A distopia é um conceito filosófico que se tornou um gênero literário, usado em obras que retratam uma visão de mundo oposta à utópica, que prevê uma sociedade ideal e pacífica. Nas distopias, geralmente são apresentados cenários assustadores e pessimistas, governos totalitários e cidadãos privados de seus direitos fundamentais. O conceito, por vezes, é ligado a histórias futurísticas, nas quais, pelo declínio da sociedade e da natureza, cria-se um cenário ideal para regimes ditatoriais. Para os que leitores que gostam ou desejam conhecer o gênero, a Bula reuniu em uma lista 15 livros fundamentais, desde clássicos até os mais recentes. Entre eles, estão “Admirável Mundo Novo” (1932), de Aldous Huxley; e “Fahrenheit 451” (1953), de Ray Bradbury. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais antigo para o mais recente.
Lançado quando H.G Wells tinha apenas 29 anos, “A Máquina do Tempo” logo se tornou um grande sucesso literário, abrindo caminho para os outros clássicos da ficção científica. O livro conta a história de um personagem conhecido apenas como “Viajante do Tempo”. Com base em conceitos matemáticos, ele desenvolve uma máquina capaz de se mover pela quarta dimensão, neste caso a dimensão do tempo. Com sua criação, ele viaja até o ano de 804.701 d.C. Neste futuro distante, encontra os Elóis, pacíficos e dóceis remanescentes dos humanos que vivem num mundo paradisíaco, aparentemente sem nenhum tipo de preocupação. Mas, logo o viajante descobre que os Elóis servem de alimento para outra raça, os selvagens Murdocks, que vivem no subterrâneo.
“Nós” é a distopia que inspirou desde grandes clássicos do gênero, como “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; até livros mais recentes, como a série “Jogos Vorazes”, de Suzanne Collins. A obra narra as impressões de um cientista sobre o mundo em que vive, governado pelo totalitário Estado Único, que, supostamente pelo bem da sociedade, priva a população de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e a individualidade. O Estado dita até mesmo os horários de refeições e lazer das pessoas. O cientista percebe as contradições de seu mundo ao entrar em contato com um grupo opositor, que luta contra o “Benfeitor”, o regente supremo da nação. Publicado em 1924, “Nós” só foi aceito na Rússia, o país do autor, em 1928, devido à censura da União Soviética.
“O Processo” conta a história de Josef K., um bancário que é capturado e interrogado em seu aniversário de 30 anos. Ele está sendo processado por algo grave, mas não lhe avisam qual foi o crime cometido. As circunstâncias são absurdas, ninguém conhece a lei e a corte permanece anônima. Obstinadamente, mas sem sucesso, ele tenta lutar contra a barbaridade. Atônito, ele recorre às burocracias, cumpre todos os ritos inexplicáveis exigidos, comparece a tribunais e submete-se a ordens insensatas, de modo que se vê cada vez mais em dificuldade. Um romance sobre a angústia, a impotência e a frustração do indivíduo numa sociedade opressora e burocratizada, temas recorrentes em toda a obra de Franz Kafka.
O romance é ambientado em um futuro distante, no qual as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia, mantendo a ordem e a moral, em uma sociedade organizada por castas. Literatura, música e cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformidade. A ciência domina e a simples menção às antiquadas palavras “pai”, “mãe” ou “Deus” produzem repugnância. Bernard Marx, insatisfeito com o sistema, descobre que existe uma reserva natural, onde ainda vivem homens que mantêm os costumes primitivos. Ele decide viajar para este lugar e tenta levar um exemplar dos “selvagens” para a sociedade científica e civilizada.
Uma fábula sobre o poder, “A Revolução dos Bichos” narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Sob o comando dos porcos Napoleão e Bola-de-Neve, os bichos expulsam os proprietários da terra e criam suas próprias regras. Mas, os dois porcos começam a competir entre si, Bola-de-Neve é enxotado do território e Napoleão é declarado líder por unanimidade. Com o tempo, o porco governante se torna autoritário, assemelha-se cada vez mais aos humanos e submete os animais a condições de trabalho degradantes. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos eram aliados do Ocidente na luta contra o nazifascismo.
Último livro de George Orwell, “1984” é um dos romances mais influentes do século 20. A história gira em torno de Winston, um homem que vive aprisionado em uma sociedade completamente dominada pelo Estado, representado pelo Partido e pelo líder Grande Irmão. O Partido se interessa unicamente pelo poder e reprime qualquer tipo de liberdade de expressão. Winston trabalha com a falsificação de registros históricos do governo, mas não está satisfeito com a realidade, que se disfarça de democracia, e ousa questionar a opressão que o Grande Irmão exerce sobre a sociedade. Para escrever essa obra, o britânico Orwell se inspirou nos regimes totalitários das décadas de 1930 e 40, mas suas críticas e reflexões permanecem atuais. Ele morreu em 1950.
Escrito após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1953, “Fahrenheit 451” condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas principalmente o autoritarismo do mundo pós-guerra. O livro descreve um governo totalitário, num futuro incerto, que proíbe qualquer tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instalados em suas casas ou em praças ao ar livre. Nesse contexto, Guy Montag, um bombeiro que trabalha queimando livros, se encontra descontente com seu emprego e com o governo. Então, ele tenta mudar a sociedade e encontrar uma maneira de viver feliz.
