Em séculos passados, as mulheres não podiam se envolver em atividades intelectuais, então as que escreviam deviam publicar seus escritos sob pseudônimos ambíguos. Essa hegemonia masculina nas letras deixou marcas históricas: ao longo dos 118 anos de existência do Prêmio Nobel, por exemplo, apenas 13 escritoras foram vencedoras; situação que se repete na maioria das premiações. Para os que desejam diminuir essa desigualdade e ler mais obras escritas por mulheres, a Bula reuniu em uma lista dez livros fundamentais. A seleção abrange autoras de diferentes épocas, nacionalidades e estilos literários. Dentre os livros, que foram selecionados pelos editores da Bula, estão “A Canção De Solomon” (1977), de Toni Morrison; e “Um Casamento Americano” (2018), de Tayari Jones. As sinopses foram adaptadas das originais, divulgadas pelas editoras, e os títulos estão organizados em ordem cronológica: do mais antigo ao mais recente.
O livro é centrado em Ramsay — uma mulher madura, bela, maternal e serena —, e seu marido, o sr. Ramsay — um renomado e árido filósofo, que são pais de oito filhos. Dividido em dois períodos — antes e depois da Primeira Guerra Mundial —, o livro marca a estrutura de classe inglesa e a radical ruptura com o vitorianismo depois da guerra. A história se inicia em 1910, quando os Ramsay hospedam alguns amigos em sua casa de verão. Eles planejam visitar o farol, mas o sr. Ramsay não concorda, alegando que o clima não está favorável. Esse incidente provoca tensão entre a família e os visitantes. Anos depois, após acontecimentos traumáticos, o sr. Ramsey volta à casa de verão com dois de seus filhos para, enfim, concretizar o plano de conhecer o farol.
O livro segue a vida de Macon “Milkman” Dead III, um homem afro-americano que vive em uma cidade não identificada do Michigan, desde o nascimento até a idade adulta. Na infância, cresce alimentado pelo amor de sua mãe e de sua tia, e cuidado pelas irmãs, I Coríntios e Madalena. Mas, apesar de privilegiado, falta a Milkman compaixão. Nesse sentido, ele se parece com o pai, Macon Dead II, um proprietário de terras implacável, que busca apenas o acúmulo de riqueza. Milkman sofre de uma doença genética emocional, que tem origem nas opressões que seus antepassados sofreram. Entediado com a própria vida, ele resolve partir para o sul, em busca de ouro. Mas, acaba descobrindo detalhes valiosos sobre a história de sua família.
Macabéa é uma jovem nordestina recém-chegada ao Rio de Janeiro. Feia, magra, e sem entender o que se passa à sua volta, é maltratada pelo namorado Olímpico de Jesus e pela colega Glória. Os dois são o seu oposto: o namorado sonha alto, e Glória, carioca da gema e gorda, tem uma boa família. Olímpico e Glória acabam juntos, enquanto Macabéa, sozinha, continua a viver sem motivos. Além disso, ela descobre em uma consulta médica que está com uma grave doença. Mas, uma visita à cartomante muda os rumos da vida de Macabéa. Madame Cartola prevê um futuro feliz para a jovem, dizendo que ela conhecerá um belo estrangeiro, com quem se casará.
“A Cor Púrpura” retrata a dura vida de Celie, uma mulher negra do sul dos Estados Unidos. Sendo a mais velha de vários irmãos, ela sofre constantes abusos sexuais do pai, de quem acaba engravidando por duas vezes. Os bebês são doados a outras famílias sem o seu consentimento. Após a morte da mãe, Celie é entregue para Albert, um fazendeiro da região que a maltrata cruelmente. Resignada à sua triste realidade, Celie se concentra apenas em trabalhar na roça e cuidar dos filhos que Albert teve no primeiro casamento. Mas, sua vida muda ao conhecer a inesquecível Shug Avery, a amante de Albert, que se torna uma grande amiga. A história é contada por meio das cartas que Celie escreve para a irmã, Nettie, mas que nunca são entregues.
