O senso comum afirma que o livro é sempre melhor que o filme. Isso está longe de ser uma verdade absoluta. Os filmes “Laranja Mecânica”, “O Poderoso Chefão”, “Clube da Luta”, “O Silêncio dos Inocentes” são muito superiores aos livros que os inspiraram. “O Leopardo” e “O Senhor dos Anéis” são tão bons quanto os livros, mas temos que admitir que às vezes os produtores, diretores e elenco de algumas adaptações capricham para estragar a obra de referência. Pensando nisso a Revista Bula apresenta uma lista com 15 ocasiões em que o senso comum prevaleceu.
Um dos maiores mistérios do cinema é porque jamais conseguiram fazer uma boa adaptação da melhor história de Sherlock Holmes. Há versões no cinema mudo, há versões da década de 1950 e até mesmo adaptações modernas, mas nenhuma capturou a atmosfera de mistério e suspense do romance original.
Adaptar um super clássico da literatura é sempre uma tarefa muito difícil, mas pensando bem “Os Miseráveis” é basicamente um novelão, não apresenta dificuldades que, por exemplo, existem em “Moby Dick” e “O Nome da Rosa”. Pode ser comparado com “…E o Vento levou” que é também um novelão e o filme melhorou o livro original. Apesar de nenhuma adaptação deste romance ser realmente digna apenas uma cometeu o terrível erro de colocar Russell Crowe para cantar.
Com o sucesso da adaptação cinematográfica do clássico “O Senhor dos Anéis”, os estúdios de Hollywood começaram uma corrida para fazer adaptações de famosos livros de fantasias. O resultado foram produções apressadas, mal escritas e com cara de paródias como essa adaptação de C.S. Lewis. Só existe uma solução para ela: esconder dentro de um guarda-roupa.
Se “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa” foi ruim pelo menos tinha a desculpa de que era uma imitação barata. A trilogia de filmes adaptadas do romance infanto-juvenil “O Hobbit” foi dirigida pelo mesmo Peter Jackson que fez os filmes da saga “O “Senhor dos anéis. Literalmente estragou tudo. Além de ser uma imitação de si mesmo é mal escrito, mal dirigido, cheio de cenas idiotas e decisões equivocadas de adaptação. Foi salto alto? Acabou o talento? Pressão de produtores? Tudo isso junto? Jamais saberemos.
Um dos maiores romances da literatura brasileira merecia um pouco de respeito. Até Woody Allen leu e reconheceu que é genial. Porém, no lugar de uma adaptação minimamente digna temos Reginaldo Faria se fazendo de bobo na tela por duas horas. Transformaram a ironia fina de Machado de Assis em uma imitação barata dos besteiróis de Guel Arraes.
Os executivos de Hollywood devem ter o ingrediente secreto para estragar qualquer filme: escalar Colin Farrell para fazer qualquer papel na produção. Se for o protagonista é garantia de fracasso. Pelo menos temos a cena de Salma Hayek na praia para minimizar os danos. De resto, reduziram o livro a pó. Essa Coca-Cola é Fante.
José de Alencar ensinou o brasileiro a escrever romances. Alguém poderia ter ensinado Norma Bengell a fazer cinema. Imaginar Márcio Garcia como Peri só pode ser piada. Tem muito whey protein nessa tribo. Entre assistir esse filme e ouvir em looping por duas horas a abertura da Voz do Brasil ficamos com a segunda opção.
Alguma coisa não cheirava bem quando Patrick Suskind recusou vender os direitos de adaptação cinematográfica para o Stanley Kubrick. Poderia ter sido seu último filme, poderia ter sido uma obra-prima. No lugar disso tivemos uma adaptação que só não dizemos que não cheira e nem fede porque é levemente fedidinha.
José Saramago chorou quando assistiu a adaptação cinematográfica de seu romance ao lado do diretor do filme. Disse que gostou muito. Gentileza do bom velhinho. Um cineasta talentoso como Fernando Meirelles devia estar sofrendo de cegueira psicológica para ter conseguido deixar o filme tão mal-acabado, igualzinho o personagem interpretado por Woody Allen em “Dirigindo no Escuro”.
Existem muitas adaptações e ao mesmo tempo nenhuma adaptação cinematográfica de Dom Quixote. Sempre inventam uma forma de recortar a história ou contá-la de maneira simbólica. Prova disso é que a única adaptação em que as pessoas se lembram foi a feita por Orson Welles, que nem chegou a terminar. Mesmo sendo um gênio do cinema, Welles nem sempre acertou. Muitas vezes lutava contra moinhos de vento e entregava produtos inacabados, exatamente como é o caso deste filme. Quem mandou ter sido concebido no Brasil?
Pense em um livro perfeito para criar um épico cinematográfico com todos os ingredientes necessários: personagens fortes, ação, romance, suspense, mistério, terror, discussões filosóficas e muito mais. Agora pense em uma adaptação cinematográfica que ignorou tudo isso e só quis fazer uma imitação do filme “O Cangaceiro”. O pior de tudo é que entregou no meio do filme o maior mistério do romance, que só é revelado ao leitor nas últimas páginas. É triste pensar que Guimarães Rosa estava vivo quando o filme foi lançado. Fique com a ótima série de TV, em que a única dificuldade é tentar convencer o espectador de que Bruna Lombardi é um travesti.
Bernardo Élis é um dos nossos principais expoentes do realismo socialista literário. Imagine ele assistindo a um filme adaptado de seu romance em que a população de um vilarejo dança catira no terrão da praça enquanto um batalhão militar está chegando. É muita vontade de mostrar a cultura local. Não tem suspensão de descrença que aguente.
Tinha tudo para dar certo: uma grande história de um grande autor, Javier Bardem como protagonista, Fernanda Montenegro fazendo uma ponta, produção hollywoodiana. Mas o coquetel desandou e no lugar de uma reflexão sobre a imortalidade do amor temos um melodrama chato que desperdiça todo potencial da história e do elenco, que entrega interpretações canastronas. Os responsáveis por isso merecem ser condenados a cem anos de solidão.
O romance “O Código Da Vinci” foi levado a sério demais. Atribuíram a ele a revelação de segredos milenares. Nada disso, é apenas uma história policial de mistério e suspense, escrita de modo rápido e intrigante, que captura o leitor. O filme, com o mesmo enredo, é monótono, lento, desinteressante e sonolento. Mas nada pior do que a escalação de Tom Hanks para interpretar uma espécie de Indiana Jones com relógio de Mickey Mouse.
O romance “O Caçador de Pipas” pode ser classificado como um desses best-sellers programados para comover o leitor e fazê-lo se sentir inteligente, a exemplo de “A Caverna” ou “Quando Nietzsche Chorou”. Apesar do estilo frágil e pouco elaborado é possível sentir honestidade no autor. O filme transformou essas características em mero exercício hollywoodiano de empatia politicamente correta. Não assista, melhor ir empinar pipas.