Você já parou para pensar em como a vida é cheia de altos e baixos, frio na barriga, mãos suando, quedas, subidas, medos, esperança, lágrimas, sorrisos, angústias, encantamento? A vida é como uma sinfonia de Beethoven, com acordes melancólicos e românticos seguidos de estrondosas notas que exalam paixão e fúria. É possível dizer que se assemelha a um poema de Neruda, cheio de pesares e uma saudade tão doída que umedece os olhos. Ao mesmo tempo em que clama um amor doce e carnal, a figura da sua mulher perfeita que o torna rei e mendigo de si próprio.
Pra quem não é de mimimi e prefere a explicação navalhada como corte de bigorna, OK, aí vai. Posso dizer que tenho alguma experiência de vida e, meu irmão, ela é igual pra você, pra mim, pra dona Maria mãe de sete filhos, seu chefe, o segurança da boate, sua dentista, a vizinha chata que reclama do barulho do som, e até mesmo aquele jogador de futebol que fez seu time passar para a segunda divisão depois daquele gol contra! Te juro. No popular, somos todos farinha do mesmo saco.
Não estou aqui para falar de Deus, entrar nos méritos (ou não) das religiões, citar filósofos, me embasar em pesquisas científicas e humanitárias bem como seus mestres, pensamentos e lições de vida. Não. Quem sou eu? Sou uma cidadã como todos vocês, com problemas e dívidas que me saem pelos tampos! Sou aquela que acorda cedo com uma lista de coisas pra fazer e nunca termina o dia com todas cumpridas. Tenho dor de dente, cólica, enxaqueca e dor de barriga. Tenho contas para pagar, gente que depende de mim, faço comida, limpo a casa, troco lâmpada e conserto chuveiro. Trabalho, como, durmo, caminho, tomo banho. Rio de doer a barriga, choro de doer a alma. Me desespero, grito, xingo, viro a mesa, dou um basta. Mas depois vou lá e recolho os meus cacos no chão, colo com durex, cola ou com cuspe mesmo, boto em cima da mesa com um porta-retrato e umas flores no vaso. Até o próximo capítulo.
Me dei conta de que a vida é igual para todo ser vivo. Todo mundo canta, todo mundo dança, todo mundo fraqueja, todo mundo luta. Todos se cansam e se renovam, perdemos a fé, mas lá na frente a encontramos de novo. As pessoas amam, são amadas, cuidam e são cuidadas. Cada um à sua maneira, claro, e na sua intensidade. Tem gente que exige demais, outros, de menos. Mas exigir todo mundo exige. Me entende? Todo mundo quer alguma coisa. Tem quem mergulhe sem olhar o fundo, vai lá e se joga e seja o que Deus quiser. E tem aquele que bota o dedinho, depois a ponta do pé, a sola, o pé inteiro e, quando se dá conta, já foi, já molhou, já imergiu. Outra coisa: frustrar também é comum, tá? Você não é um E.T, o único que se decepciona com as pessoas, com projetos, sonhos que não se realizaram, coisas que a gente compra pela internet, o bolo que encomendamos e de que ninguém gostou, o vestido que compramos e que não tem salvação… Normal. Faz parte da vida. Vou apelar para o clichê, mas o que seria do azul se todos gostassem do amarelo? Para perceber e sentir o lado bom da vida, as vitórias, os bons sentimentos, o reconhecimento daquele esforço, a promoção, um novo amor, infelizmente (melhor dizendo felizmente), precisamos já ter experimentado o sabor amargo, a solidão, a derrota, o desamor, a falta de esperança, de controle, de amigo, de praticamente tudo.
É por isso que cheguei à conclusão de que cada um é dono e senhor da sua própria roda gigante. Umas giram mais lentas, outras parecem maiores, talvez mais coloridas ou iluminadas, algumas um tanto enferrujadas. Mas somos todos rodas gigantes. Todos nós giramos. Todos completamos ciclos. Por vezes estamos em cima, ora em baixo. Em alguns momentos no meio, na dúvida; inseguros quanto ao subir ou descer, aceleram ou deixar fluir. Então subimos, esticamos as mãos, sentimos a brisa no rosto e aquele frio na barriga. As mãos começam a suar, nos enchemos de esperança, parece que vamos tocar o céu, as nuvens, o sol, a lua, as estrelas. Somos poderosos, gargalhamos, chegamos ali no alto e aquela sensação de que nada poderá nos alcançar! É a plenitude da vida! Ou de um momento da vida. O vento sopra a seu favor, você é o maioral, tudo está dando certo! Até que, sem se dar conta, você se acomoda, encontra ali uma boa posição e a sua roda começa a descer, mas seu otimismo é tamanho que você até começa a se sentir seguro vendo o chão se aproximar. E vai descendo. Um ciclo está por se fechar. É quando as frustrações chegam sem avisar, seus medos começam a crescer na mesma proporção em que você se sente diminuir. Parece que uma onda gigante se aproxima e vai te engolir e te sacudir como uma máquina de lavar roupas. Você não vai saber onde é a terra, onde é o céu, não vai achar os seus pés, nem como se ajoelhar ou até engatinhar. A verdade é que você não vai saber nem mesmo se está vivo, respirando. Não consegue abrir os olhos e o único que é capaz de sentir são mil agulhadas perfurando o teu corpo. OK, amigo. Foi só uma queda. Brusca. Um tombo, pode se dizer. Tá certo curtir a sua dor e aprender com ela. Tem mesmo que tirar proveito para que a próxima seja menos traumática. Sim, próxima. Isso mesmo que você acabou de ler. Virão uma, duas, dez, talvez cem. Talvez menos doloridas, ou mais. Vai depender de quantos giros a sua roda girar. Até a vez em que ela parar. Aí, não tem o que fazer. O que eu quero dizer é o seguinte: você é a sua roda gigante. E tudo bem que terão altos e baixos, subidas e descidas, novos ciclos, novos ventos, dias e noites. Faz parte da vida, esse é o significado de estar vivo. Todos os vencedores já foram perdedores um dia. A conquista só chega depois da derrota. E pra quem luta, persiste, enfrenta, tenta mais uma vez e outra e outra e outra. Esperança é a palavra-chave. É na mão dela que você deve segurar na sua roda gigante.
Se você não reparou, esta é a quarta vez que uso a palavra esperança neste texto. Sabemos que o símbolo do infinito é representado pelo número oito deitado. Quatro é metade de oito. E se você tem esperança, você já tem meio caminho andado na sua jornada!