A Revista Bula convidou seus leitores a compartilharem os melhores poemas de amor, resultando em uma seleção diversificada e encantadora. Entre os nomes mencionados estão Vinicius de Moraes, Olavo Bilac, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Manuel Bandeira e Cecília Meireles, grandes expoentes da literatura brasileira. Cada um deles traz uma abordagem única e singular para explorar as complexidades e sutilezas do amor, cativando os leitores com sua sensibilidade poética.
Além dos poetas brasileiros, a lista inclui também a contribuição de poetas estrangeiros que deixaram uma marca indelével na poesia amorosa. Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Maria Teresa Horta, Christina Rossetti, Elizabeth Barrett Browning e Victor Hugo trazem suas composições apaixonadas e intensas para enriquecer essa seleção. Cada um desses poetas oferece uma perspectiva única e uma experiência emocional distinta, proporcionando aos leitores uma jornada poética pela multiplicidade do amor.
A seleção reflete as opiniões dos leitores, abrangendo diferentes períodos da literatura e capturando a riqueza das vozes poéticas sobre o amor. Ao explorar a variedade de estilos e abordagens presentes nessa seleção, somos levados a uma jornada poética que nos conecta com a universalidade do amor e com a diversidade de experiências que ele engloba.
(Maria Teresa Horta)
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
Ferreira Gullar
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
(Luís Vaz de Camões)
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Fernando Pessoa)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor
se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo
cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas
que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo
em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
(Vinicius de Moraes)
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Paulo Leminski)
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão
tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
(Carlos Drummond de Andrade)
O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda a hora.
E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama
escutou o apelo da eternidade.
(Mário Quintana)
Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(Mario Quintana)
Se tu me amas,
ama-me baixinho
Não o grites
de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres, enfim,
tem de ser bem devagarinho,
Amada,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda…
(William Shakespeare)
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes obscurece com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na eterna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás exausta ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos ardentes te farão viver.
(Olavo Bilac)
‘Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!’ E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: ‘Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?’
E eu vos direi: ‘Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.’
(Cecília Meireles)
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…
(Vito Hugo)
Amanhã, desde a aurora a clarear a campanha,
Eu partirei. Bem vês, eu sei que tu me esperas,
Irei pela floresta, irei pela montanha.
Eu não posso ficar longe de tuas terras.
Andarei, olhos fixos nas cimas descuidadas,
Sem nada ver lá fora, sem ter o que me açoite,
Desconhecido só, curvado, as mãos cruzadas,
E para mim o dia será como uma noite.
Eu não hei de fitar nem o ouro do crepúsculo,
Nem as velas ao longe, de trêmulo fulgor,
Quando chegar porei no sepulcro um ramúsculo
Florido de azevinho e outro de urze em flor.
(Christina Rossetti)
Quando eu morrer, meu amor,
Não cantes lamento por mim;
Não plantes rosa à cabeceira,
Nem cipreste sombrio:
Sê a selva sobre mim
E o orvalho que a umedece;
E, se quiseres, lembra-te,
Se quiseres, esquece.
Eu não verei as sombras,
Não sentirei chover;
Não ouvirei o rouxinol
Cantar, como a sofrer:
E a sonhar no crepúsculo,
Sem que amanheça ou anoiteça,
Acaso eu me lembre,
Acaso me esqueça.
(Elizabeth Barrett Browning)
Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.
Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do Sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.
Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quiser,
Ainda mais te amarei depois da morte.