A Revista Bula elencou em uma lista 20 livros que todos devem ler antes de completar 50 anos. As obras escolhidas são marcos da literatura clássica e contemporânea, e abordam temas como envelhecimento, escolhas, arrependimentos e morte. Os protagonistas, independentemente da idade, fazem reflexões profundas e sábias sobre a passagem do tempo. Entre os livros selecionados, estão títulos como “A Morte de Ivan Ilitch” (1886), de Lev Tolstói; “A Redoma de Vidro” (1963), de Sylvia Plath; e “Homem Comum” (2007), escrito por Philip Roth. As sinopses foram adaptadas das originais, divulgadas pelas editoras. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais antigo para o mais recente.

Considerada uma obra precursora do existencialismo e da psicanálise, “Memórias do Subsolo” apresenta as memórias de um homem aposentado que vive em São Petersburgo. Esse protagonista, que não menciona o próprio nome em nenhum momento, é um sujeito amargo e isolado. Na primeira parte do romance, “O Subterrâneo”, tenta envolver e comover o leitor com hipóteses sobre si mesmo, alegando ser uma pessoa de bem, que procura um motivo para dar sentido à vida. Na segunda parte, intitulada “A Propósito da Neve Derretida”, narra, numa espécie de “fluxo de consciência”, as duras lembranças de situações em que foi encurralado e humilhado pelos discursos de uma sociedade opressora.

Iliá Ilitch Oblómov é um rico senhor de terras que não sai do sofá e passa os dias admirando o teto e fazendo planos que nunca põe em prática. Embora tenha muitos e graves problemas, principalmente relativos à sua fazenda, ele não age, pois a simples ideia de deixar sua poltrona lhe causa angústia. Apesar de ser jovem, sua vida transcende entre uma refeição e outra, cochilos e algumas visitas ocasionais que trazem notícias do mundo, pelas quais Oblómov não demonstra interesse. Nem a paixão por Olga Sergueievna, que fez de tudo para ajudá-lo, foi capaz de arrancar Oblómov da inércia. Pela figura do protagonista, o autor quis retratar a elite russa às vésperas do fim da servidão.

Nesta novela, Tolstói narra a história de Ivan Ilitch, um juiz de instrução que, após alcançar uma vida confortável, descobre que tem uma grave doença. A partir daí, ele passa a refletir sobre o sentido de sua existência e percebe que poucos momentos que viveu realmente tiveram significado e que seu desempenho durante a vida foi superficial, tanto no trabalho quanto nas relações sociais. Preso ao leito, diante da morte iminente, o juiz tem a oportunidade de meditar sobre sua vida, algo que as preocupações corriqueiras o impediram de fazer antes. Ivan Ilitch quer morrer para dar um fim à dor, mas seu instinto de sobrevivência insiste em fazê-lo lutar pela vida.

O agrimensor K. chega a uma aldeia coberta de neve e procura abrigo num albergue perto da ponte. Ele foi chamado para prestar seus serviços num castelo ali perto. No dia seguinte o herói vê, no pico da colina gelada, o castelo: como um aviso sinistro, bandos de gralhas circulam em torno da torre. No entanto, K. nunca consegue chegar até o alto, os donos do poder não permitem que o faça. Em vez disso, o suposto agrimensor recorre aos moradores da vila, para que o ajudem a entrar em contato com os funcionários do castelo. Enquanto espera, ele aceita trabalhar na aldeia, imerso em um ambiente de indiferença, burocracias e dificuldades.

Harry Haller acredita que sua integridade depende da vida solitária que leva em meio às palavras de Goethe e as partituras de Mozart: um intelectual próximo aos 50 anos, tentando equilibrar-se à beira do abismo dos problemas sociais e individuais, ante os quais a sua personalidade se torna cada vez mais ambivalente. Haller sente um permanente mal-estar, cuja fonte é sua inadequação à sociedade e à vida burguesa. Ele aluga um quarto na casa de uma senhora, onde pretende se isolar e se matar quando fizer 50 anos. Mas, ao conhecer Hermínia, Maria e Pablo; Haller embarca em uma viagem de autoconhecimento que pode levá-lo à redenção.

Em “O Amanuense Belmiro”, Cyro dos Anjos constrói um diário íntimo de um burocrata belo-horizontino de 28 anos, amanuense (copista) do Ministério da Agricultura. Ele narra suas lembranças e situações cotidianas, num período que se estende do carnaval de 1935 até o do ano seguinte. Belmiro mantém uma paixão platônica por Carmélia Miranda, uma bela jovem da alta sociedade, que acaba se casando com um médico conceituado. Passam pelo dia a dia do amanuense outros personagens e amigos, como a atraente Jandira, o anarquista Redelvim, o filósofo católico Silviano e o seu colega de repartição Glicério. Com essa obra, Cyro dos Anjos foi comparado a Machado de Assis e entrou para o panteão dos maiores escritores brasileiros.

