Sim, eu também sou grato para sempre a Roberto Gómez Bolaños. Não por nada, não. É por tudo mesmo. Ter sido criança nos anos 80 do século passado tem quase tudo a ver com esse homem e sua arte.
Minha família tinha acabado de trocar Araraquara por um dos últimos bairros da zona leste de São Paulo. Naquele lugar hoje tão distante mas tão perto do meu coração, um canto do mundo onde saltei da infância à adolescência na companhia de um povo valioso que fazia tanto a partir de tão pouco, a gente assistia ao Chaves na hora do almoço, na antiga TVS, mastigando salsicha com arroz no caldo knorr e salada de batata, e a vida parece que dava um desconto, sabe? Ficava mais fácil.
De repente, nos dávamos conta de que aquela manha do menino sem pai, aquele apetite de quem não come porque não tem o quê, aquela alegria triste e aquela esperança tinham uma dignidade que também era muito nossa!
Eu, que fui e sou e vou ser sempre o filho do pintor e da empregada, me via representado ali com um orgulho doce e honesto. Descobri que “ser pobre” tem um monte de outros significados para além do dinheiro. E que não ter dinheiro não é vergonha nenhuma se você trabalha e se vira e acredita na vida e vai buscar.
Topei com essa mesma lição tantas vezes depois, em tantas situações, e a cada uma delas eu tinha uma vontade colossal de gritar “OPA! EU JÁ VI ISSO NO CHAVES!”. Assim, sem mais o quê.
A verdade é que o Chaves me representa! Hoje decerto cada um de nós terá um jeito de lembrá-lo. Esse é o meu. Tinha de ser o Chaves! Obrigado, Chavinho. Vai com Deus, menino do oito.