Os histéricos brasileiros assistem atônitos a mais um dia de crescimento dos óbitos por coronavírus. O sistema de saúde de alguns estados apresenta o previsto colapso, as pessoas mal podem se despedir de parentes e amigos pela restrição nos funerais, não há previsão de quando irá ocorrer o pico do contágio e muitos estão acuados e temerosos. Enquanto isso, nos confins do Palácio do Planalto, está marcado para o final de semana um churrasco e um futebol com servidores mais próximos ao presidente. Mas sem álcool, claro, senão a primeira dama reclama.
São 150 mil casos confirmados ao todo. Aproximadamente 10 mil pessoas perderam suas vidas em razão da pandemia. Nos últimos dias, o Brasil só perde em número de mortes para os Estados Unidos. É a pior taxa de letalidade pelo covid-19 em toda a América do Sul. São dados arrasadores, assustadores e com tendência a piorar a cada dia. Os índices de efetividade dos isolamentos sociais voluntários na cidades declinam cada vez mais e, a despeito de alguns governadores e prefeitos estarem partindo para as últimas consequências com a adoção do “lockdown”, o governo central direciona a tendência para uma forçada flexibilização. Em plena curva ascendente de vítimas. Inacreditável.
À frente do Congresso Nacional, há um acampamento autodenominado de “300 do Brasil” em veneração às ações do presidente. Além deles, parte do empresariado demonstra apoio e marchou com o chefe do executivo até o STF em busca de um relaxamento nas medidas restritivas. Nas ruas, há manifestações constantes exigindo a alteração dos quadros de fechamento do comércio, com aglomeração de pessoas, flertes com a ditadura e participação dominical em pessoa do presidente da República. A insensatez dessa gente ignora dados científicos e há quem ache que tudo não passa de uma conspiração para impedir que o governo dê certo.
No meio do caos, no talvez pior e mais lamentável ano da história do país, com possíveis cenas de corpos em carros frigoríficos e falta de caixões, haverá um churrasco no centro do governo. Não há indiferença que justifique tamanha barbaridade. A desumanidade parece superar todos os limites e a ausência de empatia é de causar espanto. O deboche contrasta com as cenas dos cemitérios e o desrespeito com a dor alheia leva a crer que as pessoas realmente são tratadas como apenas números em uma tenebrosa estatística.
Porém, é preciso ter em mente que o vírus é superdimensionado. Não se pode, então, entrar em uma neurose. O covid-19 trouxe uma histeria, mas não é capaz de derrubar brasileiros que tenham histórico de atleta. Não há motivo para pânico. Todos irão morrer um dia e o vírus parece estar indo embora. Já houve problemas mais graves no passado e não teve toda essa comoção nacional. O presidente não é coveiro, está ok? Morreram dez mil? E daí? Ele é tem nome messiânico, mas não é milagreiro. A liberdade, no fim das contas, vale mais do que a vida. Façamos, pois, um grande churrasco. De preferência, com molho de cloroquina.