Com o avanço da pirataria e das plataformas digitais de leitura, os últimos anos têm sido difíceis para o mercado editorial brasileiro. Em 2018, segundo um estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o setor encolheu 4,5% em valores reais. Com isso, 2018 se tornou o quinto ano seguido de retração. Mas, apesar de tudo, a literatura brasileira ainda vive. A Revista Bula realizou uma enquete para descobrir quais são, segundo os leitores, os melhores livros brasileiros publicados em 2019. A consulta foi feita a colaboradores, assinantes — a partir da newsletter —, e seguidores da página da revista no Facebook e no Twitter. Entre os mais votados, estão “Liberdade Vigiada”, de Paulo Cesar Gomes; e “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, de Lilia Moritz Schwarcz. As sinopses foram adaptadas das originais, utilizadas pelas editoras.
Depois de mais de 20 anos, Oséias, um homem abandonado pela mulher e pelo filho, decide regressar a sua cidade natal, Cataguases, em Minas Gerais. Durante seis dias, o livro segue passo a passo suas andanças, visitas a familiares e encontros com velhos personagens locais. A sombra do suicídio de uma de suas irmãs, Lígia, e a comunicação falha com praticamente todos a sua volta acompanham suas tentativas de reatar os fios do passado. Em meio a um Brasil que parece ir do projeto à ruína a todo momento, a obra propõe uma reflexão sobre uma sociedade em que as classes sociais romperam completamente o diálogo e, como afirma um de seus personagens, se tornaram “planetas errantes” prontos para se destruírem.
Durante a ditadura militar que se instaurou no Brasil entre os anos de 1964 e 1985, muitos países não se pronunciaram sobre a conjuntura política brasileira, com o intuito de manter a regularidade de suas relações com o nosso país. Mas, em 2011, com a Lei de Acesso à Informação, o acervo documental desse período finalmente pôde ser consultado e ficou evidente que havia muito a ser investigado no campo da diplomacia. Em “Liberdade Vigiada”, o historiador Paulo César Gomes mergulha no mundo secreto do Itamaraty e dos diversos órgãos ligados ao Serviço Nacional de Informações, analisa os conteúdos desses papéis sigilosos e revela fatos até então desconhecidos sobre o regime ditatorial.
Uma das histórias mais contadas da MPB é o encontro de João Gilberto com os Novos Baianos. A chegada do mito da bossa nova ao apartamento dos hippies liderados por Moraes Moreira deu origem ao disco “Acabou Chorare” (1972). Esse encontro foi a inspiração de Sérgio Rodrigues ao lançar o livro “A Visita de João Gilberto aos Novos Baianos”. A obra, que reúne textos já publicados e inéditos, foi dividida em duas partes: Lado A e Lado B, como um LP. No Lado A ficam as narrativas mais clássicas. O Lado B é dedicado aos fragmentos experimentais que examinam com humor ferino os cacos restantes das velhas catedrais literárias e suas vaidades autorais na era da internet. Fecha o volume a novela “Jules Rimet, meu mor”, publicada em 2014 como e-book.
Em 1865, a cearense Jovita Alves Feitosa vestiu-se de homem para se alistar no exército e lutar na Guerra do Paraguai. Seu desejo era ir a campo vingar as mulheres brasileiras maltratadas pelos paraguaios no Mato Grosso. O disfarce foi descoberto, mas, ainda assim, ela foi aceita como voluntária e se tornou uma celebridade, sendo considerada uma heroína da pátria. Por fim, a Secretaria da Guerra recusou sua incorporação como combatente. Frustrada, Jovita passou a viver como prostituta e cometeu suicídio dois anos depois. Nessa obra, o historiador José Murilo de Carvalho analisa documentos da época para entender os sonhos e a luta de Jovita, bem como suas relações com a sociedade de seu tempo.
Os brasileiros acreditam ser mais diversos do que realmente são. Tolerantes, abertos, pacíficos e acolhedores são alguns dos adjetivos que habitam frequentemente a mitologia nacional. Neste livro, Lilia M. Schwarcz reconstitui a construção dessa narrativa oficial que acabou por obscurecer uma realidade bem menos suave, marcada pela herança perversa da escravidão e pelas lógicas de dominação do sistema colonial.
Ao investigar esses subterrâneos da história do país, a autora apresenta as raízes do autoritarismo no Brasil, e ajuda a entender por que fomos e continuamos a ser uma nação muito mais excludente que inclusiva, com um longo caminho pela frente na elaboração de uma agenda justa e igualitária.
Em “Roberto Marinho, o Poder Está no Ar”, Leonencio Nossa mergulha na vida do criador do maior império de comunicação da América Latina. Ao herdar um jornal recém-criado pelo pai, Marinho buscou a sobrevivência do negócio que sustentava sua família. Às vésperas da ditadura Vargas, teve de aprender a se movimentar num Rio de Janeiro de agentes da repressão, espiões estrangeiros, militares afoitos, agitadores da direita e da esquerda e compositores dos primeiros sambas. Aos 60 anos, criou a TV Globo sem apoio dos irmãos, levando ao ar a 1ª edição do Jornal Nacional em setembro de 1969. Com documentos e depoimentos inéditos, o livro descreve a intimidade do biografado, tendo como pano de fundo o Brasil da transição do rural para o urbano.
Com o rigor dos repórteres e a vivacidade dos ensaístas, o premiado jornalista Mário Magalhães apresenta um retrato do Brasil de 2018. Para isso, o autor articula acontecimentos e personagens como: a caçada irracional a macacos considerados transmissores da febre amarela, a intervenção militar no Rio de Janeiro, o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, a prisão de Lula, a paralisação dos caminhoneiros, o dr. Bumbum, a tragédia do feminicídio, a queda de Neymar na Copa, o delírio Ursal, o incêndio no Museu Nacional, a facada em Bolsonaro, a ilusão do vira-voto, o triunfo da extrema direita, as ligações perigosas da família Bolsonaro e os outros eventos que fizeram de 2018 um ano que tão cedo não vai terminar.
Victoria Bravo tinha quatro anos quando um homem invadiu sua casa e matou sua família a facadas, pichando seus rostos com tinta preta. Única sobrevivente, ela agora é uma jovem solitária e tímida, com pesadelos frequentes e sérias dificuldades para se relacionar. Seu refúgio é ficar em casa e observar a vida alheia pelas janelas do apartamento onde mora, na Lapa, Rio de Janeiro. Mas, o passado bate novamente à sua porta. Um psiquiatra, um amigo feito pela internet e um possível namorado — qual dos três homens está usando tudo o que sabe para aterrorizar a vida de Vic? E o que afinal ele quer com ela? Sozinha, Victoria embarca em uma jornada de amadurecimento para enfrentar a própria tragédia.
Conhecido como o Patrono da Independência do Brasil, José Bonifácio é uma figura histórica tão fascinante quanto enigmática. Sua aura de mistério e genialidade intrigou inúmeros pesquisadores, que buscaram encontrar em sua trajetória qualidades e feitos que comprovassem seu heroísmo. Com uma narrativa envolvente que se assemelha à de um romance, repleta de citações históricas e casos pitorescos, a historiadora Mary Del Priore procura entender quem realmente era José Bonifácio por trás do mito e descobre um personagem obstinado e curioso, cheio de contradições e dilemas, forjado pelas circunstâncias da vida.