Mojo Filter tem o corpo fechado. Parece vestido com as roupas e as armas de Jorge. Balas não o alcançam; facas e espadas, nem tanto. Ele já teve o bucho trespassado pela peixeira cega de um caolho, fez coco pelo umbigo e, mesmo assim, ainda se considera um enviado de Elvis cuja missão mais relevante é cantar de galo e estimular o combate à violência com o uso de mais violência. E não é que ele se parece mesmo com Timothy Dalton, o James Bond de “Licence to Kill”? O branco dos olhos é idêntico. Falta-lhe, contudo, sexy appeal e jeitinho com as mulheres, as quais, habitualmente, ele chama de vagabundas durante pregações no deserto. Cem por cento restabelecido dos bafejos da morte iminente, o velho Mojo arrombou a Caixa de Pandora com um pé-de-cabra, por onde não cessam de escapulir legiões de males retidos. Em dissonância com o mundo contemporâneo, está em curso uma espécie de ufanismo vingativo e o desmonte dos mais básicos preceitos de civilidade. Falta lítio nos coquetéis palacianos.
Causa espécie, por exemplo, um inovador pacote de medidas antiquadas que visa a afrouxar a legislação de trânsito vigente. Vi gente se benzendo durante um surto psicótico de patriotismo, quando Mojo Filter assegurou que Deus é grande, mas, não é dois, e que ninguém é otário o bastante para acelerar até a morte nas curvas da estrada de Santos. Portanto, o que se propõe é que se joguem pedras na cruz e sejam engaiolados os pardais eletrônicos, diminuindo até o guimba a fiscalização ostensiva nas rodovias, freando o ímpeto capitalista de uma promissora indústria da multa que, a partir de agora, deixará de fabricar infrações contra inocentes para produzir caixões para motoristas otários que aceleram nas curvas.
Considerando-se que o SUS anda mesmo falido, faz parte do planejamento aumentar o limite de pontos de sutura no couro grosso do infrator, de 20 para 40. Motoristas profissionais pervertidos estarão liberados de fazer sexo com meninas nas boleias dos caminhões e de passar pelo exame obrigatório de fezes para evitar cagadas ao volante, principalmente, se o indivíduo estiver sob efeito de rebite. É líquido e certo que a porra-dessa-nação terá que ser engolida até a última gota e sem frescuras. Não está descartado o uso de camisinhas-de-força contra os caralhos-de-asas e o retorno imediato dos abnegados médicos cubanos, não para suturar as veias abertas da América Latina, mas, para fretar em barcos infláveis os cancerígenos charutos de Havana e preparar doses cavalares de Lula Livre, quer dizer, de Cuba Libre.
No ritmo em que o trem descarrila, aguarda-se para logo a liberação do goró e do popular bola-gato dentro dos automóveis que trafegarem no perímetro urbano da vagina, garantindo ao cidadão de bem o direito inalienável de cometer adultério, trocar o óleo e curtir a vida adoidado. Espera-se dos fiscais de trânsito camaradagem e vista-grossa para que as trepadas homéricas no banco da frente não sejam interrompidas antes que se consuma o orgasmo.
Por fim, para quem acha que desgraça pouca é bobagem, fica cancelado, a partir desta data, em todo o território nacional, o uso obrigatório de cadeirinhas elétricas dentro dos veículos automotores conduzidos por motoristas criminosos.