Andrea é uma jovem órfã e solitária que se muda para Barcelona para morar na casa da avó e cursar a faculdade de Letras. Ela chega à cidade cheia de expectativas, mas a realidade a assusta logo no primeiro dia. O cenário logo após a Guerra Civil Espanhola é desolador. Os familiares, empobrecidos, amontoam-se em uma casa decadente e discutem incessantemente por motivos mesquinhos. Na faculdade, ela tem poucos conhecidos e vive num clima de falsas aparências, em que as pessoas escondem suas verdadeiras intenções. Em meio a escândalos e intrigas, Andrea terá de aprender a viver e a encontrar a felicidade sozinha.

A trama é iniciada com a confissão de um assassinato. O artista plástico Juan Pablo Castel revela ter matado María Iribarne, mulher por quem cultivava uma estranha obsessão, a única que fora capaz de compreender um quadro seu. “Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei”, diz Juan Pablo. Em primeira pessoa, ele conta todos os acontecimentos que antecederam o crime. “O Túnel” foi escrito, segundo o autor, “a partir de uma subjetividade total”. Em 1953, Sabato comentou: “Enquanto eu escrevia esse romance, muitas vezes me detinha, perplexo, para avaliar o que estava saindo, tão diferente do que havia previsto”.

Entre o senhor Utsugi, um homem de 77 anos, e sua nora, surge um sutil jogo de poder. De um lado, o ancião se empenha em burlar uma vida regrada por remédios, médicos e hospitais. Do outro, a bela ex-dançarina de casas noturnas, Satsuko, faz uso de seus talentos naturais para fascinar e controlar Utsugi, seu sogro, manipulando-o em prol de seus interesses pessoais. A idade do idoso, em vez de coibi-lo, acaba por libertá-lo. Mas, à medida que se envolve cada vez mais com Satsuko, Utsugi vê suas dores e doenças piorarem. Consciente de que a morte se aproxima, ele rompe com as convenções sociais para se entregar aos prazeres da vida.

Dos subúrbios de Boston para uma prestigiosa universidade para mulheres. Do campus para um estágio em Nova York. O mundo parece estar se abrindo para Esther Greenwood, que agora trabalha na redação de uma revista feminina e possui uma intensa vida social. Mas, um verão aparentemente promissor é o gatilho da crise que leva a jovem do glamour a uma clínica psiquiátrica. Único romance da poeta Sylvia Plath, “A Redoma de Vidro” é repleto de referências autobiográficas. A narrativa é inspirada nos acontecimentos de 1952, quando Plath tentou o suicídio e foi internada. Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante exemplar que sofreu uma grave depressão.

“Stoner” conta a história da vida de um homem entre as décadas de 1910 e 1950: William Stoner, filho único de camponeses, está destinado a cuidar das terras da família, mas descobre sua paixão pelos estudos literários e se torna professor universitário. A partir desse ponto, narram-se o progressivo afastamento de Stoner da própria família, as relações complicadas com os colegas, as amizades tragicamente marcadas pela guerra, a difícil vida conjugal, o impossível amor clandestino por uma professora mais jovem e o encontro com a morte. Stoner reage às provações da vida com aparente impassibilidade e silencioso estoicismo, emergindo como um trágico herói da vida cotidiana. O livro, publicado pela primeira vez em 1965, foi lançado no Brasil em 2015.

Isadora Wing é uma escritora nova-iorquina casada pela segunda vez. Aos 29 anos, ela acaba de publicar um livro de poesias eróticas e se torna uma grande sensação. Isadora é uma mulher sonhadora, mas insegura, que costuma ir atrás de psiquiatras para tentar resolver seus problemas. A escritora viaja para Viena para acompanhar o marido, Bennet, em um congresso de psicanálise. Lá, ela se envolve com um outro psicanalista participante do evento, Adrian Goodlove. Isadora sente que Adrian lhe oferece tudo o que ela deseja, mas não encontra em seu casamento: paixão, desejo, excitação e perigo. Assim, ela começa a trair Bennet. Durante os encontros, Isabela relata para Adrian os excêntricos relacionamentos afetivos que já viveu.

“Correio do Tempo”, é uma coletânea de contos dividida em quatro partes: Sinais de Fumaça, Correio do Tempo, As Estações e Colofão, que, em sua etimologia, significa “o fim de uma obra”. Os contos tratam dos mais diversos tipos de encontros e despedidas, do distanciamento, da ressignificação e da passagem do tempo: uma criança que passa alguns dias na casa do pai separado, um homem doente que escreve ao amigo pela última vez, uma visita inesperada de um preso político ao seu algoz, sobreviventes de naufrágios que se encontram acidentalmente em uma ilha deserta e o relato de um homem preso por matar quem amava. Mario Benedetti é considerado um dos maiores escritores uruguaios, seus livros foram traduzidos para mais de 20 idiomas.

