A Revista Bula realizou uma enquete para descobrir quais são, segundo os leitores, os livros brasileiros que todos deveriam ler pelo menos uma vez na vida. A consulta foi feita a colaboradores, assinantes — a partir da newsletter —, e seguidores da página da revista no Facebook e no Twitter. 1400 participantes responderam à enquete. Os 30 mais votados foram reunidos com suas respectivas sinopses, que foram adaptadas das originais, divulgadas pelas editoras. Dentre eles, estão alguns clássicos como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), de Machado de Assis e “Vidas Secas” (1938), de Graciliano Ramos; mas os leitores também mencionaram várias obras contemporâneas, como “Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas” (2016), de Elvira Vigna, e “Nunca Houve um Castelo” (2018), de Martha Batalha. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais recente para o mais antigo.
Martha Batalha recria a trajetória dos descendentes de Johan Edward Jansson, cônsul da Suécia no Brasil. Para contar essa história, a autora relata duas festas de Ano Novo que foram marcantes para a família. Na primeira, no fim do século 19, Johan Edward Jansson conhece Brigitta, em Estocolmo. Eles se casam, mudam para o Rio de Janeiro e constroem uma casa num lugar ermo e distante do centro, chamado Ipanema. Setenta anos depois, Estela, recém-casada com o neto de Johan, presencia uma cena desastrosa para seu casamento em uma festa de Réveillon. “Nunca Houve um Castelo” explora como esses dois eventos definiram a trajetória dos Jansson ao longo de 110 anos. É uma comovente saga familiar sobre escolhas, arrependimentos e as mudanças imperceptíveis do tempo.
Dois estranhos se encontram num verão escaldante no Rio de Janeiro. Ela é uma designer em busca de emprego, ele foi contratado para informatizar uma editora moribunda. O acaso junta os protagonistas numa sala, onde
ele relata a ela seus encontros frequentes com prostitutas em suas viagens a trabalho. Ela mais ouve do que fala, enquanto preenche na cabeça as lacunas daquela narrativa e desmonta os argumentos de João. Desses encontros, Elvira Vigna cria um poderoso jogo literário de traições e insinuações, um livro sobre relacionamentos, poder e mentiras. Elvira foi uma das maiores escritoras contemporâneas do Brasil, publicou dez romances, muitos deles premiados; e vários contos. Ela morreu em julho de 2017, vítima de câncer.
Alice é uma professora aposentada, que tinha uma vida pacata em João Pessoa, até ser obrigada pela filha a abandonar tudo e se mudar para Porto Alegre. Ao chegar na cidade, recebe a notícia de que a filha e o genro irão passar seis meses na Europa. Sozinha em uma cidade desconhecida, Alice se revolta por ter deixado João Pessoa e passa a registrar seus sentimentos em um diário. Ao saber que Cícero Araújo, filho de uma amiga paraibana, desapareceu perto em Porto Alegre, Alice começa a procurá-lo pelas ruas da cidade. Por 40 dias, ela vagueia só, em uma busca frenética que pode levá-la a insanidade. “Quarenta Dias” foi o vencedor do Prêmio Jabuti de Romance, em 2015. Autora de cinco romances, Maria Valéria Rezende é uma das mais aclamadas escritoras brasileiras da atualidade.
Em “O Drible”, Sérgio Rodrigues conta um drama entre pai e filho, recupera episódios sombrios da história recente do país e faz uma celebração do futebol rara na literatura. Desenganado pelos médicos, Murilo Filho, um cronista esportivo de 80 anos, tenta se reaproximar do filho, Neto, com quem brigou há um quarto de século. Toda semana, em pescarias dominicais, Murilo preenche com saborosas histórias dos craques do passado o abismo que o separa de seu filho. Revisor de livros de autoajuda, Neto leva uma vida medíocre colecionando quinquilharias dos anos 1970 e conquistando moças. Desde os 5 anos, quando a mãe se suicidou, sente-se desprezado pelo pai.
Um professor de educação física busca refúgio em Garopaba, um pequeno balneário de Santa Catarina, após a morte do pai. O protagonista, cujo nome não conhecemos, se afasta da relação conturbada com os outros membros da família e mergulha em um isolamento geográfico e psicológico. Ao mesmo tempo, ele empreende a busca pela verdade no caso da morte do avô, o misterioso Gaudério, que teria sido assassinado décadas antes na mesma Garopaba, na época apenas uma vila de pescadores. Sempre acompanhado por Beta, cadela do falecido pai, o professor interroga os moradores mais antigos da cidade.
