Com tantos desastres e notícias ruins compartilhadas sucessivamente, cresce a percepção de que o mundo está se tornando um lugar pior com o passar do tempo. Mas, ainda que pareça egoísta, é necessário, às vezes, se desligar das previsões ruins para relaxar e descansar a mente. Afinal, nós só poderemos trabalhar por um futuro melhor se estivermos sãos. Nesse contexto, a leitura entra como uma atividade prazerosa e terapêutica, com poder de melhorar a ansiedade e a depressão. Para os que procuram bons livros que possam tornar os dias mais leves, a Bula reuniu em uma lista dez indicações. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais antigo para o mais recente.
Cândido vive com sua amada, Cunegunda, em um belo castelo e tem o prazer de ouvir diariamente os ensinamentos otimistas do mestre Pangloss. Apesar da crença absoluta na doutrina panglossiana, Cândido sofre um sem-fim de desgraças: é expulso do castelo; perde seu amor; é torturado por búlgaros; sobrevive a um naufrágio, quase perece em um terremoto e é roubado sucessivas vezes. Só então ele começa a desconfiar do otimismo exacerbado de seu mestre. “Cândido, o Otimista” é um retrato satírico de seu tempo. Escrito em 1758, situa o leitor entre fatos históricos como o terremoto que arrasou Lisboa em 1755 e a Guerra dos Sete Anos (1756-63), enquanto critica com bom-humor as regalias da nobreza, a intolerância religiosa e os absurdos da Santa Inquisição.
Publicado em 1901, o texto levanta questões ainda atuais e, mais do que oferecer respostas e conclusões, nos faz pensar sobre a nossa sociedade e a forma como suas diferentes classes interagem entre si. Bernard Shaw transita por temas de grande importância por meio de uma prosa leve e fluída. Contrário a atividades filantrópicas que, segundo ele, serviriam para dispensar o governo de cumprir seu dever público, escreveu em “Socialismo para Milionários” um libelo à liberdade de pensamento e, ao contrário do que possa parecer, um singular ensaio humanista disfarçado de guia de comportamento para milionários. Bernard Shaw (1856-1950) foi uma das personalidades mais poderosas de sua época. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1925.
Em conversas com um psicanalista, o advogado nova-iorquino Alexander Portnoy discorre sobre seu passado: a infância abastada, a descoberta do sexo na adolescência com as tentativas frustradas de perder a virgindade, e sua vida atual, em um relacionamento conturbado com uma amante bela, mas semianalfabeta. Portnoy confessa que foi impelido ao longo da vida por uma sexualidade insaciável, mas ao mesmo tempo refreado pela mão de ferro de uma infância inesquecível. Afinal, ele é totalmente incapaz de se livrar da ligação paralisante com a mãe. Quando lançado, em 1969, “O Complexo de Portnoy” se tornou best-seller e foi saudado como a consagração definitiva do talento de Philip Roth.
Isadora Wing é uma escritora nova-iorquina casada pela segunda vez. Aos 29 anos, ela acaba de publicar um livro de poesias eróticas e se torna uma grande sensação. Isadora é uma mulher sonhadora, mas insegura, que costuma ir atrás de psiquiatras para tentar resolver seus problemas. A escritora viaja para Viena para acompanhar o marido, Bennet, em um congresso de psicanálise. Lá, ela se envolve com um outro psicanalista participante do evento, Adrian Goodlove. Isadora sente que Adrian lhe oferece tudo o que ela deseja, mas não encontra em seu casamento: paixão, desejo, excitação e perigo. Assim, ela começa a trair Bennet. Durante os encontros, Isabela relata para Adrian os excêntricos relacionamentos afetivos que já viveu.
Ele recebe seus clientes de bombacha e pés no chão, nunca deixa de oferecer um chimarrão e o divã de seu consultório é coberto com um pelego (pele de carneiro). Psicanalista da linha “freudiano barbaridade” é acusado de ser grosseiro e machista, mas se defende: “digo o que tenho que dizer, o último desaforo que levei para casa foi a minha mulher”. Assim é o Analista de Bagé, um dos personagens mais marcantes de Luis Fernando Verissimo, um psicólogo que trata os males da alma sem papas na língua. Divertido, levemente alucinado e sem noções mínimas de ética, ele entrega ao leitor histórias estapafúrdias e revelações íntimas de seus pacientes.