Adaptado duas vezes para o cinema e traduzido para 35 idiomas, o clássico de William Golding já foi visto como uma alegoria, uma parábola, um tratado político e mesmo uma visão do apocalipse. Durante a Segunda Guerra Mundial, um avião cai numa ilha deserta, e seus únicos sobreviventes são um grupo de meninos. Liderados por Ralph, eles procuram se organizar enquanto esperam um possível resgate. Mas, aos poucos, esses garotos aparentemente inocentes transformam a ilha numa visceral disputa pelo poder. Ao narrar a história de jovens perdidos numa ilha, aos poucos se deixando levar pela barbárie, Golding constrói uma reflexão sobre a natureza do mal e a tênue linha entre o poder e a violência desmedida.
Este é o livro que inspirou o filme “Blade Runner: O Caçador de Androides” (1982), de Ridley Scott. Na obra, o planeta Terra foi devastado por uma guerra atômica e grande parte da população sobrevivente se mudou para colônias espaciais. A radiação extinguiu animais e plantas, por isso toda criatura viva se torna objeto de desejo para os que permaneceram na Terra. Uma empresa começa a criar androides de pássaros, gatos ovelhas e até mesmo seres humanos. Esses últimos são usados nas mais perversas atividades e, por isso, são banidos do planeta. Assim surge Rick Deckard, um caçador de recompensas que tem como função eliminar androides que vivem ilegalmente na Terra.
Genly Ai, emissário de uma terra distante, é enviado a Gethen com a missão de convencer seus governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar no planeta Inverno, como é conhecido por seu clima gelado, o experiente emissário sente-se completamente despreparado para a situação que lhe aguardava. Os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura rica e quase medieval, estranhamente intrigante. Nessa sociedade complexa, homens e mulheres são um só, não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de discriminação de gênero, sendo essas as bases da vida do planeta. Mas Genly é humano demais. A menos que consiga superar os preconceitos nele enraizados, corre o risco de destruir sua missão.
No futuro, existe a matrix, uma espécie de ciberespaço, no qual a humanidade se conecta para, virtualmente, ter acesso aos mais diferentes tipos de conhecimento. Mas há uma elite de hackers que pode obter informações privilegiadas — os cowboys. Case era um deles, até o dia em que tentou ser mais esperto do que os seus patrões. Eles danificaram seu sistema neural, impedindo conexões com o ciberespaço e tornando-o um pária entre os seus iguais. Case vaga sem destino pelos subúrbios de Tóquio, até ser contatado por Molly, uma bela e perigosa mulher que, assim como ele, desconfia de tudo e de todos. Molly diz a Case que, caso ele a ajude numa missão secreta, poderá curá-lo definitivamente.
A história se passa em Gileade, um Estado teocrático e totalitário, localizado onde um dia existiu os Estados Unidos. Esse novo governo foi criado por um grupo fundamentalista autointitulado “Filhos de Jacó”, com o objetivo de “restaurar a ordem”. Anuladas por uma opressão sem precedentes, as mulheres não têm direitos e são divididas em categorias: esposas, marthas, salvadoras e aias. As aias pertencem ao governo e existem unicamente para procriar. Entre elas, está June, nomeada Offred, que é afastada de sua família para servir a um comandante. Apesar de ser designada para dar um filho ao seu chefe, Offred se envolve amorosamente com Nick, o motorista da família, e compartilha segredos de seu passado com ele.
Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de “cuidadora”. Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, lagos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. Mas, esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os “alunos” são clones, produzidos com a única finalidade de servir como peças de reposição. Assim que atingem a idade adulta e cumprem um período trabalhando como cuidadores, todos têm o mesmo destino: doar os seus órgãos até morrerem.
Em “A Guimba”, Will Self cria uma sátira das incertezas morais e políticas que tomaram conta do mundo após os atentados de 11 de setembro. Neste livro, ele retrata um país imaginado, uma mistura de Austrália e Iraque, que atrai turistas para suas belezas naturais, mas que, para além dos centros turísticos, esconde um ritual de violência e subjugação que ultrapassa qualquer tentativa de correção política. Alheio a todo o caos político e social, está Tom Brodzinski, um pacato turista americano em visita de férias com a família. Ao atirar a guimba de seu último cigarro pela varanda do hotel, ele provoca um acidente que o fará mergulhar no verdadeiro mundo por trás dessa falsa ideia de paraíso.
A história se passa em um futuro próximo: as eleições presidenciais da França, em 2022. François, um professor universitário, vê com indiferença os acontecimentos políticos e decide se isolar no campo. O país está dividido e o recém-criado partido da Fraternidade Muçulmana conquista cada vez mais eleitores, graças ao seu carismático líder, Mohammed Ben Abbes, numa disputa direta com a Frente Nacional. Vencedor no segundo turno, Mohammed muda a secular constituição, introduzindo a teocracia, o patriarcado e a poligamia. Poucos dias após o desfecho eleitoral, François retorna à Paris e encontra um país que já não reconhece. Ele, então, começa a refletir se deve submeter-se à nova ordem.