Clássicos lidos pelos pais ou leituras obrigatórias no currículo escolar, alguns livros marcaram a vida da maioria das crianças nascidas nas últimas décadas no Brasil. A Revista Bula realizou uma enquete para descobrir quais são, segundo os leitores, as obras que mais marcaram a infância dos brasileiros. Os 15 mais citados foram reunidos com suas respectivas sinopses, que foram adaptadas das originais, divulgadas pelas editoras. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais antigo para o mais recente.
Rebelando-se contra a vida pacata da classe média de York, na Inglaterra, o jovem Robinson Crusoé foge de casa e se torna marinheiro. Numa de suas viagens, vem para o Brasil, depois parte para a Guiné, na África, mas uma tempestade o faz naufragar. Único sobrevivente do desastre, Crusoé retira do navio utensílios que o ajudam a enfrentar o desamparo e a solidão. Enquanto supera as numerosas dificuldades de seu desterro, Crusoé reflete sobre os valores da existência humana e se reaproxima de Deus. Nos últimos anos de permanência na ilha deserta, salva a vida de um selvagem que estava para ser sacrificado por um grupo de canibais vindo do continente.
Era noite de ano novo e fazia um frio terrível quando uma garotinha, a pequena vendedora de fósforos, saiu descalça pelas ruas cobertas de neve. Tentava vender fósforos, mas ninguém queria comprá-los. Como não conseguiu sequer um centavo, teve medo de apanhar do pai ao voltar para casa, e decidiu ficar onde estava. Encostada a uma parede, cansada e com fome, ela acendeu um dos fósforos para tentar se aquecer. Então, a garota começou a ter visões maravilhosas, imaginando-se em uma casa aquecida, toda enfeitada para o natal, com um banquete posto à mesa. Neste lugar aconchegante, ela se sentiu amada e reencontrou a avó.
As irmãs Jo, Beth, Meg e Amy encaram as experiências e dificuldades da juventude enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Com o pai nos campos de batalha e a mãe trabalhando para sustentá-las, elas ficam sob os cuidados de uma tia e enfrentam problemas com a falta de dinheiro. Apesar disso, elas se divertem e, juntas, encenam peças, preparam festejos de Natal, dão os primeiros passos na sociedade adulta e aprendem o valor da amizade. Traduzido para mais de 50 idiomas e adaptado para teatro e cinema vária vezes, “Mulherzinhas” tornou-se um clássico da literatura mundial. Para escrevê-lo, Louisa May Alcott buscou inspiração em sua própria família.
Tom Sawyer é uma criança muito esperta. Para viver uma aventura, é capaz de criar mentiras mirabolantes e sustentá-las para encobrir seus erros. De início, é castigado pela tia, que o obriga a arrumar a cerca. Para escapar da tarefa, Tom convence os colegas de quão divertido é pintar a madeira. De quebra, recebe das outras crianças todos os seus pertences em troca da oportunidade de “brincar”. As aventuras de Tom Sawyer (1876) é um resumo do cotidiano do norte-americano do século 19. As mentalidades predominantes e as leis que regiam a vida na época estão expostas por toda a obra. Uma história divertida sobre as aventuras de um garoto problema e uma sátira da realidade da sociedade escravocrata às margens do Mississippi.
O livro conta a história de garotos de Budapeste que travam batalhas pela posse do “grund” da rua Paulo, um pedaço de terra cercado onde eles podem brincar à vontade. O grupo da “sociedade do betume”, que criou o lugar, enfrenta os “camisas vermelhas”, que chegaram recentemente e reivindicaram a posse. A luta pelo “grund” vai além da vontade de comandar o local: ali, infância e fantasia prevalecem sobre as imposições do mundo adulto. Mas, a disputa entre os garotos ultrapassa os limites da brincadeira, com séries consequências. “Os Meninos da Rua Paulo” é considerado o livro húngaro mais conhecido em todo o mundo e já foi adaptado para o cinema diversas vezes.
Após perder o pai, Pollyanna, uma garota de 11 anos, se muda de cidade para morar com uma tia rica e severa. No seu novo lar, passa a ensinar às pessoas o “jogo do contente”, que havia aprendido com o pai, um missionário pobre. O jogo consiste em procurar algo bom e positivo em tudo, mesmo nas coisas mais desagradáveis. Pollyanna é otimista, positiva e feliz. Não aceita justificativas para a tristeza e dedica-se com afinco a ensinar aos seus amigos o caminho para superar as adversidades. Ela é jovem, mas apresenta muita maturidade e serenidade perante os problemas, tornando-se conhecida por todos na cidade.
Livro que consagrou Monteiro Lobato como o grande nome da literatura infanto-juvenil, “Reinações de Narizinho” apresentou aos pequenos leitores do Brasil os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo. O livro, composto de várias pequenas histórias, narra as aventuras de Narizinho, Pedrinho, a boneca de pano Emília, Dona Benta, Tia Nastácia, Visconde, Marquês de Rabicó e a bruxa Cuca. Um clássico do faz-de-conta, a obra ainda se destaca na literatura nacional. Encontram-se nela as crianças que povoam o imaginário brasileiro há tanto tempo e continuam instigando curiosidade, que é própria da infância, e despertando o gosto pela leitura e pelo conhecimento.
