A Uruguaia, de Pedro Mairal

A Uruguaia, de Pedro Mairal

A Uruguaia veio sem muita indicação, veio chegando de mansinho. Não conheço ninguém que leu, ele não está nas listas de mais lidos, mais comprados ou mais importantes (por enquanto). Mas o livro veio chegando. Aparecendo aqui e ali e logo achei que estava se insinuando pra mim. A capa me levava de volta à entrada de Colônia del Sacramento. O título só me prometia coisas boas.

E aí que foi paixão ao primeiro capítulo. “A Uruguaia” é daquele tipo de livro que te transporta facilmente para outra realidade. Basta que você leia uma frase e pronto: você está em Montevideo. Indo e vindo em ruas que se tornam o cenário de reflexões provocadas pelo protagonista vencido e frustrado — um verdadeiro anti-herói, espelho do homem de meia idade de nosso tempo.

Escrito em forma de carta confessional para a esposa, a tragicomédia de um escritor argentino se desenrola numa viagem entre Buenos Aires e Montevideo de 17 horas, que se desdobram em outras tantas, numa tentativa de esclarecer e entender a vida e, ao mesmo tempo, numa busca ansiosa pela felicidade.

Repleto de sarcasmo e ironia, com referências literárias (Juan Carlos Onetti, Guimarães Rosa, James Joyce), alguma dose de erotismo, reviravoltas e um final tão surpreendente quanto possível e atual, “A Uruguaia” escancara inúmeros pedaços de nossas vidas. Nos vemos em Lucas Pereyra, que se mantém em movimento entre os cansaços da paternidade, desejos, complicações matrimoniais, a mudança do conceito de família e a decadência da figura do machão.

“A Uruguaia” só me trouxe diversão e leveza. Tentei dissolver a leitura pra ser feliz por mais tempo, mas não teve jeito: ele é rápido. Ainda sob encanto da leitura, indico fortemente para quem quer se divertir. Uma narrativa breve e sensível sobre os fracassos da vida. Para rir de si mesmo e das próprias desgraças. Para quem suporta as aflições atuais de forma estóica, mas anseia por leveza.

Tainá Corrêa

É publicitária.