Paroxítonas são a grande parte das palavras da Língua, força poderosa que define quase tudo o que dizemos e escrevemos. Imenso conjunto, mas pouco unido, plebe rude e talentosa que volta e meia abre mão de seus direitos em prol de oxítonas blasés (essa inodora classe do meio) e áticas proparoxítonas (essas políticas idílicas no Congresso do nosso léxico).
As humildes paroxítonas se esqueceram de onde vieram. Esqueceram que são a força motora do sistema: sem elas, nada anda, nada se desenvolve. Escrevem-se textos inteiros apenas com paroxítonas, mas nunca com oxítonas bocós e proparoxítonas plásticas.
Paroxítonas, notamos, quase não trajam acentos, aquelas coroas metidas e pomposas que nem encostam na cabeça das letras. Coroas celestes, presunçosas, impositivas e seletivas. Seletivas sim, pois nunca dispensam as donas do Congresso: todas as proparoxítonas a carregam. É a medalha de honra daquela casta sorumbática.
Há eras, exploram-se as paroxítonas, as quais pagam altos impostos com zero retorno. Sem que elas se dessem conta, na primeira noite eles chegaram e violaram seu interior em metafonias carregadas de vontades: “ôvo” vira “óvos”, “pôrco” vira “pórcos”, “jôgo” vira “jógos”, decretaram. Do nada, sem aviso prévio, entraram em suas casas e determinaram que, quando pluralizadas, devem-se acender todas as luzes.
Na segunda noite, algumas paroxítonas, traidoras de sua espécie, já não se esconderam: tentaram ascendência na vida, prostituindo-se em troca da semelhança com a elite: tomemos “córtex” e “bíceps”, por exemplo. Fajutas e baratas, por pouco não venderam a alma à pérfida presidência das proparoxítonas. Algumas, infelizmente, conseguiram meia-entrada: história, ingênuo, início. Traiçoeiras, aceitam a veste da elite, resignando-se o mais baixo dos batismos: proparoxítonas aparentes. Pois que vivam de aparência. Umas falsas.
Na terceira noite, a paroxítona mostrou-se franciscana como nunca: num lapso de humildade (fraqueza?), deu o próprio corpo à sua grande exploradora. Renúncia da própria liberdade, renúncia de seu eu. Paroxítona — ela própria, ela palavra, ela mesma! — agora traja a coroa eterna, e hoje é proparoxítona.
Paroxítonas, unam-se! Juntem-se, levantem a cabeça, voltem às origens! A essência de tudo são as senhoras! Vida, casa, morada, Cristo! Sem as senhoras, não há nada, além de melancólica escuridão.
Um conclame às paroxítonas. Libertem seus corpos, paroxiTOnas!