A história se passa em Gileade, um Estado teocrático e totalitário, localizado onde um dia existiu os Estados Unidos. Esse novo governo foi criado por um grupo fundamentalista autointitulado “Filhos de Jacó”, com o objetivo de “restaurar a ordem”. Anuladas por uma opressão sem precedentes, as mulheres não têm direitos e são divididas em categorias: esposas, marthas, salvadoras e aias. As aias pertencem ao governo e existem unicamente para procriar. Entre elas, está June, nomeada Offred, que é afastada de sua família para servir a um comandante. Apesar de ser designada para dar um filho ao seu chefe, Offred se envolve amorosamente com Nick, o motorista da família, e compartilha segredos de seu passado com ele.
Quatro mulheres chinesas emigram para os EUA na década de 1940 e recomeçam suas vidas em São Francisco. Para não sepultar completamente os mitos e tradições que deixaram para trás e poder entender melhor suas filhas, que aderiram totalmente o estilo de vida ocidental, elas se reúnem semanalmente em torno de uma mesa de mahjong (um jogo chinês), criando “o clube da felicidade e da sorte”. Ao incorporar a mística chinesa à modernidade americana, Amy Tan constrói, em seu livro de estreia, um romance que expõe não só as dúvidas e inseguranças típicas de qualquer imigrante, mas a universalidade dos conflitos que são inerentes à relação entre mães e filhas.
O livro narra a história dos gêmeos Rahel e Estha, que, na Índia de 1969, crescem entre os caldeirões de geleia de banana e as pilhas de grãos de pimenta da fábrica da avó cega. Armados da inocência invencível das crianças, os dois tentam inventar uma infância diferente da que vivenciam. Apesar de pertencerem a uma casta superior, os membros da família carregam vários dramas e traumas. Ammu, a mãe dos gêmeos, cuida deles sozinha; o tio Chacko estudou no exterior, mas não obteve sucesso na carreira; e a avó Mammachi sofreu nas mãos do marido violento. Ammu se apaixona por um homem de casta inferior, que não pode ao menos ser tocado, e seu ato de rebeldia muda para sempre o destino de seus filhos.
O romance narra a história de dois amigos que se conheceram durante a Segunda Guerra Mundial — o inglês branco Archie Jones e o bengali Samad Iqbal. O final da guerra os separa, mas eles se reencontram em Londres 30 anos depois, onde moram com suas respectivas mulheres e filhos. Archie vive com Clara, uma jamaicana, e é pai de Irie Jones. Samad, que imigrou para a Inglaterra há poucos anos, é casado com a miúda e feroz Alsana e pai dos gêmeos Millat e Magid. Em comum, os dois têm a dificuldade em lidar com os filhos, que adentram a idade adulta nos conturbados anos 1990. Archie e Samad não encontram uma forma de lidar com a nova geração, enquanto seus filhos não sabem o que fazer com a própria vida.
Dois estranhos se encontram num verão escaldante no Rio de Janeiro. Ela é uma designer em busca de emprego, ele foi contratado para informatizar uma editora moribunda. O acaso junta os protagonistas numa sala, onde
ele relata a ela seus encontros frequentes com prostitutas em suas viagens a trabalho. Ela mais ouve do que fala, enquanto preenche na cabeça as lacunas daquela narrativa e desmonta os argumentos de João. Desses encontros, Elvira Vigna cria um poderoso jogo literário de traições e insinuações, um livro sobre relacionamentos, poder e mentiras. Elvira foi uma das maiores escritoras contemporâneas do Brasil, publicou dez romances, muitos deles premiados; e vários contos. Ela morreu em julho de 2017, vítima de câncer.
Os recém-casados Celestial e Roy são a personificação do sonho americano e do empoderamento negro. Mas, um dia os dois são separados por circunstâncias imprevisíveis: Roy é condenado a 12 anos de prisão por um crime que Celestial sabe que ele não cometeu. Mesmo impetuosa e independente, Celestial é dominada pelo desamparo e busca conforto em Andre, um amigo de infância. Além disso, ela tem o apoio da família para avançar com sua empresa. Aos poucos, a relação de Roy e Celestial se esfria e as correspondências entre os dois se tornam cada vez mais escassas. Mas, quando a condenação de Roy é anulada repentinamente, ele sai da prisão pronto para retomar a vida com Celestial.