Um marco na ficção contemporânea, “Pornopopeia” é um livro sobre a obsessão pelo prazer e o individualismo exacerbado. Conta a história de José Carlos Ribeiro, o Zeca, um ex-cineasta marginal e dependente químico, que tem um único longa-metragem em seu currículo, chamado “Holisticofrenia”. Agora, para sobreviver, ele precisa se dedicar à produção de vídeos promocionais de gosto duvidoso. Empacado em um projeto para uma empresa de embutidos de frango, Zeca acaba entrando numa espiral de bebidas, sexo e drogas. Na contramão dos personagens tradicionais, o produtor não está atrás de redenção ou transformação. Na maior parte do tempo, quer apenas se entregar aos prazeres, sem pensar no amanhã.
“O Filho Eterno” é um relato autobiográfico narrado em terceira pessoa. Na sala de espera, entre um cigarro e outro, o protagonista está prestes a ter seu primeiro filho. Ao ver o médico, ele pergunta se está tudo bem, mas não tem dúvidas da resposta positiva. Em sua cabeça, já imagina o filho com cinco anos, a cara dele. Enquanto ainda tenta se acostumar com a novidade de ter se tornado pai, ele tem que se habituar com uma outra ideia: ser pai de uma criança com síndrome de Down. A notícia o desnorteia e provoca uma enxurrada de emoções contraditórias. Nessa história, Tezza expõe as dificuldades e as saborosas pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down.
No momento em que começa a narrar os fatos de “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, o fotógrafo Cauby está convalescendo de um trauma numa pensão barata, numa pequena cidade do Pará. Paulistano, culto e viajado, ele decidiu deixar a vida confortável para viver novas experiências no interior do Norte. Fazendo bicos para o jornal local, ele se depara com Lavínia, uma mulher sedutora e misteriosa, que é casada com Ernani, um pastor evangélico. Lavínia era uma mulher viciada em drogas e foi tirada das ruas por Ernani, a quem se sente grata. Mas, apenas pela troca de olhares, ela acaba se apaixonando por Cauby. Mesmo diante de todos os perigos, eles se arriscam a ficar juntos.
Um homem toma um trem para sair da cidade, mas não consegue deixar o perímetro urbano. Outro personagem acorda em seu quarto e percebe que está acompanhado de um crocodilo. Uma casa redesenha a própria arquitetura como se estivesse viva. Nas histórias de “Deixe o Quarto Como Está”, a lógica cotidiana abre espaço para estranhos eventos. Alguns dos contos, como “Auto-retrato”, “Aprendizado” e “Para salvar Beth”, permitem uma leitura realista. Outros adentram sem hesitação o terreno do fantástico: “Hereditário”, “O crocodilo”, “O rosto”, e “O encontro”, fantasias kafkianas narradas com o humor de um cineasta surrealista. Há também relatos que ficam entre o real e a fantasia, como “Exílio”, “Correria” e “Espera”. O livro recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura, em 2003.
“Chove Sobre Minha Infância” nasce das vivências reais do paranaense Miguel Sanches Neto, mas não é uma autobiografia. Mesmo quando se vale de suas próprias experiências, o autor não busca a verdade factual, mas a psicológica. Ainda pequeno, o protagonista, que leva o mesmo nome do autor, perde o pai analfabeto. Como herança, recebe cadernos em branco com a missão de preenchê-los. Muito pobre, a mãe de Miguel se casa com Sebastião, um caminhoneiro que se torna proprietário de uma cerealista. Com vocação para as letras, o garoto passa toda a infância e adolescência em embate com o padrasto, que despreza qualquer outra ocupação que não seja braçal.
Doze foragidos da força policial mato-grossense se embrenham sertão adentro, a cavalo, em busca da a Figueira-Mãe, terra que representa a promessa de bem-estar e justiça. Como num ritual de iniciação, a jornada pelo sertão do Tuaiá é uma travessia de enfrentamentos contra o clima e a geografia daquele espaço inóspito. Entre os doze, a Moça Sem Nome, arrebatada do lar e da família à força, é a única mulher. Embora se mantenha imaculada, suas curvas serpenteando no andar dos cavalos atraem o desejo de todos. Filho de garimpeiros, Ricardo Guilherme Dicke nasceu na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, em 1936. Além de escritor, foi artista plástico. Ele morreu em 2008.
