Os 10 melhores filmes de guerra da história do cinema

Os 10 melhores filmes de guerra da história do cinema

Bom dia, Vietnã. O meu nome é Patton. O ano era 1917. Muito antes de me tornar um escritor de bulas, eu já montava cavalo de guerra e secava as lágrimas do sol. Nascido em 4 de julho, era eu quem cuidava dos canhões de Navarone, limpando com flanela e saliva a fuligem triste, pavorosa, da pólvora queimada. Sem que os outros percebessem, eu sabotava as armas, eu desalinhava as miras. O meu intento de paz era que as balas errassem o alvo. Além da linha vermelha, eu era um soldado universal, desmoralizado, ridicularizado pelo restante da tropa, só porque eu vivia dizendo que a vida é bela. Ora, durante a guerra, fomos heróis. Mesmo assim, não se diz uma coisa como essa nem para o melhor inimigo, nem para o último samurai. Era isso que bradavam os meus camaradas.

Eu tinha ficado com essas sentimentalidades desde que conheci o menino do pijama listrado e participei do resgate do soldado Ryan, que estava entre os doze condenados — santos ou soldados? — que tinham sido capturados por feras sem nação, certos bastardos inglórios que invadiram Dunkirk. Doutor Jivago e Doutor Fantástico eram homens justos, médicos-capelães que cuidavam dos feridos do meu destacamento. A certo ponto, eles diagnosticaram que eu já não tinha mais jeito, que eu não tinha nascido para matar, que eu não tinha ódio suficiente para ser um soldado. Guerreiros de verdade tinham que possuir corações de ferro para não vacilar na hora de apertar o gatilho.

Por isso, os apostólicos doutores instruíram que Lawrence da Arábia, o franco atirador que recebera uma medalha de platoon em Gallipoli, incluísse o meu nome na lista de Schindler, a fim de que eu fosse liberado do exército o mais rápido possível e retornasse para o império do sol. Enquanto isso, com fins de evitar dano maior à tropa, destacaram-me para zelar do túmulo dos vagalumes. Neurastênico, macambúzio, sorumbático, confrontado pela hora mais escura, sentado no guarda-corpo da ponte do rio Kwai — uma ponte longe demais — eu pescava ilusões e pensava em Ilsa Lund, a minha noiva. Escrevia para elas cartas de Iwo Jima. Meu coração estava tão miúdo que nem mesmo um sniper americano conseguiria alvejá-lo a uma distância de trinta jardas.

Apesar da covardia, da fraqueza moral e do excesso de poesia, eu cogitava deixar aquele círculo de fogo depois de assinado o armistício. Mas, como eu já expliquei, fui precocemente diagnosticado impróprio, incapaz para matar. Então, colocaram-me dentro de um trem e me mandaram de volta para casa. Ilsa Lund sabia que eu voltaria. Assim que desci na estação, fui direto para Casablanca, um restaurante que funcionava dentro do Hotel Ruanda. O pianista judeu tocava o mesmo repertório que eu ouvira antes de ter sido recrutado para lutar pela nação. Sentada na mesa de sempre, avistei a minha bela Ilsa Lund tomando Apocalipse Now, uma especialidade da casa preparada com gim, terebintina, Cuspe Sour e raspas-de-ferida. Era linda a minha gata. Até o último homem se apaixonaria por uma criatura como aquela. Nunca me esqueci das palavras confiantes que ela me disse, assim que soube do meu recrutamento: “Vá e veja, meu amor”.

Fui e vi, mas, não gostei do que vi. Glória feita de sangue era o tipo de coisa incabível na minha visão simplista de mundo. “Não há nada de novo no front, principessa.” Surpresa, ela levantou-se da cadeira, segurou a queda e se atracou em mim, como se eu fosse Pearl Harbor e, ela, uma fragata aliada. O patriota estava de volta. O gladiador tinha voltado, depois de penar horrores fugindo do inferno, vivendo um tempo de glória e de guerra ao terror. Nos braços do meu amor, senti uma paz interna que há tempos não sentia, um sentimento peculiar e genuíno, concebível apenas a um homem que está a um passo da eternidade.

Após votação que envolveu centenas de leitores da Revista Bula, foram elencados os dez melhores filmes de guerra da história do cinema. Eles estão listados em ordem aleatória. Como sempre acontece com qualquer lista, a polêmica estará garantida. Nada, contudo, que nos fará guerrear em defesa das preferências individuais. Viva a paz entre os homens. Viva o cinema mundial, uma arte que não nos permite esquecer das virtudes e das atrocidades perpetradas pelo ser humano ao longo da história. Boas sessões a todos. Fiquem em paz e que Elvis os acompanhe.

Eberth Vêncio

Eberth Franco Vêncio, médico e escritor, 59 anos. Escreve para a Revista Bula há 15 anos. Tem vários livros publicados, sendo o mais recente Bipolar, uma antologia de contos e crônicas.