Fotografia: Divulgação
Foi o Rodrigo Levino, grande jornalista e atualmente cozinheiro no Jesuíno Brilhante, em São Paulo, quem me lembrou da história. Era 2009, a gente estava na “Playboy” e eu queria um conto inédito do Rubem Fonseca pra edição de aniversário, que sempre saía em agosto. Levino mandou um e-mail pro Rubem e eu pensei em chamar o Rafael Grampá para ilustrar o conto. Mesmo Delivery tinha acabado de sair e achamos que seria cool juntar Grampá e Fonseca numa história policial. Conversamos com o Grampá, mas nada do Rubem Fonseca responder…
O tempo passando, o fechamento se aproximando e a gente meio que deixando a ideia pra lá. A edição tinha uma reportagem em quadrinhos do Allan Sieber em Paraty, um ranking com as melhores cachaças do Brasil, uma retrospectiva com a história da revista, um entrevistão com Christiane Torloni, Ivan Lessa e a Priscila do BBB na capa, que era a mais pedida naquele momento. Estávamos ok. Então, na boca do fechamento, chega o e-mail do Rubem Fonseca, com o conto já pronto e a conta: são dez mil reais.
Levino me conta que suou frio. Ao contrário do que diz a lenda, ninguém na Abril nadava em dinheiro, nem mesmo a “Playboy”, que liderava o segmento de masculinas. O Levino me levou o problema e eu pensei: “Porra, é um Rubem Fonseca inédito… que se dane o borderô editorial!”
E o conto saiu. Ilustrado pelo Grampá. Chama “Paixão” e está na edição de agosto de 2009. E o dinheiro… bem, agora que “Playboy” não existe mais, eu posso contar um segredo: nós tínhamos dois borderôs. Um mixo para o editorial e outro, mais polpudo, para os ensaios fotográficos. O jogo era negociar bem os cachês, que era uma das minhas funções e, mantido os custos sob controle, desviar alguns custos editoriais para o segundo borderô, que sempre tinha uma folga. E foi assim que publicamos um Rubem Fonseca inédito. Bons tempos aqueles.