Mario e Olga vivem uma relação de 15 anos, com altos e baixos de um casamento normal, sem nada que justifique um término abrupto. Mas, de repente, Olga é abandonada por Mario. Presa ao cotidiano estilhaçado com dois filhos, um cachorro e nenhum emprego, Olga relembra os momentos críticos do passado com Mario e se dá conta de que foi humilhada e enganada. Em um mergulho existencial, com raiva da justificativa mentirosa do marido ao tê-la deixado, ela procura novos sentidos para a sua vida. Assinado pela autora cuja verdadeira identidade é mantida em segredo, “Dias de Abandono” colocou Elena Ferrante no panteão dos maiores autores da literatura atual.

Quando o fotógrafo Paul Rayment, um homem de 60 anos, perde a perna em um acidente de bicicleta, sua vida solitária é completamente transformada. Em meio a crises de desesperança e resignação, surge Marijana, uma enfermeira croata por quem ele se apaixona. Enquanto Paul analisa como conquistar o coração dela, recebe a visita da misteriosa escritora Elizabeth Costello, personagem de outros livros de Coetzee, que o desafia a assumir um papel ativo na própria vida.
“Homem Lento” é uma profunda meditação sobre o que significa envelhecer. A luta de Rayment contra sua própria humanidade resulta em uma história sobre amor, sexo e mortalidade.

Numa narrativa direta e íntima, nesta obra Philip Roth retrata o encontro inevitável do homem com a morte, explorando o tema do arrependimento. O leitor acompanha o destino do protagonista desde os verões em praias idílicas durante a infância, passando pelos conflitos e pelas realizações da idade adulta, até a velhice, quando ele fica dilacerado ao constatar a deterioração de seus contemporâneos e dele próprio. Artista comercial de sucesso, ele tem dois filhos do primeiro casamento, que o desprezam, e uma filha do segundo, que o adora. É amado pelo irmão e é também um ex-marido solitário, tendo destroçado todos os seus relacionamentos. No final, é um homem que se transformou naquilo que não queria ser.

Da São Francisco dos anos 1970 à Nova York de um futuro próximo, Jennifer Egan tece uma narrativa que alterna vozes e perspectivas, cenários e personagens para contar como os sonhos se constroem e se desfazem ao longo da vida. A obra é composta por histórias curtas, 13 faixas sobre relações familiares, indústria fonográfica, jornalismo de celebridades, efeitos da tecnologia, viagens e a busca por identidade versus o esfacelamento de ideais —, interligadas pelas memórias de um grupo de personagens em diferentes pontos de suas vidas. A obra deu à Jennifer Egan o Prêmio Pulitzer de Ficção em 2011.

O livro aborda o relacionamento aparentemente sólido de um casal de americanos que mora em Londres. Lawrence é um disciplinado pesquisador de um instituto de estudos estratégicos, um homem sério e muito culto. Irina é uma acomodada ilustradora de livros infantis que se depara com uma vontade incontrolável de beijar outro homem: Ramsey, um velho amigo do casal e um dos jogadores de sinuca mais famosos da Inglaterra. A partir desse único beijo, a autora escreve duas histórias para oferecer ao leitor desdobramentos diferentes do futuro e explora as consequências e as motivações mais íntimas da escolha de Irina.

A história se passa em uma terra fictícia, há séculos. Em algumas zonas, aldeões vivem em abrigos cavados nas encostas dos montes, ligados uns aos outros por passagens subterrâneas. É numa dessas cavernas que mora o casal de idosos, Axl e Beatrice. Um dia, eles decidem que irão procurar o filho que não veem há anos, de quem pouco se recordam. Durante a viagem, eles enfrentam muitos perigos, conhecem pessoas maldosas e temem os boatos sobre a existência de um dragão. Eles também percebem que uma estranha condição está acometendo aos poucos pessoas de todos os lugares: a perda de memória. Kazuo Ishiguro, escritor nipo-britânico, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017.

Romance de estreia da brasileira Aline Bei, “O Peso do Pássaro Morto” narra a vida de uma mulher dos 8 aos 52 anos, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem em sua família. Essa mulher, que já na infância experiencia a dor da perda, cresce em um ambiente hostil e, aos poucos, vai esquecendo-se de seus sonhos. Inicialmente de maneira inconsciente, ela se afasta de tudo e de todos, até que abandona a si mesma. Aline Bei nasceu em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. Foi a vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018 na categoria Melhor Romance de Autor com Menos de 40 anos.