Indiscutivelmente, o Clube de Regatas Flamengo é hoje o time a ser batido no Brasil e na América do Sul. Campeão Brasileiro, Carioca e da Libertadores, no mesmo ano, além de faturar a Recopa 2020, o Rubro-Negro acumula uma série histórica e chegou a ficar imbatível por um longo período. O time se destaca, dentro e fora das quatro linhas, tendo em vista que sua boa gestão permite ao clube contratar como se fosse um europeu em solo tupiniquim — e o futebol dentro de campo corresponde e faz os olhos do torcedor brilharem.
Contudo, a geração que não tenha uma boa memória, também conhecida como “modinha” ou “nutella”, ignora a exata dimensão do que foram alguns gloriosos times do passado do futebol brasileiro. E, por essa razão, exaltam o Flamengo de 2019 como um dos melhores da história do país. Não deixa de estar próximo a esse rol, mas seria preciso muito esforço para chegar aos pés de grandes máquinas que conquistaram quase tudo o que disputaram, com um futebol inigualável.
Nesse ínterim, com o fim de situar essas pessoas um pouco perdidas, esta lista apresentará uma série de times históricos que, certamente, encarariam o Flamengo, sem maiores problemas. Com a permissão criativa de burlar o lapso temporal envolvido e promover um embate entre esses clubes de diferentes períodos, seja pelo futebol jogado ou pelos feitos, certo é que o atual Flamengo teria muito trabalho em figurar entre os cinco melhores times da história do Brasil. E quais gigantes seriam esses? Vamos enumerá-los agora — sem ordem de hierarquia entre eles, que fique claro.
Campeão Brasileiro e Paulista de 1999 e Mundial de 2000. Aquele Corinthians era excepcional. Diferente das expectativas de sempre da Fiel Torcida de um time que ganha na raça, o Corinthians de 99/00 era extremamente técnico. Jogava bonito e fazia o pesadelo dos adversários, pelo país, com craques como Ricardinho, Edilson Capetinha, Vampeta, Nenê, o excelente Gamarra, Freddy Rincón, Marcelinho Carioca, Luizão e Dida. Só aí, cinco jogadores que, posteriormente, foram pentacampeões do mundo, com o Brasil. Mesmo o time não conquistando a Libertadores (caiu nos pênaltis para seu arquirrival Palmeiras), o sentimento era de vitórias e o time se redimiu: venceu o Palmeiras na final do Paulista e, de quebra, o Galo na final do Brasileiro de 1999, após eliminar o rival São Paulo com dois pênaltis perdidos por Raí no tempo normal. No Mundial de Clubes, a redenção: campeão em cima do poderoso Vasco, em pleno Maracanã, com uma invasão corinthiana no estádio. Pelo conjunto da obra dentro de campo, fatalmente esse Corinthians não tomaria conhecimento do Flamengo em questão.
O imortal tricolor dos anos de 1995/96 era irresistível. Campeão Brasileiro de 1996, Campeão da Libertadores de 1995, Bicampeão Gaúcho 95/96, o clube era uma verdadeira máquina mortífera. Comandada por Luís Felipe Scolari, o time não apenas era eficiente, mas também possuía muita qualidade em campo. Liderado por estrelas, como o goleiro Danrlei, o brilhante Arce, os volantes Dinho e Luís Carlos Goiano e a fantástica dupla Paulo Nunes e Jardel, a equipe gaúcha entrava em campo com o propósito único de vencer e convencer. É preciso lembrar que a equipe se planejou e resolveu, antecipadamente, abandonar a disputa do Brasileirão de 1995, vencido pelo Botafogo, mas teria plenas condições de alcançar o topo de mais essa conquista. Para se ter uma noção do poderio da equipe, o próprio técnico do Ajax, Van Gaal, admitiu a superioridade dos gaúchos nos 90 minutos da final do Mundial. E era nada menos do que o campeão europeu, que venceu todos os jogos da temporada; a base da seleção da Holanda. Por esses motivos, não há dúvidas de que o Grêmio desse período, certamente, seria uma grande pedra no sapato do Flamengo de 2019/20.
Quando surgia aquele alviverde imponente, no gramado em que a luta o aguardava, o adversário sabia que vinha pela frente uma pedreira catastrófica. Luxemburgo elevou o Palmeiras a um patamar de futebol que remetia aos tempos áureos da Academia, com seu figurino inovador de paletó e gravata e seu sistema tático à frente do tempo. O time foi bicampeão paulista e brasileiro, em sequência, e campeão do Torneio Rio-SP de 1993. Era um rolo compressor! Assim como o Flamengo de 2019, anunciava craques contratados como quem contava carneiros na hora de dormir. Aquele esquadrão tinha ninguém menos do que Mazinho, Antônio Carlos, Roberto Carlos, Flávio Conceição, Rivaldo, César Sampaio, Zinho, Edmundo, Edílson e Evair. E foram três títulos em cima do principal rival. Com todo respeito ao Flamengo de 2019, seria bastante difícil concorrer com aquele poderoso Verdão de 93 e 94.
A máquina mortífera tricolor conquistou tudo o que se podia em 92 e 93, em sequência. Foi bicampeão Paulista, da Libertadores, do Mundial e da Recopa, campeão da Supercopa, e só não chegou à final do Brasileiro de 1993 por um ponto no quadrangular final, após disputar inacreditáveis 97 jogos, entre janeiro e dezembro. O time bateu, nas finais do Mundial, os lendários Milan e Barcelona, ganhando de forma mágica. O técnico Cruyff, abismado, chegou a dizer que “se for para ser atropelado, que seja por uma Ferrari”. É preciso, também, ressaltar que aquele time atropelou o Real Madrid e o Barcelona, nos torneios Tereza Herrera e Ramón de Carranza, por 4×0 e 4×1 respectivamente, antes mesmo de ganhar o mundo. Com craques como Zetti, Raí, Cafu, Muller, Palhinha, Cerezo, Leonardo, Vítor e Válber, o Tricolor Paulista era um dream team como pouco se viu no futebol. E, ainda, conseguiu chegar em três finais consecutivas da Libertadores, coisa inédita até hoje. Sinceramente, o Flamengo de 2019/20 não conseguiria muita coisa contra essa seleção do São Paulo.
Antes que os policiais das “eras diferentes” venham falar sobre a diferença de futebol, reitero que a questão aqui é de futebol, respeito e conquistas. Nesse quesito, é muito difícil achar um clube que consiga representar mais essas três virtudes do que o Santos de Pelé. Colecionador de títulos importantes, o time sobrava no Brasil e era requisitado em excursões no exterior, onde dava espetáculos e batia os grandes clubes europeus, com goleadas históricas. O time conquistou nada menos do que duas Libertadores, duas Taças Brasil e dois Mundiais, em sequência, além de um Paulista e um Rio-SP. Qualquer brasileiro sabia escalar de cor aquele Santos: Gilmar, Lima, Mauro, Calvet e Dalmo, Zito e Dorval; Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O time passeava pelas Américas e foi capaz de ganhar do Boca, na Bombonera e, de quebra, golear, em plena final, o poderoso Peñarol. Seria muito petulante alguém imaginar que aquele time, que não perdia para nenhum clube europeu, fosse temer o Flamengo de 2019/20.