Em 1994, Mike Emme, um jovem norte-americano, tirou a própria vida em seu Mustang 1968 amarelo. Em seu funeral, amigos e familiares distribuíram fitas amarelas e mensagens de apoio para consolar pessoas que estivessem passando pelo mesmo desespero de Mike. A mensagem se espalhou mundo afora e, no Brasil, a cor do carro de Mike deu nome à campanha de prevenção ao suicídio: Setembro Amarelo. Em apoio ao movimento de conscientização sobre transtornos mentais, a Bula reuniu em uma lista 13 livros ficcionais que falam sobre depressão e suicídio, das obras clássicas às recentes. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais antigo para o mais recente. As sinopses foram adaptadas das originais, divulgadas pelas editoras. Os livros indicados são apenas para reflexão, caso precise de ajuda, procure auxílio médico e entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188.

“Os sofrimentos do Jovem Werther” é definido como um marco na literatura alemã e mundial. Escrito em 1774, foi uma das obras que mais influenciaram os jovens do período. Werther é uma figura da alta aristocracia romana que guarda uma paixão profunda e tempestuosa por Charlotte von Stein. Por meio de cartas que regularmente escreve ao amigo Wilhelm, ele narra de forma confessional e intimista o amor que nutre por Charlotte, mas conta que não pode tê-la, pois a moça já está prometida em casamento a outro homem, Albert. A convivência próxima de Werther com o casal não é capaz de reprimir seus sentimentos, mas parece potencializá-los. Quanto à Charlotte, suas atitudes são ambíguas: não se sabe se ela ama Werther ou apenas gosta de se sentir desejada.

Considerado uma das maiores obras literárias do século 20, “Mrs. Dalloway” é um misto de romance psicológico com ensaio filosófico e narra um único dia da vida da famosa protagonista Clarissa Dalloway, que percorre as ruas da Londres dos anos 1920 cuidando dos preparativos para a festa que realizará no mesmo dia, à noite. O bom clima lembra-a de sua juventude vivida no campo e faz com que ela se questione sobre as escolhas que tomou ao longo da vida, como casar-se com o exigente Peter Walsh.
Pioneiro na exploração do inconsciente humano por meio do fluxo de consciência, o livro se consagrou tanto pelo experimentalismo linguístico quanto pelo retrato preciso das transformações da Inglaterra no período entre as guerras.

Este romance de fôlego, publicado em 1962, tem como pano de fundo os clubes de jazz de Greenwich Village, em Nova York, na década de 1950. Rufus, um baterista negro em decadência, se envolve com Leona, uma mulher branca nascida no sul dos Estados Unidos. Os dois se apaixonam e iniciam uma relação conturbada e violenta, que acaba afastando-os dos amigos. Além de Rufus e Leona, o livro também conta a história de outras pessoas ligadas a eles: a garçonete negra Ida, o aspirante a escritor Vivaldo, o casal Richard e Cass, e o ator Eric. Dos complexos relacionamentos retratados, desdobram-se conflitos que envolvem temas como raça, nacionalismo, identidade, depressão e bissexualidade.

Dos subúrbios de Boston para uma prestigiosa universidade para mulheres. Do campus para um estágio em Nova York. O mundo parece estar se abrindo para Esther Greenwood, que agora trabalha na redação de uma revista feminina e possui uma intensa vida social. Mas, um verão aparentemente promissor é o gatilho da crise que leva a jovem do glamour a uma clínica psiquiátrica. Único romance da poeta Sylvia Plath, “A Redoma de Vidro” é repleto de referências autobiográficas. A narrativa é inspirada nos acontecimentos de 1952, quando Plath tentou o suicídio e foi internada. Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante exemplar que sofreu uma grave depressão.

Em “O Mal Obscuro”, o protagonista, um escritor e roteirista de cinema, revela as diferentes fases de sua vida, desde a difícil relação com o pai na infância ao surgimento da depressão. A doença o persegue por dez anos, fazendo com que ele busque constantemente por médicos diferentes, até encontrar um psicanalista capaz de ajudá-lo. Ele, que sempre buscou reconhecimento, precisa despir-se de sua vaidade para mergulhar no âmago de sua existência e descobrir a origem de sua depressão. Simultaneamente um romance e a história de um tratamento psicanalítico, “O Mal Obscuro” conquistou dois dos mais importantes prêmios literários italianos — Viareggio e Campiello —, colocando o nome de Giuseppe Berto ao lado dos grandes escritores do século 20.

Ambientado em meio à turbulência política da virada dos anos 1960 para os anos 1970, em Tóquio, “Norwegian Wood” narra a iniciação amorosa do jovem estudante de teatro Toru Watanabe. Solitário, ele mora num alojamento estudantil para homens e dedica seu tempo a identificar e refletir sobre as peculiaridades dos colegas. Um dia, Toru reencontra Naoko, uma velha conhecida que era namorada de Kizuki, um amigo que tirou a própria vida. Marcados por essa tragédia em comum, os dois se aproximam e se apaixonam. Mas, a fragilidade psicológica de Naoko se torna cada vez mais visível, até culminar com sua internação em um hospital psiquiátrico. Agora, Toru enfrenta um dilema: esperar a recuperação de Naoko ou relacionar-se com outras mulheres.

