçado. Herta estudou Alemão e Literatura Romena e trabalhava como tradutora numa fábrica, mas foi despedida e perseguida por não colaborar com a polícia secreta. Seus primeiros livros foram censurados pelo regime do ditador Nicolae Ceausescu, mas aclamados em outros países. “Tudo o que Tenho Levo Comigo” (2009) e “A Terra das Ameixas Verdes” (1994) são alguns dos mais conhecidos. Os romances de Herta se destacam pelos relatos acerca das precárias condições de vida na Romênia sob a ditadura.
Classificada pela Academia como a “mestra do conto contemporâneo”, Alice Munro nasceu em 1931, em Wingham, no Canadá. Estudou na Universidade de Ontário Ocidental, onde também atuou como escritora-residente na década de 1970. Seus contos são marcados por personagens familiares que habitam os arredores de Ontário, em situações habituais, mas com desfechos emocionantes. “Vidas de Raparigas e Mulheres” (1971), “O Amor de Uma Boa Mulher” (1998) e “Felicidade Demais” (2009) são alguns dos livros mais aclamados de Alice Munro. Segundo o crítico Robert Thacker, Munro “coloca o fantástico ao lado do mundano, evocando a vida de uma maneira simples e sem esforço”.
Svetlana Alexijevich nasceu em 1948, em Stanislav, na Ucrânia, e cresceu na Bielorrússia. Formada em jornalismo pela Universidade de Minsk, trabalhou em vários jornais locais e como correspondente na revista literária “Neman”. Uma das autoras mais reconhecidas a escrever sobre a URSS, seu trabalho se baseia na história de homens e mulheres, soviéticos e pós-soviéticos, a quem entrevistou durante momentos dramáticos na história de seu país, como a Segunda Guerra Mundial e o desastre de Chernobyl. Foi perseguida pelo governo e abandonou o país, retornando a Minsk apenas em 2011. “A Guerra Não tem Rosto de Mulher” (1986) e “Vozes de Chernobyl” (1997) são algumas das obras mais aclamadas de Svetlana Alexijevich.
A polonesa Olga Tokarczuk nasceu em Suléchow, em 1962. Formada em Psicologia, trabalhou como terapeuta antes de se dedicar à literatura. Seu primeiro livro “Miasta W Lustraché” foi uma coletânea de poemas, lançada em 1989. Alguns anos depois, começou a publicar romances, com os quais conseguiu reconhecimento na Polônia. Recebeu por duas vezes o mais importante prêmio literário de seu país, Nike; e em 2018, além do Nobel de Literatura, foi vencedora do Man Booker Prize. Até então, era pouco conhecida fora da Europa, mas atualmente seus livros têm sido traduzidos para vários idiomas, inclusive português. “Flights” (2007) e “Sobre os Ossos dos Mortos” (2009) estão entre os mais conhecidos.