Viajando para Bagdá, Hank Tade-Maiá, o narrador da história, encontra Beremiz Samir, homem que se revela ser um fabuloso calculista da Pérsia. Eles decidem continuar a jornada juntos e, no trajeto, Beremiz dá mostras de sua extraordinária habilidade com os cálculos. Em Bagdá, o calculista rapidamente torna-se famoso e muito requisitado, despertando a simpatia de uns e a inveja de outros. Para testar definitivamente a capacidade de Beremiz, o califa prepara, então, uma audiência na qual o calculista será interrogado por sete sábios. Clássico brasileiro já traduzido para o inglês e espanhol, “O Homem que Calculava” mantém o valor pedagógico comum a toda a obra de Malba Tahan, pseudônimo de Julio César de Mello.
Eduardo e Henrique são dois adolescentes cujo parentesco não é dito no livro, mas aparentemente são irmãos ou primos. Eles estão passando férias na casa de seus padrinhos, numa fazenda próxima a Taubaté, às margens de um grande rio chamado Paraíba. Às escondidas, eles decidem se aventurar pelo rio em uma canoa, com o objetivo de chegar à Ilha Perdida. Mas, uma cheia inesperada leva a embarcação, deixando-os isolados na ilha, sem alimentos. Agora, eles precisam pensar em uma forma de voltar para a fazenda, além de tentarem escapar de um homem misterioso que vive como eremita no local. Lançado há mais de 70 anos, “A Ilha Perdida” já abordava uma questão atual: o respeito à natureza.
Depois de conhecer Hércules em um trecho de “O Minotauro” — uma das muitas histórias contadas por Dona Benta, Pedrinho fica entusiasmado com as proezas do herói e convence a turma do Sítio do Picapau Amarelo a partir em uma aventura pela Grécia Antiga. Com um pouco de pó de pirlimpimpim, Emília, o Visconde de Sabugosa e Pedrinho voltam mais de 2 mil anos ao passado, bem a tempo de ajudar Hércules em sua primeira tarefa: combater o terrível Leão de Nemeia. A aventura com o Leão, no entanto, é apenas a primeira das tarefas terríveis de Hércules, obrigado a enfrentar 12 trabalhos. Para cumprir todos os desafios, ele conta com a ajuda intelectual de seus novos amigos.
Era uma vez, Tistu. Um garoto que era diferente de todo mundo. Como não conseguiu ficar na escola, seus pais aceitaram que a vida lhe ensinaria tudo. O jardineiro da casa, Bigode, descobriu que Tistu tinha o polegar verde, o que significava que onde ele colocasse o dedo nasceriam plantas e flores, mas isso deveria ser um segredo. Em todos os lugares tristes pelos quais andava, Tistu colocava seu polegar verde. Mas, um dia ele passou dos limites e acabou causando a ira de todos na cidade. Então, ele teve que revelar seu segredo a todos. Única publicação infantil do autor, “O Menino do Dedo Verde” foi o livro mais famoso do francês Maurice Druon, que publicou várias obras históricas.
Considerado uma das obras mais importantes da literatura juvenil brasileira, esse livro conta a história comovente de Zezé, um menino pobre que vive com os pais e os numerosos irmãos. O pai está desempregado e a família passa por muitas dificuldades financeiras. Zezé é muito inteligente, mas também muito custoso e, por isso, apanha com frequência dos pais. Carente de afeto, Zezé toma por confidente um pé de laranja lima e usa a imaginação para fugir da triste realidade em que vive. “Meu Pé de Laranja Lima” trata-se de uma história parcialmente autobiográfica, José Mauro de Vasconcelos inspirou-se na própria infância para escrevê-lo. Foi traduzido para 15 idiomas.
O livro conta a história de Dona Lola e sua família. A bondosa e batalhadora mulher faz de tudo pela felicidade do marido, Júlio, e dos quatro filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Maria Isabel. A vida de Dona Lola é narrada desde a infância das crianças, quando Júlio trabalha para pagar as contas, passando pela chegada dos filhos à fase adulta e de Dona Lola à velhice. O período de grandes transformações sociais e comportamentais da sociedade paulista serve como pano de fundo ao romance e, por vezes, tais mudanças influenciam diretamente as ações dos personagens. Acontecimentos como a gripe espanhola de 1918 e a Primeira Guerra Mundial são vivenciados pela família Lemos sob o olhar de Dona Lola.
“A Bolsa Amarela” narra a história de uma garota que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades e escondê-las numa “bolsa amarela”: a vontade de crescer, a de se tornar um garoto e a de ser escritora. A partir dessas revelações, a menina, que vive em uma família tradicional na qual crianças não podem expressar seus desejos; conta ao leitor os detalhes de seu dia a dia, juntando os acontecimentos do mundo real aos devaneios criados por sua imaginação fértil. Ao mesmo tempo, uma aventura interior se processa, e a garota amadurece sem perceber, seguindo rumo à sua afirmação como pessoa.
Em “O Menino no Espelho”, o autor Fernando Sabino nos conta sobre sua infância em Belo Horizonte, na década de 1920. Com sotaque mineiro, a criança Fernando expõe suas aventuras fantasiosas. Narra como criou uma identidade secreta, ensinou uma galinha a conversar, aprendeu a voar com os pássaros e a ficar invisível, encontrou-se com Tarzan e visitou o sítio do Picapau Amarelo. E, a partir da imagem do menino que se vê no espelho, o autor descobre o melhor de si mesmo, a projeção do ideal que só a pureza de uma criança pode alcançar. O livro desvenda um mundo mágico de surpresa e deslumbramento — um romance para ser lido com encantamento por crianças e adultos.