“Correio do Tempo”, é uma coletânea de contos dividida em quatro partes: Sinais de Fumaça, Correio do Tempo, As Estações e Colofão, que, em sua etimologia, significa “o fim de uma obra”. Os contos tratam dos mais diversos tipos de encontros e despedidas, do distanciamento, da ressignificação e da passagem do tempo: uma criança que passa alguns dias na casa do pai separado, um homem doente que escreve ao amigo pela última vez, uma visita inesperada de um preso político ao seu algoz, sobreviventes de naufrágios que se encontram acidentalmente em uma ilha deserta e o relato de um homem preso por matar quem amava. Mario Benedetti é considerado um dos maiores escritores uruguaios, seus livros foram traduzidos para mais de 20 idiomas.
Nascido no porão de uma livraria de Boston, nos anos 1960, o rato Firmin foi o único da sua ninhada a desenvolver a capacidade de leitura. Marginalizado pela sua família, ele busca fazer amizade com um livreiro, que é seu herói, e com um escritor fracassado. Firmin tem uma fome insaciável pelos livros e, por meio da leitura, se transporta para diferentes lugares. À medida em que aperfeiçoa seus conhecimentos, o rato adquire emoções e sonhos com características humanas. “Firmin”, a primeira obra de Sam Savage, foi publicada originalmente pela Coffee House Press, uma pequena editora independente de Minneapolis. Ainda assim, vendeu mais de 1 milhão de cópias e se tornou um grande sucesso em todo o mundo.
Linda e com uma carreira de sucesso, Adriana tem 38 anos e sofre com as inseguranças da idade. O corpo, embora bonito, não tem mais a firmeza encontrada nas meninas de 20 e, por dentro, as marcas de sucessivas decepções amorosas a tornaram extremamente desconfiada. Nesse contexto, entra na vida de Adriana um jovem ator de 24 anos, se dizendo completamente apaixonado por ela. Mesmo sem querer acreditar muito que possa ser verdade, Adriana termina embarcando na história.
Tudo parece ir bem até que ela descobre estar sendo traída com uma modelo de 21 anos. Então, a designer monta um elaborado plano de vingança, com o objetivo de destruir “aquilo” que a maioria dos homens mais preza na própria anatomia.
A fama de Bernadette Fox precede-a. No círculo restrito do design mundial, ela é uma arquiteta revolucionária. Para o marido, um guru da Microsoft, ela é prodigiosa e atormentada. Segundo os vizinhos e conhecidos, ela representa uma ameaça. Mas aos olhos da filha, Bee, ela é, simplesmente, a melhor mãe do mundo. Um dia, Bernadette desaparece. Enquanto todos parecem reagir à sua ausência com diversos graus de alívio, Bee é a única disposta a encontrá-la. Ela compila e-mails, documentos oficiais e correspondências secretas, buscando entender quem é essa mulher que ela acreditava conhecer tão bem e o motivo de seu desaparecimento. Mas, Bernadette não quer ser encontrada e tem inteligência suficiente para se manter uma incógnita.
Lawanda trabalha num hospital, mas não está ali para lidar com os pacientes. Ela é uma das encarregadas da limpeza e vive sob a fiscalização da insuportável Lucrécia, que insiste em controlar seus horários. Mas, como os serviços de faxina são mal pagos, Lawanda precisa de outros meios para conseguir comprar os besouros que coleciona. Assim, presta pequenos serviços escusos aos internos do hospital. Ela também é colecionadora de borboletas, que costura com esmero em suas calcinhas. Faz esta e outras macumbas para que seu amado José Júnior largue a mulher. Na cama, Lawanda sabe que é imbatível, mas o rapaz tem dificuldades de se libertar. Com humor desbocado, Juliana Frank narra as várias facetas do universo fantástico dessa jovem mulher que foge a todas as convenções.