A história da música sertaneja: de Tonico e Tinoco a Marília Mendonça

A história da música sertaneja: de Tonico e Tinoco a Marília Mendonça

Segundo o que dizem na internet, apenas uma coisa é capaz de unir os brasileiros — independentemente de crença, sexo ou partido político: a música “Evidências”, da dupla Chitãozinho & Xororó. Do roqueiro ao forrozeiro, qualquer um nascido neste país sabe entoar “E nessa loucura, de dizer que não te quero…”. Nada anormal para uma música do gênero mais famoso e genuinamente nacional, o sertanejo.

Essa é apenas uma das provas da força do sertanejo, que ficou ainda mais evidente durante a pandemia da Covid-19, com o sucesso das lives nas redes sociais. Para entender esse gênero musical e suas vertentes mais conhecidas hoje, é preciso retornar ao início de sua história, no final da década de 1920.

Origens

As primeiras músicas sertanejas conhecidas foram gravadas pelo jornalista Cornélio Pires, em 1929. Bancando sozinho a produção de um disco, ele viajou pelo interior de São Paulo cantando canções que enalteciam os costumes caipiras e as belezas rurais. As músicas, acompanhadas de viola, se assemelhavam a crônicas, pois contavam os famosos “causos”.

É importante ressaltar que as canções de Cornélio foram as primeiras gravadas, mas as modas de viola já eram comuns entre o povo do interior. Com o êxodo rural e o surgimento do rádio, o estilo foi se tornando conhecido nas cidades, mesmo que o termo “caipira” ainda tivesse uma conotação pejorativa.

Segundo infográfico publicado no blog da Betway, entre as duplas de destaque nos anos 1930 a 1950, estavam Tonico & Tinoco, e Luizinho & Limeira. Além dessas, Pena Branca e Xavantinho e o próprio Cornélio Pires também são lembrados. As músicas “Pinga Ni Mim” e “O Menino da Porteira” foram alguns dos maiores sucessos da época.

Evolução

Após a Segunda Guerra Mundial, a música sertaneja passou por uma transição. Para trazer modernidade ao gênero, foram introduzidos novos instrumentos, como a harpa e o acordeão. Novos ritmos, como o rasqueado, também foram incorporados. Foi nesta época que as canções começaram a falar de amor. Segundo a publicação da Betway Cassino, site de roleta online, artistas como Irmãs Galvão, Cascatinha & Inhana e Sulino & Marrueiro fizeram parte da transição.

No final dos anos 1960, inspirados pelos artistas internacionais, os cantores de sertanejo introduziram a guitarra elétrica nas gravações. Violino e trompete, instrumentos comuns nos ritmos mexicanos, também passaram a fazer parte das músicas. Sérgio Reis, um sertanejo na Jovem Guarda, foi um dos maiores precursores dessa modernização. Milionário & José Rico também ganharam destaque na época.

Nos anos 1970, as apresentações de sertanejo ocorriam geralmente em circos, rádios e rodeios. Mas, na década seguinte o gênero chegou à televisão, em programas de auditório e trilhas sonoras de novelas. Entre 1980 e 2000, houve uma explosão do sertanejo no Brasil, começando com duplas como Leandro & Leonardo, Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano e João Paulo & Daniel.

À medida que o gênero se distanciava de suas raízes rurais, também reapareciam nomes que enalteciam as raízes rurais, como a dupla Pena Branca e Xavantinho, adequando sucessos da MPB às modas de viola; e surgiam novos artistas, como Almir Sater, conhecido como um violeiro “sofisticado”.

O ritmo jovem

Atenta à massificação do ritmo, a indústria fonográfica criou um novo sertanejo, mais dançante, com bases de rock e pop. A melodia continuou simples e melancólica, mas o ritmo e as letras em quase nada lembram as modas caipiras. Com cantores jovens, em duplas ou não, surgiu o sertanejo universitário, a vertente mais conhecida atualmente.

Inicialmente, o nome se referia às duplas que começavam a carreira cantando em bares universitários, mas hoje isso não é mais um critério. Alguns dos cantores mais conhecidos dessa nova era são Luan Santana, Gusttavo Lima, Jorge & Mateus, Zé Neto & Cristiano e Fernando & Sorocaba.

A partir de 2015, também começou a crescer o movimento conhecido como Feminejo, representado pelas mulheres, que ganham cada vez mais espaço no universo sertanejo e cantam as dores próprias do universo feminino. Marília Mendonça, Maiara & Maraísa e Simone & Simaria são as mais famosas da música hoje.

Quem escuta sertanejo?

Segundo dados da Betway Cassino, 62% do público que consome sertanejo no Brasil são mulheres e 38% homens. Entre os fãs, a vertente preferida é a universitária (60,1%), mas ainda existem os apreciadores das canções caipiras (32,8%). Além disso, o gênero é mais ouvido entre os jovens adultos: 37% têm entre 25 e 34 anos.

Sobre o que atrai no sertanejo, 48,1% gostam da melodia, enquanto 47,3% se identificam com as canções e 27,4% apreciam as letras. Os que mais aprovam as músicas de amor são aqueles que estão casados ou em um relacionamento estável, o que representa 52% do público. O restante prefere as letras sobre pegação e desilusões amorosas, as famosas “sofrências”.

Outros números comprovam a força do sertanejo no Brasil: 12 das 20 músicas mais tocadas no Spotify Brasil são do gênero. E, recentemente, as lives de cantores como Gusttavo Lima e Marília Mendonça bateram recordes no Youtube com milhões de acessos, desbancando alguns dos artistas mais famosos do mundo, inclusive Beyoncé.

Os cachês dos artistas do sertanejo variam entre R$ 100 mil e R$ 800 mil, e os mais famosos chegam a arrecadar 4 bilhões de reais por ano apenas com bilheteria de shows. Além da identificação com as letras e a alegria do ritmo, o que mais pode ser tão atrativo? Talvez, o sertanejo represente o que o jovem frustrado com as dificuldades da cidade deseja: voltar para a roça, mas nem tanto. Afinal, a vida caipira pode ser ótima, desde que se tenha um smartphone para registrar tudo.