O escritor Marcel Proust gostava de jogar uma brincadeira de salão chamada “Confissões”, na qual os participantes respondiam perguntas pessoais. Em sua homenagem, hoje o jogo ficou conhecido como “Questionário Proust”. Falando em homenagem, a Revista Bula entrevista Beto Silva, autor do clássico da comédia “Cinco Contra Um”. Sim, acreditem, o Seu Casseta em pessoa. Beto Silva, o Felipão, Fidel Castro, Acarajette Lovve e o Peludão da Sauna Gay do Casseta & Planeta Urgente. O último programa de humor raiz da televisão brasileira, antes do domínio do politicamente correto. Trata-se de um verdadeiro furo de reportagem. Furo sim, e daí? O furo é nosso e fazemos com ele o que quisermos. Com vocês, o homem, a lenda, o mito Belo Silva.
Já concluiu seu doutorado em Harvard?
Belo Silva — Estou quase no fim do meu doutorado em Astrofísica do Humor em Harvard. Para conseguir o meu diploma só está faltando falsificar a assinatura do diretor do departamento.
Na capa do livro “Uma Piada Pode Salvar sua Vida” você inovou tirando uma foto de intelectual com o dedo na testa e não no queixo. Pelos novos critérios, isso já te habilita a ganhar o Prêmio Camões?
Belo Silva — No último Congresso Mundial de Intelectuais realizado no ano passado, foi definido que a pose de intelectual oficial não é mais com mão no queixo, mas exatamente como posei para a capa do meu livro, com o dedo na testa. Portanto, eu estava a frente do meu tempo quando fiz a pose. E como intelectual a frente do seu tempo, não me habilito a participar de um prêmio cujo nome é grafado errado: o certo é Camãos ou Camães.
Qual piada salvou sua vida?
Belo Silva — O garoto falou para a mãe:
— Quando eu crescer eu quero ser humorista.
— Você vai ter que escolher: ou cresce ou vira humorista, não dá pra fazer as duas coisas.
Essa piada não salvou a minha vida, mas acho ela engraçadinha.
A tragédia é uma vocação humana? Schopenhauer estava certo?
Belo Silva — Schopenhauer estava certo, afinal quem sou eu para discordar de um cara cujo nome eu nem sei falar direito.
Seu outro livro “Blogando e Andando” é um resumo do que acontece na internet?
Belo Silva — Meu livro “Blogando e Andando” é uma coletânea de textos de humor que publiquei num blog que mantive por um tempo. Grande parte dos textos fala sobre as novas mídias e, principalmente, as novas manias que as novas mídias trouxeram. Mas há textos sobre vários outros temas como comportamento, relação pai e filho, esportes, política e até alguns textos autobiográficos. Hoje não publico mais nesse blog, até porque os blogs já foram ultrapassados pelos vlogs e por outras siglas que nem dá tempo de decorar, porque elas saíram de moda antes que eu as conhecesse.
Quem você mandaria para outro planeta?
Belo Silva — Eu mandaria o VAR e todos os 4 ou 5 juízes que ficam ali sacaneando o bom andamento do jogo e principalmente anulando gols do Fluminense.
Para escrever o livro “Cinco Contra Um” você precisou mais de inspiração, transpiração ou masturbação?
Belo Silva — Dos três. Inspiração para conseguir praticar a masturbação até transpirar.
É verdade que a pessoa pode sair da Globo, mas a Globo não sai da pessoa?
Belo Silva — O grande problema quando você sai da Globo é que o salário que caia todo mês bonitinho na sua conta, sai também. E aí, na medida que o tempo vai passando, a Globo vai saindo de você, ou seja, você vai gastando essa grana. Graças a Deus, ainda sobrou um pouco da Globo em mim, ou melhor, na minha conta, ou melhor ainda, em bons fundos de investimento.
Depois que saiu da Globo, conseguiu comer alguém?
Belo Silva — Eu já não comia antes, imagina depois que sai de lá!
Bussunda era o Lula, Reinaldo o Itamar, Hubert o FHC, Cláudio Manuel a Dilma. Você seria o Bolsonaro?
Belo Silva — No nosso canal do Youtube (Canal Casseta & Planeta), quem está fazendo o Bolsossauro é o Hubert. Mas eu consegui um cargo muito mais avantajado: eu estou personificando o Trump.
Por falar em Bolsonaro, ele é Dom Quixote ou Sancho Pança?
Belo Silva — Bolsonaro não tem a menor ideia de quem é Dom Quixote. E quando descobrir vai achar que é um co-mu-nis-ta e vai fazer um decreto para proibir ele de lutar contra os moinhos. Sancho Pança ele acha que é um mexicano gordo e, para agradar ao Trump, vai expulsar do país.
Você aceitaria um papel na Malhação?
Belo Silva — Talvez seja o que está faltando para esse programa acabar: me chamarem. Eu aceitaria, mas teria que ser um papel sem muitas falas, porque não gosto de decorar textos, e com um salário alto, ou seja, não existe nenhuma razão para me chamarem.
