Na Fórmula 1, a vitória ou derrota de um piloto em uma prova não depende exclusivamente de talento, mas sim de uma série de fatores. E, ao longo dos tempos, muitos foram os agentes decisivos em títulos mundiais: equipe, piloto, condições climáticas e acidentes — fatais ou intencionais. Até em campeonatos equilibrados, como o de 2008, os imprevistos mudaram a história: basta lembrar que Lewis Hamilton conquistou o título daquele ano por um ponto, beneficiado por alguns erros de Felipe Massa. Em 2007, a espionagem também marcou território, tirando pontos importantes da McLaren, o que possibilitou a vitória de Kimi Raikkonen, da Ferrari. Mas, independentemente das variáveis, existiram pilotos lendários em cada época da competição. Obviamente que listas são sempre incompletas, idiossincráticas. Sabe-se que, como a percepção, a opinião — que é a base da maioria as listas —, é algo individual. O resultado não pretende ser abrangente ou definitivo e corresponde apenas à opinião do autor do texto.

O britânico Stirling Noss nunca se sagrou campeão da categoria, mas seu reconhecimento vem de sua genialidade para pilotar. Contemporâneo do lendário Juan Manuel Fangio, Moss enfrentou muitas dificuldades para se manter no topo, podendo ser considerado o maior piloto que não ganhou nenhum título. Entre os anos de 1948 e 1962, disputou 529 corridas em diferentes modalidades, vencendo 212 delas. Também se destacou por sua atitude desportiva: em 1958, na Fórmula 1, defendeu seu concorrente Mike Hawthorn após uma manobra irregular feita por ele. Com a defesa, Mike recuperou os pontos e ganhou o campeonato de Stirling.

Tricampeão da Fórmula 1, o austríaco Niki Lauda é o único piloto da história a ser vencedor tanto pela Ferrari quanto pela McLaren. Sua carreira foi marcada pelo acidente que sofreu em 1976, em Nurburgring, episódio narrado no filme “Rush” (2013), de Ron Howard. Teve que se afastar das pistas, mas voltou após seis semanas de tratamento e, apesar de perder o título daquele ano, foi campeão novamente em 1977. Niki Lauda superou limites físicos e mentais e teve uma trajetória marcada por conquistas também fora das pistas, como a criação de uma companhia aérea. Ganhou o último título em 1984, encerrando sua carreira no ano seguinte.

O escocês Jackie Stewart, tricampeão mundial da Fórmula 1, subiu ao pódio do campeonato como vitorioso 27 vezes, recorde superado só em 1987, pelo francês Alain Prost. Stewart teve uma carreira curta (1965-1973), rivalizando temporariamente com o brasileiro Emerson Fittipaldi. Considerado um piloto agressivo e técnico, tinha como principal característica a eficiência e, mesmo não gostando de correr riscos, era notável em dias de chuva. Foi o primeiro piloto a exigir melhores condições de segurança e o idealizador do capacete integral e do macacão antichamas. É visto por muitos como o primeiro grande piloto da era moderna da Fórmula 1.

Considerado um dos maiores pilotos de todos os tempos, Ayrton Senna foi tricampeão, com vitórias em 1988, 1990 e 1991. Grande rival do francês Alain Prost, Senna testava seus limites a cada corrida e se tornou um herói nacional. Senna morreu em 1994, numa corrida pelo GP de San Marino, na Itália, e provocou uma das maiores comoções da história do Brasil, com grande repercussão internacional. Durante sua carreira, colecionou não apenas vitórias e recordes, mas também uma legião de fãs. Após sua morte, se tornou uma verdadeira lenda da modalidade. Considerado “Rei de Mônaco”, foi eternizado como o grande ídolo da Fórmula 1 no Brasil.

Levando em conta a idolatria do brasileiro, Piquet dificilmente estaria à frente de Ayrton Senna. Mas, além de também ser um tricampeão mundial de Fórmula 1, Piquet era um piloto que usava sua inteligência em prol da melhoria de seus carros, provavelmente por ter sido mecânico. Destacava-se nas ultrapassagens de concorrentes e teve essa habilidade reconhecida por seu adversário contemporâneo Niki Lauda, que o considerava o mais habilidoso, firme e inteligente piloto que viu correr. Aos 39 anos, em 1991, Piquet encerrou sua carreira, com 204 GPs no currículo. Ayrton Senna é um ícone brasileiro, mas Piquet, apesar de não ser tão carismático, tinha o dom de domar um carro de Fórmula 1 de maneira única.

