Pode chegar… Me dê a sua mão. Entrelace os seus dedos nos meus, me segure com firmeza e suavidade, desse jeito que eu sei que você sabe. Enrosque os braços na minha cintura e olhe bem pra cá, na minha imensidão verde-oliva. Não tire os seus olhos dos meus, eu te peço, mesmo sem nada pronunciar e tudo dizer. Se porventura sentir medo da maré que vem de mim, não se apequene, agarre-se aos meus cabelos, orelhas, ombros, o que você encontrar pela frente. Escute somente as minhas risadas férvidas e meus apelos de que você venha comigo.
Venha sem medo, Amor, sem pensar demais, sem olhar para trás nem espiar lá na frente. Caminhe como criança que dá os primeiros passos, cambaleando e escorando nos móveis para evitar a queda, mas com a ansiedade imensa da chegada! Essa sua cautela me aflige a alma… Mas, eu sei, coração ferido é assim mesmo: observa, estuda, manja.
Confie em mim porque eu quero o seu bem, porque te quero como ninguém jamais te quis. Pode vir, Amor, porque eu tenho um bom coração. Que não anda lá essas coisas, nem bonito nem bem cuidado, mas te asseguro que a terra é boa, que só carece de você e suas mudas para se tornar um lindo jardim. Acredite, meus sentimentos são puros, mesmo quando me deixo povoar por pensamentos lascivos.
Tenho ideias sem pé nem cabeça de te raptar só pra mim, de criar um mundo só meu e seu, longe dessa gente mesquinha e ranzinza. Vamos fugir! Eu, você, uma mochila cheia de coragem, cumplicidade, todas as nossas crenças e valores e muito, muito amor! Com o nosso otimismo e boa fé deixaremos um rastro de esperança e ousadia aos corações indecisos. Caminharemos pelo acostamento das estradas, debaixo do sol e da chuva, como dois adolescentes fugidos de casa. Andaremos de trem até uma praia deserta, para fazer fogueira em noite de lua cheia e dormir contemplando as estrelas. Seremos rei e rainha na nossa selva particular, feito leão e leoa, cavalos e borboletas, dois bichos livres da maldade, celebrando a vida longe dos estraga-prazeres e mastigadores de sonhos.
Eu tenho fé, tenho sim, que você vai chegar e tocar a campainha quando eu menos esperar. E não importa se for noite ou dia, chuva ou sol, arco-íris ou ventania. Eu só quero que você chegue, Amor. Pra mim. Às vezes me desanimo e me canso de esperar por você… Vejo casais felizes pela rua, aos beijos e abraços com aqueles olhares perdidos e achados um no outro, sabe? E me bate uma saudade danada daquilo que já tive faz tanto tempo, que nem me lembro; e do que nunca tive, mas quero ter só contigo. Cansei da minha solidão acompanhada, de estar cercada de gente e só querer a sua companhia. Sonhei até que você me dizia que procurou por mim por toda uma vida, e que um dia ainda se casaria comigo. Mas não sou boa com futuro… Nem futuro, nem títulos, nem ciências. Eu quero é tudo pra hoje, tenho pressa de ser feliz e andar por aí esbanjando uma alegria pegajosa, assim como a daqueles casais.
Enquanto isso eu me seguro nas minhas reticências… Me conforta essa sensação de continuidade, de que não chegou o fim e que tudo — claro que sim — é possível! Elas me dão apetite para acreditar e a esperança de que, um dia, você vai chegar e me abraçar tão forte, Amor, para nunca mais partir. Ponto final eu não quero para nós dois…
Sabe o que eu farei? Vou escrever uma carta e entregar ao Papai Noel! Porque já é dezembro e ele anda dando sopa por aí! Nesse clima de Natal, onde a magia paira no ar e os sonhos se prometem realizar, quem sabe, se eu for uma boa menina, o bom velhinho traz você pra mim?
Desejo que o amor chegue para todos nós, abrindo a porta dos corações mais solitários e desiludidos, aos mais auspiciosos e sonhadores. Que venha disfarçado de Luís, embrulhado de Maria, em caixa de Pedro, papel de João, embalagem de Ana! Que o seu amor chegue, entre, se sente e se acomode, e que junto dele o Natal dure para sempre!