“Poema Sujo” é conhecido por transgredir os limites da linguagem poética. Foi escrito na Argentina, onde Ferreira Gullar estava exilado, durante a ditadura militar. Os mais de dois mil versos, com traços autobiográficos, são um desabafo e relembram a vida do autor, desde a infância, vivida no Maranhão, até os ideais políticos que abraçou na maturidade. Pensando estar próximo da morte, resolveu escrever convulsivamente, escancarando os problemas sociais do Brasil e da América Latina. “Sentia-me dentro de um cerco que se fechava. Decidi, então, escrever um poema que fosse o meu testemunho final, antes que me calassem para sempre”, escreveu Gullar sobre “Poema Sujo”.
Escrito ao longo de oito anos, “Catatau” é um livro de prosa experimental que trata das alucinações do filósofo Descartes em uma visita ao Brasil, junto com Mauricio de Nassau, durante as invasões holandesas do século 17. Perdido na selva tropical de Pernambuco, se assusta com a natureza abundante, com os costumes dos indígenas e vê sua razão naufragar: “Duvido se existo, quem sou eu se esse tamanduá existe?”, pergunta. Enquanto vagueia sobre a realidade encontrada, espera um amigo polonês que, supostamente, virá buscá-lo. Um clássico da literatura recente, “Catatau” se filia à grande tradição das novelas satíricas filosóficas de grandes autores, como Denis Diderot e Daniel Defoe.
“Feliz Ano Novo”, livro de contos de Rubem Fonseca, aborda temas como violência, moralismo, solidão e caos urbano. Publicada em 1975, época em que o Brasil vivia a ditadura militar, foi censurada pelo governo por apresentar os problemas sociais do país e pela linguagem violenta. Enquanto proibido no Brasil, foi editado na Espanha e na França. Só foi liberado por aqui em 1985. O conto que dá nome ao livro conta a história de três amigos, na noite ano novo, que vão buscar armas para assaltar um banco dali a dois dias. Mas, ao pegarem as armas, decidem usá-las na mesma noite, para invadir uma festa de réveillon da elite. Ao fim do conto, após matarem e violentarem várias pessoas, eles brindam a chegada do novo ano.
Em um texto que entrelaça o novelesco, o lírico e elementos bíblicos, “Lavoura Arcaica” narra a vida de André, um jovem do meio rural que decide abandonar a numerosa família do interior para morar sozinho em outra cidade. Fugindo do ambiente sufocante da lavoura, ele procura se afastar da rigidez moral de seu pai e da paixão incestuosa pela própria irmã, Ana. Os parentes estranham o desaparecimento de André, e o irmão mais velho, Pedro, é encarregado de trazê-lo de volta. É a partir das indagações de Pedro que surgem as lembranças de André. Logo após a publicação, o livro mostrou-se revolucionário, conquistando o status de clássico da literatura brasileira.
Dividido em duas partes, o livro narra a vida do escritor Eduardo Marciano, considerado o alter ego de Fernando Sabino, em sua contínua busca pelo sentido da existência. Nascido em Belo Horizonte, em Minas Gerais, Eduardo é um filho único, que cresce ao lado de seus melhores amigos, Mauro e Hugo. Boêmio e questionador, decide se tornar escritor, contrariando o pai, que deseja que ele tenha uma profissão formal. Tudo muda quando Eduardo se apaixona por Antonieta, se casa repentinamente e vai morar no Rio de Janeiro. Após o casamento, a monotonia da vida a dois atinge o escritor, que se distancia cada vez mais da mulher e acaba sendo deixado por ela. Em depressão, Eduardo volta a Minas Gerais para encontrar seus antigos amigos e refletir sobre as escolhas que fez durante a vida.
Uma coletânea de 20 contos, este livro representa a essência de Murilo Rubião, considerado um dos precursores do realismo fantástico no Brasil. Mesclando o real cotidiano às tramas excêntricas, cria histórias que levam o leitor à reflexão. No texto que dá nome à obra, dragões chegam repentinamente a uma pequena cidade. As crianças brincam com os seres, alguns adultos consideram que devem ser domesticados, mas o padre diz que os dragões foram enviados pelo diabo e precisam ser nomeados e batizados. Formado em Direito, Murilo Rubião foi atraído pelo jornalismo e, mais tarde, se tornou escritor, dedicando-se exclusivamente aos contos. Nascido em 1916, na cidade de Carmo de Minas, ele morreu em 1991.
