Escrever é uma abominação aos olhos de deus e dos homens. Nada de bom advém desse hábito feio de enfileirar letras e palavras em frases que não fazem sentido algum. Obadih obadah yeah yeah lahlahlah. Olha isso que eu acabei de escrever. Pra quê serve isso? Pra nada. Escrever é arrumar encrenca e ninguém precisa de mais encrenca na vida.
Semana passada, por exemplo. Semana passada, escrevi na Revista Bula um textinho sobre whisky. Nem bem a coisa tinha sido uploadada e a redação já estava cercada por uma multidão de aldeões com tochas e forcados gritando: “Justiça para o Jack Daniels! Dê-nos a cabeça do Aran!”
Onde os aldeões conseguem arrumar tochas e forcados em 2019 é um desses grandes mistérios da humanidade. É possível que eles sejam todos amigos do prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Ele tem o maior jeitão de quem é íntimo de aldeão com tocha na mão.
A razão da comoção é que cometi o desatino de escrever que Jack Daniels é um bourbon, o que é uma grossa empulhação. Embora o velho Jack seja feito como bourbon, com ingredientes de bourbon e tenha gosto de bourbon, ele não é um bourbon, mas sim um Tennesee Whiskey, pois o bourbon é uma denominação de origem controlada que fica no Kentucky. O Tennesee e o Kentucky são vizinhos, mas um não gosta muito do outro, embora os dois tenham escolhido juntos o lado errado na Guerra de Secessão. O Kentucky fica do lado de cima e por isso se acha superior. A questão do bourbon é tipo assim: imagine que, amanhã, Salinas ganhe na Justiça o direito de ser a única região do país a produzir “cachaça” e Paraty tenha de escolher outro nome pra sua aguardente.
Já que não podia ser bourbon, o Jack Daniels apelou e começou a queimar os barris por dentro com folhas de bordo, o que dá à bebida um leve sabor adocicado… de bourbon. Quer dizer, embora seja um Tennessee Whiskey por fora, o Jack é um bourbon por dentro. Igual a um amigo meu, o Jeremilson, que nasceu homem e negão, mas que, por dentro, é uma moça vietnamita chamada Xuan Linh.