Fotografia: Stanislav Sukhin / Shutterstock
Sinto-me no dever de fazer um contraponto ao artigo Hipocrisia à distância: a escola finge que está educando e os pais fingem que os filhos estão aprendendo. A covid-19 modificou tudo neste momento; é uma crise que, segundo muitos especialistas, poderá ser maior que a de 1930. Por causa dela, a população do mundo todo está convivendo de modo totalmente diferente e explorando novas formas de relacionamento. Por ora, o que aproxima as famílias, amigos e entes queridos são as redes sociais.
As empresas buscam a tecnologia para atender às suas demandas, utilizando as plataformas online para as reuniões, negócios, vendas e consultas médicas, entre outros. O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) também está discutindo com os parlamentares as soluções legais apresentadas pelo projeto de uma lei provisória, cuja proposta é utilizar essas ferramentas de vídeo online para atender às demandas, que serão enormes, evitando assim um possível colapso no Poder Judiciário.
Neste cenário caótico e cheio de mudanças, a rede escolar tenta cumprir seu papel. As escolas envolvem uma parcela importantíssima da sociedade: estudantes, famílias, professores e demais colaboradores. Estas instituições são fundamentais para o desenvolvimento dos nossos filhos, mas não podemos esquecer que elas também estão vivendo este momento histórico. Os professores têm uma responsabilidade ímpar neste processo e estão tentando com todas as forças fazer seu trabalho, da melhor forma possível, para cumprir o conteúdo programado.
Todos temos o direito de escolher o que achamos ser melhor para os nossos filhos. Os pais não quererem aulas online faz parte de seu direito de escolha. Ninguém é obrigado a permanecer num contrato que lhe desagrada. Ninguém escolheu ficar confinado: nem eu, nem as escolas, nem os professores e nem as empresas, afinal, o mundo está entrando em colapso!
Realmente, o conteúdo escolar não é essencial neste momento, quando se tem a vida em risco. Entretanto, há muitos pais que julgam que a escola esteja usando a estratégia de aulas online para justificar uma cobrança mensal. Isso não faz sentido. O mundo está conectado justamente para atender às demandas sociais, e a educação continua sendo uma delas.
A escola e o professor estão tentando ao máximo levar aos estudantes o conteúdo programado, ainda que para isso tenham que recorrer a essas adaptações momentâneas. As dificuldades são imensas, mas nenhum professor deixou de lado a preocupação com a qualidade do ensino. Comparar o antes com o agora me parece muita hipocrisia. O mundo não está igual!
O fato é que os professores realmente não são youtubers (ainda bem). Com todo o respeito a essa categoria de comunicadores, fazer uma comparação desse tipo é uma aberração. A função e responsabilidade sociais do professor são absolutamente incomparáveis com as de quem se dedica basicamente ao entretenimento.
O artigo contra as aulas online, veiculado nesta mesma revista, discorre sobre a preocupação com a imagem dos professores. Eu digo que não é verdade, pois a vaidade é a última preocupação da maioria dos professores. Será que a autora do texto nunca viu ou leu sobre um professor agredido? Mal remunerado? Desacreditado e desprestigiado perante a sociedade?
Hoje, vejo famílias desesperadas com o conteúdo escolar, não porque os professores não estejam dando conta, muito pelo contrário. O que se percebe é que muitos pais finalmente repararam nas dificuldades de seus filhos, que até então, muitas vezes estavam largados em suas belas casas, deixados de lado e sendo educados pela babá de plantão.
Pais têm, sim, a obrigação de educar seus filhos. Não fuja da sua responsabilidade. Deixe o conteúdo escolar para o professor. Se o estudante tiver dúvidas ou não souber o que e como fazer, aproveite este momento para estimular o desenvolvimento de sua autonomia, incentivando-o a formular suas dúvidas e expressá-las ao professor. Assim você estará contribuindo para o desenvolvimento pessoal do seu bem maior: seu filho.
Se entender que a escola não está fazendo o máximo neste momento, peça rescisão do contrato, mas use o bom senso.
Muitos pais, infelizmente, não estão preocupados com o conteúdo escolar ou com o aprendizado do filho. Estão mais preocupados por terem que pagar a mensalidade. Tudo bem, isso é legítimo e compreensível no momento que vivemos. Sendo assim, use o bom senso, perceba que todos estão sofrendo neste contexto e procure dialogar e chegar a um acordo com seu contratado.
É muito leviano o título do artigo, ao afirmar que pais, professores e estudantes estão fingindo ensinar e aprender. O que as pessoas envolvidas estão fazendo é tentar cumprir sua função da única forma possível diante da situação em que se encontram. Estranho, também, a autora dizer que se preocupa com os alunos da escola pública em face do aumento do abismo social. Essa realidade existe há tempos, não surgiu agora nem será solucionada nesta ocasião. Não podemos ser irresponsáveis a ponto de discutir um problema social deste porte de forma tão superficial. Cálculo duvidoso, não acham?
Fabio Beltramim é pai, professor, Pós-Graduado em Gestão, Motricidade Humana e Direito no Esporte e Presidente da Associação Desportiva Saúde em Movimento.