O livro possui 15 contos, todos ambientados em Curitiba e impregnados de suspenses e enigmas. Assim como um vampiro, Nelsinho, principal personagem, busca, sem culpa ou pudor, o prazer a qualquer custo. Obcecado por sexo, vagueia pela provinciana Curitiba atrás de suas vítimas, andando por caminhos obtusos enquanto abre os olhos do leitor à visão de uma cidade decadente. Considerado uma obra-prima do autor, este livro traz Dalton Trevisan em sua forma mais clássica: objetivo, conciso, minimalista, irônico e pessimista. As histórias representam situações-limite que, por seu absurdo, contêm elementos de paródia, humor e fantasia, ao mesmo tempo em que exploram a crueldade e a sordidez revelados nos impulsos mais profundos do ser humano.
A narrativa banal, mas ao mesmo tempo dotada de genialidade, aborda os pensamentos de G.H., uma mulher comum que despede a empregada doméstica e decide fazer uma faxina no quarto de serviço, que ela supõe ser imundo e cheio de inutilidades. A protagonista se frustra ao encontrar o local limpo e arrumado, ao contrário do que imaginava, mas a insatisfação é interrompida quando ela se depara com uma barata. Depois de esmagar o inseto, G.H. decide provar a massa branca que surge de suas entranhas, e o episódio faz com que ela tenha uma grande revelação sobre si mesma. G. H. sai de sua rotina civilizada, reconhecendo sua condição de dona de casa e mãe como um selvagem.
Estreia de José J. Veiga, “Os Cavalinhos de Platiplanto” é uma coletânea de 12 contos que traz, em geral, memórias sobre a infância. Os contos do livro apresentam ao leitor um universo que mescla o embate entre os sonhos de seus personagens e a realidade do cotidiano. A história que dá nome à obra fala sobre um garotinho, criado no interior, que possui uma grande afeição pelo avô, que está doente. Com o passar do tempo, o menino entende que não ganhará o presente que lhe foi prometido pelo avô: um cavalinho. Conhecido como o maior autor de realismo fantástico em língua portuguesa, José J. Veiga foi vencedor dos prêmios Jabuti e Machado de Assis. Ele nasceu em 1915, em Corumbá de Goiás; e morreu em 1999.
Primeiro romance de Carlos Heitor Cony, “O Ventre” relata o drama de José Severo, um jovem desajustado. Nascido em uma família da classe média alta do Rio de Janeiro, é desprezado pelo pai ao longo da vida, por ser fruto de uma relação extraconjugal da mãe. Na adolescência, tem uma relação de amor e ódio com o irmão mais novo, superprotegido por ser asmático. É mandado para um colégio interno, enquanto o irmão recebe todas as regalias em casa. Além disso, Severo é ignorado pela mulher que ama desde a infância. Após a morte da mãe, decide se afastar de tudo e de todos, levando uma vida amargurada e solitária. Influenciado pelo existencialismo francês e pelo estilo machadiano, o livro foi saudado pela crítica já em 1958, ano de sua publicação
“A Lua Vem da Ásia” é um marco da literatura surrealista no Brasil, uma pseudobiografia em forma de diário que abriga as confissões de homem, chamado Astrogildo, que vive em um hotel de luxo que, para o bem da verdade, parece-se mais com um campo de concentração ou com um manicômio. Os funcionários do estabelecimento são vigilantes risíveis; o maitre ministra sopas e banhos aos hóspedes; o gerente é aficionado por disciplina e horários; sua mulher aplica injeções em quem encontra pela frente; e as grades nas janelas espantam os ladrões. Ao contar suas recordações — ou alucinações —, Astrogildo narra um mundo governado pela lei do absurdo, mas que é assustadoramente semelhante à normalidade de qualquer um.
