Escrevi aqui na Bula sobre o Coringa e um monte de gente saiu me xingando, mas a culpa é do Batman e não minha. Digo e provo. O Homem-Morcego justifica e explica o Coringa e, sem entender o herói, fica difícil curtir a história do vilão.
Afinal, o que é o Batman? Um bilionário que se veste de morcego e sai à noite para espancar gente pobre. Ele podia usar a imensa fortuna que tem para promover ações sociais, mas não — prefere dar porrada em excluído. Gotham City é uma cidade extremamente violenta, mas Bruce Wayne alguma vez pensou em organizar uma campanha junto aos amigos bilionários para equipar a polícia? Não. Ele prefere agir acima da lei. E apesar de ser um vigilante mascarado, praticamente um miliciano, conta com a cumplicidade e complacência do comissário de polícia. É assim que funciona o sistema, parceiro.
Outro problema bastante sério em Gotham é a segurança das penitenciárias. O Batman pega o Coringa, o Coringa escapa. Prende, escapa de novo. E de novo e de novo e de novo. A mesma coisa acontece com Duas-Caras, Pinguim, Mulher-Gato e o resto da bandidagem. Mas o bilionário Bruce Wayne já doou algum dinheiro para melhorar a segurança dos presídios? Já contribuiu para trocar as fechaduras, pelo menos? É claro que não. Sem os delinquentes soltos, como ele daria vazão ao seu sadismo fetichista? Batman precisa deles na rua, provocando o caos, para que ele possa posar como agente da ordem, embora seja também um fora-da-lei.
O Coringa, meus amigos e minhas amigas, é tipo o Adélio Bispo do Bruce Wayne. Ele só não está no Asilo Arkham porque aqui não tem sucursal.
(Se eu fosse esperto, parava o artigo aqui. Mas eu sou uma besta, sempre fui. Vivo arrumando encrenca quando não preciso. Deve ser patologia.)
Existe, ainda, uma outra questão polêmica e difícil de abordar nesses tempos obtusos, mas precisamos falar sobre ela também. Não quero fazer intriga, mas Bruce Wayne vive numa mansão com um mordomo inglês e vários órfãos que ele decidiu, digamos, adotar. O cara é uma espécie de Angelina Jolie de Gotham City. Só que, ao contrário da atriz, ele obriga os rapazes a sair na rua de cueca e colã para dar porrada em criminosos. Expõe os jovens ao perigo e ainda lhes fornece uma péssima formação moral e política. Isso deveria ser tema de conselho tutelar ou ser enviado pra vara da infância e juventude. Mas Bruce Wayne permanece intocável, pois é assim que a elite age em Gotham City, meus amigos.
Para finalizar, minhas queridas e meus queridos, gostaria de dizer que o Batman e o Coringa são farinha do mesmo saco. São duas faces de uma mesma moeda gigante que fica na bat-caverna, bem ao lado do tiranossauro-rex empalhado. Os dois são frutos doentios da nossa adorada, porém muito sofrida Gotham City. Por isso, votem direito na próxima eleição. Oswald Cobblepot 2022. Gotham City é a gente que faz.