De acordo com informações oficiais do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 65.602 homicídios em 2017, o que equivale a uma taxa de 31,6 mortes para cada cem mil habitantes, a maior já registrada no país. E segundo o Atlas da Violência 2019, estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a violência letal acomete principalmente a população jovem: 59,1% dos óbitos de homens entre 15 e 19 anos de idade são homicídios. Para além da questão da juventude, o Atlas também evidenciou o aumento da violência contra grupos específicos, como negros, mulheres e a população LGBTI. Para apresentar tais conclusões, o estudo analisou os índices de assassinatos em todos os estados brasileiros durante o ano de 2017. De acordo com esses dados, a Revista Bula elencou os dez estados mais violentos do Brasil.
O Rio Grande do Norte foi o estado mais violento do Brasil em 2017, além de ter sido um dos que apresentaram maior crescimento na taxa de homicídios. Logo no início do ano, eclodiu a guerra entre as facções PCC e Sindicato do Crime na Prisão Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, e o confronto se estendeu para as ruas. A greve da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militar e a má condução das políticas de segurança pública também contribuíram para o agravamento da violência do Estado.
O crescimento da violência no Acre está ligado à guerra por novas rotas do narcotráfico, que envolve três facções criminosas: PCC, Comando Vermelho e Bonde dos 13. As drogas saem da Bolívia e do Peru e são transportadas até Rio Branco. Nas periferias da capital, se travam as batalhas pela chefia do tráfico. Segundo o Observatório de Análise Criminal do Acre, ligado ao Ministério Público, 49% dos homicídios em 2017 foram causados por drogas e acerto de contas.
Segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, o Ceará teve um ano recorde em homicídios, totalizando 5.134. Assim como nos outros estados, os cearenses enfrentam uma onda de violência que se inicia na guerra entre facções criminosas rivais, que estendem seus conflitos para além do interior dos presídios. Desde 2016, com o fortalecimento dessas facções, várias cidades do Ceará têm sofrido sucessivos ataques de violência.
No Atlas da Violência 2018, que se baseou nos dados de 2016, Sergipe registrou a maior taxa de homicídios do país. Os assassinatos no estado estão relacionados, principalmente, à resolução de conflitos pessoais e ao tráfico de drogas, ainda mais comuns na Região Metropolitana de Aracaju. De acordo com o Atlas da Violência, em 2017 houve uma redução de 11,3% na quantidade de homicídios, impulsionada pela reorganização do trabalho policial, levada a cabo desde 2015.
Desde 2014, os indicadores de violência estão em uma trajetória de crescimento em Pernambuco: apenas em 2017, o estado registrou um aumento de 21% na taxa de homicídios. O Pacto Pela Vida (PPV), programa de segurança pública gerido pelo ex-governador Eduardo Campos, conseguiu diminuir a violência no estado por sete anos. Com a morte do político, em 2014, o PPV entrou em crise e os índices voltaram a crescer. Hoje, Pernambuco tem a maior superlotação carcerária do Brasil.
Assim como outros estados do Norte, que fazem parte da rota do narcotráfico internacional, o Pará tem vivido uma forte onda de violência, motivada, principalmente, por três fatores: a guerra entre facções criminosas, a ação das milícias, que comandam o tráfico de drogas e fornecem segurança privada nas áreas de periferia; e a presença dos grupos de extermínio, que vingam a morte de policiais. Segundo o Atlas da Violência, a taxa de assassinatos no estado subiu 81% entre 2007 e 2017.
Além de ser um dos estados com maior prevalência de assassinatos de jovens, Alagoas evidencia a desigualdade racial dos homicídios: a taxa de mortes de negros superou em 18,3 vezes a de não negros, a maior diferença no país. A guerra entre facções criminosas é a principal responsável pela violência. Segundo um levantamento do Ministério Público, o estado é o segundo em número de faccionados ao PCC no Nordeste, perdendo apenas para o Ceará.
Nos últimos dez anos, o estado da Bahia aumentou em 87,8% sua taxa de homicídios, com 7.487 mortes violentas apenas em 2017. Homens, negros e jovens são a maioria das vítimas. Em números absolutos de assassinatos, a Bahia mantém a liderança do ranking, à frente de estados mais populosos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Considerando a quantidade de homicídios por cem mil habitantes, o estado possui uma taxa de 48,8; ocupando o oitavo lugar do ranking nacional.
O Amapá sofre com os mesmos problemas dos outros estados do Norte: guerra pelo narcotráfico, ação de milícias e superlotação de presídios. Mas, também chama atenção por ter praticamente dobrado o número de homicídios de mulheres e negros nos últimos dez anos, com um aumento de 80%. Os feminicídios saltaram de 3,7 para 6,8 para cada cem mil habitantes no período analisado, enquanto o índice de assassinatos de negros subiu de 30,8 para 55,2.
Segundo o Atlas da Violência, Roraima apresentou um aumento de 113% na taxa de homicídios dos últimos dez anos. Os conflitos entre facções criminosas têm contribuído para o aumento dos assassinatos no estado, que teve o maior massacre do sistema prisional registrado em 2017, na chacina da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo. Mas, Roraima também respondeu pela maior taxa de feminicídio por grupo de cem mulheres: 10,6; índice duas vezes superior à média nacional (4,7).