Você é o único ruivo do Brasil. A Marina Ruy Barbosa é a única ruiva do Brasil. Você acha que seria uma boa ideia um projeto de reprodução assistida visando a manutenção da espécie?
Belo Silva — Meu cabelo e minha barba eram ruivos quando eu era jovem. Agora estou grisalho, com a cabeça igual aos votos da eleição no Brasil: cheia de brancos e nulos. Por outro lado, se algum dia me chamassem para um projeto de reprodução assistida, certamente seria para essa parte de assistir. Confesso que ficaria contente assistindo a um projeto de reprodução, tipo um xvídeos científico. Se fosse para a assistir a Mariana Ruy Barbosa então! Mas acho que ela não ia curtir muito.
O que prefere: um partido de esquerda, um partido de direita ou uma partida ao meio?
Belo Silva — Atualmente eu prefiro uma boa partida de futebol. Principalmente quando o meu time, o Fluminense, vence.
O que acha da campanha pelo humor do bem?
Belo Silva — Que bem é esse? Quem é esse tal de Bem que acha que pode ser dono do humor? O Benjor? O Ben Johnson? O Bem-dotado? O Bem-amado? Humor não é do bem, nem do mal, ele é simplesmente humor. Na minha visão, o objetivo do humor é causar risadas, não é salvar o mundo. É provocando o riso que o humorista contribui para melhorar um pouco a vida das pessoas.
Existe humor a favor?
Belo Silva — O humor quase sempre é do contra. Ele só pode ser a favor da piada. Quando alguém faz humor a favor, a gente acaba desconfiando sobre que tipo de favor é esse que ele quer.
O sol é para todos. A sombra só para alguns. E o subsolo?
Belo Silva — O subsolo é para quem não conseguiu um lugar na sombra e não passou protetor solar.
Que autor brasileiro deveria ser considerado um crime ecológico?
Belo Silva — Olavo de Carvalho. Mas ele não tem o menor problema com isso, acha até bom.
A visão de paraíso de Jorge Luis Borges era uma biblioteca. Qual é a sua?
Belo Silva — Também seria uma biblioteca. Mas a bibliotecária seria a Scarlett Johansson de minissaia para pegar para mim os livros que ficam na prateleira mais alta.
E a visão do inferno?
Belo Silva — Um jogo de beisebol com uma torcida argentina cantando músicas sertanejas.
Quem deve ser o próximo imortal da ABL: Chico Buarque ou Jô Soares?
Belo Silva — Do jeito que anda o nosso mercado editorial o próximo imortal vai ser a Kéfera, o Whinderson Nunes ou algum outro influencer.
Quem é mais gênio: Paulo Coelho ou Romero Britto?
Belo Silva — Eles não são tão geniais assim, se fossem fariam um acordo para o próximo livro do Paulo Coelho sair com uma capa do Romero Britto e a próxima exposição do Romero Britto ter a apresentação escrita pelo Paulo Coelho.
Quem grita “ele não” mais forte: Acarajette Lovve ou Anitta?
Belo Silva — Perto de qualquer grito de Acarajatte Lovve, o da Anitta é um sussurro. Anitta não chega a aos pés de Acarajette. A bunda de Anitta é murcha perto da bunda maravilhosa de Acarajette. As pernas de Anitta são dois cambitinhos ridículos perto das pernas roliças de Acaratette. Acarajette é a melhor cantora do mundo! Do mundo só não: da Bahia!
Já fez teste do sofá? De qual lado do sofá?
Belo Silva — O único teste de sofá que fiz, foi numa loja de móveis, mas acabei não comprando o sofá, pois era muito caro. Você esqueceu que Casseta & Planeta se notabilizou na TV por justamente nunca ter comido ninguém?
Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?
Belo Silva — Ninguém. Eu não sou essas coisas, mas dou pro gasto.
Um livro para ler bêbado?
Belo Silva — Um dia eu enchi a cara e li “Ulisses”, de James Joyce numa noite! Na noite seguinte eu tomei todas de novo e zerei “Guerra e Paz”, do Tolstói. É bom ler esses livros bêbado, porque quando alguém vem reclamar que você está incomodando, você pode usar o calhamaço pra tacar no mala sem alça.
Um livro para ler sóbrio?
Belo Silva — Qualquer livro de um dos meus autores preferidos. Posso citar Philip Roth, Ian McEwan, Kurt Vonnegut, Amos Oz, Reinaldo Moraes, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Rubem Fonseca… Não cito mais porque estou bêbado.
Como gostaria de morrer?
Belo Silva — Muito velho.
Qual será seu epitáfio?
Belo Silva — Foi legal. Se desse, eu voltava.
Sempre falaram que um dos membros do Casseta & Planeta é gay. Você pode, finalmente, revelar esse segredo? Que tal nos dar esse furo?
Belo Silva — Não darei o furo para não ser obrigado a concordar com esse trocadilho infame. Acho que alguém ser gay é natural, uma opção pessoal, se algum de nós cassetas tem essa preferência sexual, isso é uma questão íntima, ninguém tem nada a ver com isso, é um segredo que só o Marcelo Madureira pode expor.