Num típico subúrbio dos Estados Unidos, durante os anos 1970, cinco irmãs adolescentes cometem suicídio em sequência e sem motivo plausível. Em plena época de revolução sexual, a tragédia acontece no seio da família Lisbon, que vive sob severas restrições morais e religiosas. A história é narrada por um grupo de amigos da vizinhança que, anos após o ocorrido, tentam encontrar uma explicação para o surto das irmãs. Eles pouco sabem sobre as garotas, mas fantasiam sobre os boatos que ouviam e as lembranças que guardaram delas ao longo do tempo. “As Virgens Suicidas” foi o livro de estreia de Jeffrey Eugenides e logo se tornou um cult da literatura norte-americana contemporânea.

Ganhador do prêmio Pulitzer de 1999, “As Horas” narra, em capítulos alternados, o dia de três mulheres: uma real e duas fictícias. A personagem real é a escritora Virginia Woolf que, em 1923, esforça-se para manter sob controle os sintomas de sua depressão para redigir “Mrs Dalloway”. Anos depois, Laura, uma dona de casa no subúrbio de Los Angeles, busca, em vão, ajustar-se ao triplo papel de mãe, esposa e dona de casa. Ao lado do filho Ritchie, ela faz um bolo de aniversário para o marido Dan, mas no fundo deseja solidão para ler um livro de Virginia Woolf. Por fim, há Clarissa, uma ex-hippie ainda atraente, casada e dona de uma produtora de TV. Ela está comprando flores para a festa que organiza em homenagem a Richard, amigo gay e soropositivo que acaba de ganhar um prêmio literário.

Quatro personagens sem nada em comum, a não ser a vontade de botar um ponto final em suas vidas, se encontram no alto de um prédio em Londres, na noite de Réveillon. Tomados por um impulso solidário, os dois homens e as duas mulheres acabam adiando a decisão de morrer e formam um peculiar grupo de apoio à vida. Mas, o pacto de sobrevivência é descoberto pela imprensa local, que acredita na história pouco convincente de que, naquela noite, os amigos receberam a visita de um anjo que lhes convenceu a não pular. O que o público não sabe é que a versão fantasiosa foi inventada pelos quatro, que têm como objetivo apenas tornar a vida mais divertida até o Dia dos Namorados — outra data triste para os depressivos.

O livro apresenta os moradores de um luxuoso prédio de Paris, pela perspectiva de duas mulheres: Renée, a zeladora, e Paloma, uma garota de 12 anos. Renée corresponde à imagem que as pessoas têm de uma empregada, pois aparenta ser mal-humorada e ignorante. Mas, na verdade, é uma observadora ácida e refinada, apaixonada por literatura e artes. Já Paloma, filha de um político influente e de uma socialite, está em busca de algum sentido para sua vida. Caso não descubra, irá tirar a própria vida no dia de seu aniversário de 13 anos. Enquanto a data não chega, mantém duas séries de anotações pessoais e filosóficas: os Pensamentos profundos e o Diário do movimento do mundo, crônicas de suas experiências íntimas e da vida no prédio.

O livro narra um dia decisivo na vida de William Heller, jovem de 16 anos que sofre de esquizofrenia. Acometido de um delírio, ele foge da clínica psiquiátrica onde está internado e vaga sozinho pelo sistema de metrô de Nova York. Entre os túneis subterrâneos, pelos quais tem fixação, William se move como um minotauro num labirinto povoado de mendigos, imigrantes e trens fantasmas. Sem que ele possa imaginar, sua mãe superprotetora contrata um policial especializado em casos de resolução difícil e ambos saem à sua procura. Opondo a imagem da cidade frenética e iluminada da superfície à descrição dos subterrâneos opressores por onde se movimenta o personagem, o livro apresenta uma metáfora da mente não medicada de William.

Na véspera de seu aniversário de 15, a jovem Geneviève tira a própria vida na piscina da escola. Ela era uma garota talentosa, hábil nas palavras, nas artes e nos esportes. Todos a viam como um exemplo, por isso sua morte é uma surpresa. A irmã gêmea de Geneviève, Lou-Anne, tenta então sobreviver ao drama, lidando com a mãe devastada pela dor, o pai que parece indiferente à tragédia e a avó que se refugia por detrás da raiva. A história de Geneviève é narrada pela perspectiva de diferentes personagens. “Depois do Azul” foi inspirado na experiência da autora, Élaine Turgeon, com a depressão na adolescência. A obra foi publicada em parceria com o Centro de Valorização da Vida — CVV.

“Hoje, meu filho Pedro pulou da janela do seu apartamento.” Assim começa o romance de Javier A. Contreras, um relato sobre o suicídio e a angústia dos que permanecem. Ao contar a história dos sete dias que se seguem à morte de Pedro, o autor embarca em uma narrativa que aborda temas como a relação pai-filho, o caos do mundo moderno e as expectativas que nutrimos e frustramos no decorrer da vida. Com ritmo fluido, os sentimentos de Ruy, pai de Pedro, são trazidos à superfície em um misto de raiva e desolação. Ao perder o único filho, Ruy reavalia não só sua relação com a paternidade, mas com todo o mundo a sua volta. Javier Arancibia Contreras nasceu em 1976. Ex-repórter policial, lançou seu primeiro trabalho literário, “Imóbile”, em 2008.