Naturalmente talentoso, detentor de cinco títulos mundiais e colecionador de recordes: assim segue a carreira do britânico Lewis Hamilton. Para entender a grandeza de suas conquistas, basta analisar que foi campeão mundial no segundo ano de Fórmula 1. A bem da verdade, Hamilton poderia ter sido campeão já em 2007, ano de sua estreia, mas sua inexperiência atrapalhou os planos daquele que seria o mais jovem campeão da história. O feito fora apenas adiado, pois em 2008, no GP Brasil, o inglês nem precisou vencer a corrida para ganhar o título. Após esse feito inédito, o piloto passou por uma fase ruim nas pistas e na vida particular. Mas, após mudanças estruturais na categoria, Hamilton trocou de equipe e voltou ao apogeu, sendo campeão pela Mercedes em 2014, 2015, 2017 e 2018; superando marcas históricas de Ayrton Senna e Michael Schumacher.

Mesmo possuindo apenas dois títulos mundiais, o escocês Jim Clark merece um lugar entre os cinco maiores corredores da Fórmula 1. Ídolo do esporte nos anos 1960 aparecia sempre como um dos favoritos ao título, apesar de seu azar constante e da carreira marcada por acidentes. Um deles, em 1968, foi o responsável por tirá-lo das pistas definitivamente: disputando uma corrida de F2, na Alemanha, bateu em uma árvore e acabou morrendo com apenas 32 anos. Antes da fatalidade, conquistou dois mundiais com 100% dos pontos válidos: em 1963 e 1965. Inteligente e estratégico, colecionou 33 pole positions. Era um dos ídolos do brasileiro Ayrton Senna.

Eterno rival de Ayrton Senna, o francês Alain Prost teve uma carreira marcada por constantes embates com o brasileiro. Tetracampeão mundial de Fórmula 1, Prost disse que a competição com o brasileiro serviu para que os dois melhorassem e buscassem a superação nas pistas. O início da rivalidade começou em 1989, no GP de San Marino, quando Senna passou o francês na aproximação da primeira curva, quebrando um acordo entre eles, proposto pelo próprio Senna, pelo qual um não poderia ultrapassar o outro durante a primeira volta. Ao ignorar o trato, o piloto brasileiro deu início a uma das maiores guerras da Fórmula 1. Prost era um piloto extremamente ágil e inteligente e, mesmo vivendo em um período de grandes adversários, conseguiu se sobressair, tornando-se um dos maiores da história do automobilismo.

Heptacampeão do mundo, o alemão Michael Schumacher detém não só esse recorde, como também o de voltas mais rápidas, maior número de campeonatos, pontos marcados, vitórias e corridas ganhas em uma única temporada (2004). Mas, seu prestígio não se resume aos números: seu talento, técnica e estratégia também o tornaram uma grande referência no quesito competitividade. Em estatísticas, pode ser considerado o maior piloto da Fórmula 1, mas alguns fatores pesaram a seu respeito: a falta de um rival à altura, a escuderia poderosa da Ferrari, e sua volta às pistas, em 2009, quando já não conseguia manter a mesma performance de antes. Em 2013, Schumacher se envolveu em um acidente de esqui, nos Alpes Franceses. Com sérias lesões cerebrais, seu estado de saúde é mantido em segredo até hoje.

O topo do ranking pertence ao argentino Fangio, vencedor de 24 das 52 corridas que disputou na carreira e pentacampeão mundial com quatro escuderias diferentes. Correu apenas oito anos, entre 1950 e 1958, mas estabeleceu um padrão de excelência que dificilmente será superado. Diferentemente de Schumacher, o argentino conseguiu o seu último título pilotando um carro claramente inferior. Com sua Maserati 250F, Fangio conquistou o mundo em 1957. Ele venceu cinco das sete temporadas disputadas, deixando para trás adversários fortes, como Stirling Moss e Alberto Ascari. Por sua pilotagem incomparável e seu currículo de vitórias em curto período, Fangio pode ser considerado o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos.