Nos últimos anos, as aceleradas transformações tecnológicas impactaram a literatura. Há muito mais conteúdo disponível, mas as pessoas leem menos e os livros físicos perdem cada vez mais espaço. Ainda assim, obras excelentes foram lançadas ao longo da última década (2010-2019), revelando talentos que guiarão as próximas gerações de escritores. Entre esses lançamentos, os críticos literários da revista norte-americana “Esquire” elencaram os 10 mais impactantes. De acordo com os jornalistas, os livros escolhidos possuem “uma prosa finamente trabalhada e estrutura imaginativa” e conseguem “desafiar os limites da literatura e os conhecimentos já estabelecidos sobre o mundo em que vivemos”. A Bula reuniu em uma lista as obras selecionadas, juntamente com as sinopses, que foram adaptadas das utilizadas pelas editoras.
Aos 30 anos, Henrietta Lacks descobriu que tinha câncer. No Hospital Johns Hopkins, onde veio a falecer em 1951, uma amostra do seu colo do útero foi extraída. Os pesquisadores descobriram que as células cancerígenas do tecido possuíam uma característica inédita: mesmo fora do corpo, multiplicavam-se rapidamente, tornando-se imortais num meio de cultura adequado. Usadas em várias pesquisas, essas células permitiram o surgimento de uma bilionária indústria de medicamentos sintéticos. Nesse livro, Rebecca Skloot compõe um comovente relato da vida e morte da mulher negra e humilde que mudou a história da medicina.
Antes de morrer, o fotógrafo Robert Mapplethorpe pediu que Patti Smith escrevesse um livro sobre a relação dos dois. A partir dessa promessa, ela escreveu “Só Garotos”. Na obra, Patti relata desde o seu nascimento, em 1946, até a morte de Robert, em 1989, devido à AIDS. Após uma infância difícil em Chicago, em 1967 ela se mudou sozinha para Nova York, onde chegou a morar na rua. Em meio às dificuldades, ela conheceu Robert, que mudou sua vida para sempre. Com disposição e talento de sobra, eles viveram intensamente períodos de grandes transformações, transformando seus impulsos destrutivos em trabalhos criativos.
Esse é o primeiro livro da Série Napolitana, escrita por Elena Ferrante, o pseudônimo de uma escritora italiana, cuja identidade é mantida em segredo. A série é composta por quatro romances que contam a história de duas amigas ao longo de suas vidas. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, se aproxima da rebelde vizinha Lina. Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela. As duas se unem, competem, brigam e fazem planos. Em um bairro marcado pela violência, as meninas crescem sonhando com um futuro melhor.
A família Bigtree é dona de um dos maiores parques de jacarés das ilhas da Flórida, o Swamplândia. Mas, com a chegada de outro estabelecimento maior e mais moderno na região, o negócio dos Bigtree vai à falência. Além disso, a matriarca da família, que apresentava o número principal com os jacarés, acaba de morrer, deixando o marido e três filhos adolescentes. The Chief, o pai, decide viajar em busca de investimentos para manter o parque. Kiwi, um dos filhos, vai trabalhar na concorrência, enquanto sua irmã, Osceola, desaparece em um ritual mágico. Sozinha na ilha, Ava aceita a ajuda de um desconhecido que promete ajudá-la a encontrar a irmã, Osceola.
Ta-Nehisi é um jornalista norte-americano que trabalha com a questão racial desde que escolheu sua profissão. Filho de militantes do movimento negro, ele sempre se questionou sobre o lugar que é relegado ao negro na sociedade. Em 2014, quando o racismo voltou ao centro dos debates dos Estados Unidos, Coates escreveu uma carta ao filho adolescente, na qual compartilha uma série de experiências reveladoras sobre como é ser negro no país. Em um trabalho profundo que articula grandes questões da história com as preocupações mais íntimas de um pai por um filho, “Entre o Mundo e Eu” mostrou uma nova forma de compreender o racismo.
Um agente duplo comunista sem nome se infiltra no exército sul-vietnamita e consegue se refugiar nos Estados Unidos depois da Queda de Saigon. Pessoa de confiança de um general que se recusa a admitir a derrota para os vietcongues, ele observa o esforço dos refugiados vietnamitas para sobreviver em uma melancólica Los Angeles, enquanto secretamente reporta a seus superiores comunistas no Vietnã. Durante uma missão de guerrilha, ele é capturado e preso. No cárcere, escreve uma reflexão dos eventos que o levaram à prisão. “O Simpatizante” foi o ganhador do Pulitzer em 2016.
Arthur Less é um escritor medíocre prestes a completar 50 anos. Certo dia, recebe um convite de casamento: o homem com quem teve um longo relacionamento irá se casar. Ele não pode dizer que irá comparecer, pois seria estranho demais, e não pode dizer que não vai, já que seria o mesmo que admitir a derrota. Como pretexto para não estar na cidade, ele aceita convites para eventos literários em várias partes do mundo. Assim, Less vive aventuras em diferentes cidades, desde uma paixão em Paris até um retiro espiritual na Índia. “As Desventuras de Arthur Less” ganhou o Pulitzer em 2018.
Em 1862, durante a Guerra Civil, o filho do presidente Lincoln, Willie, fica gravemente doente e morre em questão de dias. Willie é enterrado em um cemitério de Georgetown. Os jornais relatam que Lincoln, pesaroso, retorna à cripta do filho todos os dias para abraçar seu corpo. A partir desse relato comovente e verdadeiro, George Saunders dá voz aos fantasmas que estão no Bardo, um local de transição entre a Terra e o próximo nascimento. Eles estão no Bardo porque foram infelizes em suas escolhas durante a vida e agora precisam pagar uma penitência. Entre os espíritos está Willie, o filho de Lincoln.
Membro das tribos Cheyenne e Arapaho, de Oklahoma, nos Estados Unidos, Tommy Orange escreve uma obra sobre identidade, pertencimento e violência contra os povos nativos norte-americanos. A história se divide entre 12 personagens, descendentes de índios, que se encontram no Powwou, um grande festival de música e cultura indígena. Entre eles, estão Jacquie, que está sóbria há pouco tempo e deseja reencontrar a família; Dene Oxendene, que pretende honrar suas raízes e produzir um vídeo sobre a comunidade durante o evento; e Edwin Black, que acredita ser o filho do mestre de cerimônias do festival.
Considerado o livro mais ambicioso da história americana, “These Truths”, escrito pela historiadora Jill Lepore, oferece um relato das origens e da ascensão dos Estados Unidos. Lepore baseia sua obra nas três “verdades” da nação, chamadas por Thomas Jefferson de igualdade política, direitos naturais e soberania do povo. Começando em 1942 até os dias de hoje, a escritora analisa se os eventos ocorridos ao longo de cinco séculos comprovaram ou desmentiram as verdades da nação. Segundo o jornal “The New York Times”, esse livro moldará para sempre a nossa visão sobre a história americana.