A Revista Bula realizou uma enquete entre os meses de setembro e novembro de 2019, com o objetivo de descobrir quais são, segundo os leitores, os melhores romances brasileiros publicados na última década. A consulta foi feita a assinantes da newsletter — via formulário de pesquisa — que poderiam indicar entre 1 e 10 livros de autores diferentes e publicados a partir do dia 1º de janeiro de 2010. Dois mil e cinquenta e três participantes, de 26 Estados e do Distrito Federal, responderam à enquete. Nos casos de autores que tiveram mais de um livro citado, foi considerado apenas o romance que obteve o maior número de indicações na pesquisa. O critério de desempate, quando necessário, foi a nota atribuída aos títulos na rede social de leitura Skoob. Os livros foram divididos em quatro categorias, de acordo com o número de indicações: +80, +60, +50 e +30. As sinopses são adaptadas das utilizadas pelas editoras.
Foram citados escritores das regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul foram os estados com o maior número de escritores mencionados, com duas indicações cada. Entre os escritores cujas obras foram selecionadas, apenas dois não estão vivos: Elvira Vigna e Victor Heringer. Com relação à idade, o mais jovem seria Heringer, que nasceu em 1988, e o mais velho é Evandro Affonso Ferreira, nascido em 1945.
Livros que obtiveram mais de 80 indicações
Um professor de educação física busca refúgio em Garopaba, um pequeno balneário de Santa Catarina, após a morte do pai. O protagonista, cujo nome não conhecemos, se afasta da relação conturbada com os outros membros da família e mergulha em um isolamento geográfico e psicológico. Ao mesmo tempo, ele empreende a busca pela verdade no caso da morte do avô, o misterioso Gaudério, que teria sido assassinado décadas antes na mesma Garopaba, na época apenas uma vila de pescadores.
Dois estranhos se encontram num verão escaldante no Rio de Janeiro. Ela é uma designer em busca de trabalho, ele foi contratado para informatizar uma editora moribunda. O acaso junta os protagonistas numa sala, onde dia após dia ele relata a ela seus encontros frequentes com prostitutas. Ela mais ouve do que fala, enquanto preenche na cabeça as lacunas daquela narrativa. Elvira Vigna parte desse esqueleto para criar um livro sobre relacionamentos, poder, mentiras e imaginação.
Desenganado pelos médicos, Murilo Filho, um cronista esportivo de 80 anos, tenta se reaproximar do filho, Neto, com quem brigou há um quarto de século. Toda semana, em pescarias dominicais, Filho preenche com saborosas histórias dos craques do passado o abismo que o separa de seu rebento. Revisor de livros de autoajuda, Neto leva uma vida medíocre colecionando quinquilharias dos anos 1970 e conquistando moças. Desde os 5 anos, quando a mãe se suicidou, sente-se desprezado pelo pai.
Livros que obtiveram mais de 60 indicações
No calor de um subúrbio carioca, um garoto cresce em meio a partidas de futebol, conversas sobre terreiros e o passado de seu pai, um médico na década de 1970. Na adolescência, ele recebe em casa um menino apadrinhado de seu pai, que morre tempos depois num episódio de agressão. O garoto cresce e esse passado o assombra diariamente, ditando os rumos de sua vida. Essa história, aparentemente banal, é desenvolvida com maestria ficcional e grandeza quase machadiana.
Nesta obra, o leitor se vê diante de um diálogo da narradora: uma mulher que está no fim da vida, em um leito de hospital e se imagina caminhando pelas ruas da cidade. Em seus devaneios, ela observa a vaidade humana enquanto relembra suas perdas e a relação com um amigo escritor que já morreu. Assemelha seus dramas aos da figura mitológica Antígona. Com este livro, Evandro arremata a trilogia composta também por “Minha Mãe se Matou Sem Dizer Adeus” (2010) e “O Mendigo que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam” (2012).
Livros que obtiveram mais de 50 indicações
Alice é uma professora aposentada, que tinha uma vida pacata em João Pessoa, até ser obrigada pela filha a se mudar para Porto Alegre. Ao chegar na cidade, recebe a notícia de que a filha e o genro irão passar seis meses na Europa. Sozinha em uma cidade desconhecida, Alice se revolta por ter deixado João Pessoa e passa a registrar seus sentimentos em um diário. Ao saber que Cícero Araújo, filho de uma amiga paraibana, desapareceu em Porto Alegre, Alice começa a procurá-lo pelas ruas da cidade. Por 40 dias, ela vagueia só, em uma busca frenética que pode levá-la a insanidade.
José Victor, um publicitário, faz confissões por e-mail ao melhor amigo. Os textos falam de sexo e amor, casamento e traição, usando termos e piadas ofensivas que contam a história de uma longa crise pessoal. Após o divórcio, a ex-mulher de José expõe suas conversas eletrônicas na internet de uma forma inescrupulosa. Fora de contexto, as mensagens soam preconceituosas e humilhantes, tornando o publicitário um alvo de linchamento virtual. Assim, José Victor se vê diante de um tribunal e analisa o comportamento de seus acusadores.
Livros que obtiveram mais de 30 indicações
Uma enorme máquina taquigráfica chega ao Rio, vinda numa embarcação do Recife. Quem acompanha o desembarque é seu criador, o padre Francisco João de Azevedo. A máquina é uma das revoluções do século 19. Com ela, sermões e discursos poderão ser transcritos com agilidade, como que num registro do progresso brasileiro. Dezenas de inventores se agrupam no prédio da Exposição Universal, que receberá visita do imperador D. Pedro e investidores de todo o mundo.
“O mar de fora e o mar de dentro” é a expressão usada em Fernando de Noronha para diferenciar as águas que separam o arquipélago do continente e as que se abrem para o Atlântico. Além disso, resume o embate que dá força ao romance. Tobias, historiador que vive entre a expectativa do futuro e as angústias do passado, narra sua incursão no arquipélago para elaborar roteiros turísticos. Além dele, o leitor conhece também o delegado Nelsão, responsável pela investigação de duas mortes misteriosas.
Em 1739, o fidalgo português Luís de Assis Mascarenhas, governador da Província de São Paulo e Minas dos Goyazes, dirige-se ao Arraial de Santana com o propósito de preparar as minas de ouro para serem província autônoma. Um filho bastardo do Anhanguera — o descobridor das minas de ouro —, que segue de perto a comitiva de Dom Luís exercendo funções de vigia, é o narrador dos acontecimentos sempre insólitos que pontuam a viagem pelo sertão inóspito das terras goianas.