Nesta obra, o autor utiliza da linguagem própria do sertão para que Riobaldo, o protagonista-narrador, conte sua vida. Riobaldo, um jagunço, fala sobre suas histórias de vingança, lutas, perseguições, medos, amores e dúvidas pelos sertões. A narração é sempre interrompida por momentos de reflexão sobre os acontecimentos do sertão e Riobaldo divaga constantemente sobre a existência do diabo, já que acredita ter vendido sua alma a ele. Além disso, o narrador conta sobre Diadorim, outro jagunço com quem estabelece uma relação diferenciada, que se coloca nos limites entre a amizade e o relacionamento afetivo de um casal.
“Romanceiro da Inconfidência” é considerado o livro mais importante de Cecília Meireles. A obra é o resultado de uma longa pesquisa histórica da autora, que construiu um retrato da Inconfidência Mineira em forma de versos. Os versos foram um único e extenso poema, que representa uma reflexão filosófica e metafísica sobre a condição humana. A narrativa é contada do ponto de vista dos derrotados (transformados em heróis após a Independência), e denuncia as mazelas do sistema imperial, que vigorava à época. Ela aborda acontecimentos como a descoberta do ouro, a chegada dos mineradores e a morte de Tiradentes.
“O Tempo e o Vento” é uma trilogia de romances históricos, divididos em: “O Continente” (1949), “O Retrato” (1951), e “O Arquipélago” (1961). O romance conta a história do Brasil vista a partir da região sul, desde a ocupação do “Continente de São Pedro”, em 1745, até o fim do Estado Novo, em 1945. Toda a trama é criada a partir da saga das famílias Terra, Caré, Amaral e Cambará. Neste cenário, desfilam personagens fascinantes, como o enigmático Pedro Missioneiro, a corajosa Ana Terra, o sedutor Capitão Rodrigo e a tenaz Bibiana. O livro é considerado por muitos a obra definitiva do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes do Brasil.
Em “Vidas Secas”, publicado originalmente em 1938 e considerado um dos mais importantes romances da história da literatura brasileira, o autor retrata a vida de uma família de retirantes nordestinos. O que impulsiona os personagens, Fabiano, Sinhá Vitória, os filhos e a cachorra baleia é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro. Considerado o maior ficcionista do Modernismo brasileiro, Graciliano Ramos ficou conhecido por denunciar as mazelas sociais do Nordeste. Com “Vidas Secas”, ganhou o Prêmio Fundação William Faulkner, nos Estados Unidos. Ele morreu em 1953.
Considerado a obra-prima de Mário de Andrade, “Macunaína” é fruto das pesquisas que o autor fazia sobre as origens e especificidades da cultura do povo brasileiro. O protagonista, Macunaíma, nasce negro, em uma aldeia indígena. Já na infância, manifesta sua principal característica: a preguiça, e desde tenra idade sofre uma pulsão sensual que não conhece limites. Sua saga envolve a busca pela muiraquitã, um amuleto de pedra, que o leva a São Paulo, onde, após banhar-se em águas encantadas, se torna branco, louro e de olhos azuis. Admirada como uma reflexão provocante sobre a identidade de um povo em formação, a obra tornou-se um ícone popular do país.
Em “Eu”, único livro de poemas de Augusto dos Anjos, o autor constrói um retrato da humanidade, a partir de uma visão pessimista, com inclinação para a morte. Exprime melancolia, ao mesmo tempo em que desafia o movimento parnasiano, usando palavras não-poéticas. Quanto à estrutura, pode-se dizer que as poesias de Augusto dos Anjos apresentam rigor na forma e rico conteúdo metafórico. Um marco do período pré-modernista brasileiro, “Eu” só foi reconhecido após a morte do escritor, em 1914. Paraibano, ele morreu aos 30 anos, vítima de uma pneumonia. Seus outros poemas foram lançados em periódicos.
O livro é narrado por Brás Cubas, um “defunto-autor”, ou seja, um homem que já morreu e deseja escrever sua autobiografia. Na infância, foi cercado pelos privilégios da elite carioca do século 19. Era um garoto mimado, chamado de “menino diabo”. Já adolescente, se apaixonou por Marcela, uma prostituta de luxo, com quem quase gastou toda a fortuna da família. Para esquecê-la, vai estudar em Coimbra, em Portugal, mas volta ao Brasil com o diploma nas mãos. Inapto para o trabalho, decide entrar para a política. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é considerado um livro divisor na literatura brasileira e na carreira de Machado de Assis, representando a transição do autor do romantismo para o realismo.