Não jogue pérolas aos porcos

Não jogue pérolas aos porcos

Mais um ano de eleição. Mais promessas, mais injúrias. Novos rostos, antigos. Novas ofensas, antigas. Sujeiras criando raiz por baixo dos panos, ruas imundas, jingles insuportáveis martelando o compasso brega no mais profundo do tímpano.

É, meu amigo. Quatro anos passaram tão rápido feito bala perdida. Vejo cidadãos enlouquecidos levantando bandeiras, aclamando candidatos aos gritos, defendendo fervorosamente e cegamente um competidor e um partido. Venho acompanhando os debates políticos e, a cada round, assombrosamente consigo me surpreender com o ser humano. Não estou aqui para me aprofundar nos méritos ou não de cada concorrente, na fidelidade dos eleitores para com uma organização política sem mesmo questionar um candidato que já foi integrante de três ou mais partidos — e continua pulando de galho em galho. Essa estrada é tão longa e sinuosa que não pretendo passar por ela.

Escândalos à parte, desvios de verba, corrupção descarada, caixa dois, laranja, propinas, e por aí vai. A lista é extensa. Meu foco não é esse. Deveria ser? Sim. Essas problemáticas merecem atenção? Sim. Mas estou aqui para ir além. Na verdade, meu foco é a pátria amada, idolatrada. Salve! Salve! Brasil.

Olhando nos olhos dos candidatos procuro encontrar um resquício de orgulho verde e amarelo. Tudo o que se vê são cifrões. Tudo o que se fala são ofensas. E promessas. Ah, as velhas e esperançosas promessas… Continuam na cadeira de balanço olhando o horizonte à espera. Candidatos agem como robôs bem programados diante de um público de marionetes. Têm a verossimilhança na postura corporal, nos gestos, na entonação. São mestres em alfinetar e doutores em sair pela culatra.

E como fica a nossa saúde? Nossa educação? Os meios de transportes? A segurança? E o custo de vida cada vez mais caro? Impostos? Juros? Desemprego? Inflação? Discursos e mais discursos divagam sobre novas propostas de governo e melhorias para o povo e o sistema. Mas a realidade é que as mudanças caminham a passo de tartaruga. Falta paixão, flama. Um sonho intenso, um raio vívido.

Vi candidato que se importa mais com a opção sexual do cidadão do que com a precariedade do sistema de saúde pública e a (falta de) educação. Que tristeza, senhor. Que vergonha por não ter sequer um constrangimento de se expor assim perante tantos cérebros. Talvez seja esse o objetivo. Não sei de mais nada. Como diria Cássia Eller: O mundo está ao contrário e ninguém reparou. O que está acontecendo?

Querem pão e circo, respeitável público? Aí está. O pouco para muitos é o bastante. E de migalhas vamos sobrevivendo, respirando com muita dificuldade. Quero tirar de mim essa impregnada sensação de que sou uma idiota. Que não tenho capacidade cognitiva, que sou incapaz de absorver informações, analisar, processar e ter o meu parecer.

Eu lhe pergunto: Quem está, agora, no poder? Nós, eleitores, o povo brasileiro. Justamente quem eles tomam por ignorantes, acéfalos, os que por tudo riem e balançam a cabeça. Nós estamos, agora, no poder. No poder de decisão, no poder de escolha. Sei que o tempo é curto, mas todo tempo é ouro quando se trata do amanhã.

Vote com consciência, vote com responsabilidade, vote com amor à pátria. “Paz no futuro e glória no passado.”

Karen Curi

é jornalista.