A história do futebol feminino se condensa com a própria luta das mulheres por direitos civis e políticos. Em muitos países no mundo, como no Brasil, o esporte já foi alvo proibição legal, já que, pelos conceitos morais sociais da época, considerava-se a prática como prejudicial à natureza feminina. Ainda assim, após anos de chumbo, com incontáveis dificuldades e empecilhos, o futebol feminino finalmente se consolidou, muito embora ainda busque mais adeptos e entusiastas para que possa ter a merecida atenção de outras modalidades esportivas.
Em competições internacionais, a história do futebol feminino começou a se desenhar com a primeira Copa do Mundo, em 1991, na China. Vieram então os Jogos Olímpicos e adotaram a modalidade em 1996, em Atlanta, capital da Geórgia, nos Estados Unidos. De lá para cá, um esquadrão destoa: o norte-americano faturou simplesmente quatro dos seis ouros olímpicos e três mundiais de sete disputados. É uma supremacia e tanto, ainda que na última disputa Olímpica as americanas tenham sido precocemente eliminadas, ainda nas quartas-de-final.
Com o destaque, vieram o reconhecimento e as premiações internacionais individuais. A FIFA, em 2001, iniciou a eleição de melhor jogadora do mundo, com 18 edições do evento até aqui. Isso quer dizer que, durante um longo intervalo de dez anos, mesmo com competições organizadas, não havia um reconhecimento do porte de um prêmio da maior entidade futebolística do planeta ao futebol feminino. A maior vencedora é a brasileira Marta, que continua em atividade. A gênio ganhou seis edições, das quais cinco foram sequenciais. Um número que impressiona e é bastante relevante para se notar o quanto ela é importante para a história do futebol.
Contando desse período considerado moderno e profissional do esporte feminino, estabelecemos um ranking das melhores jogadoras que já pisaram nos gramados mundiais até então. Sem a pretensão de esgotar as considerações sobre possíveis injustiças, levamos em conta não apenas reconhecimentos individuais e conquistas coletivas, mas também o futebol apresentado ao longo da carreira e o poder de decisão em determinados eventos especiais.
Assim, apresentamos nosso ranking das dez melhores jogadoras de futebol feminino, em ordem decrescente de posição.
Entre as cinco maiores goleadoras do Brasil em Copas do Mundo, a atacante fez mágica na pequena área durante toda a sua carreira. Emplacou artilharias durante toda a sua vida esportiva, impressionando com simplesmente 198 gols — isso mesmo — divididos em três campeonatos paulistas e três brasileiros pelo São Paulo de 1997 a 1999. Serviu a Seleção Brasileira em quatro Copas e duas Olimpíadas, sendo medalhista de ouro no Pan-Americano de 2007. Pelo seu faro incrível de gols, Kátia marcou época e foi destaque de uma geração pioneira de mulheres do Brasil.
A alemã Birgit Prinz pode se dizer uma estrela desde o início de sua jornada. Convocada com 16 anos, campeã europeia com apenas 17, foi também a jogadora mais nova a disputar uma final de Mundial, com a mesma idade. Mas não se engane: ela não se destaca apenas pelos recordes etários. Artilheira, capitã de sua seleção, sete vezes campeã nacional, é três vezes detentora do prêmio de melhor do mundo, sendo a segunda maior vencedora. Por essa razão, figura na posição nove aqui no ranking.
Quem via pela primeira vez Abby, do auge dos seus 1,80m, entrando em campo, podia imaginar que seria alguma atleta escalada apenas pelo porte e sem maiores qualidades. A aparência, contudo, era mais do que enganosa: maior artilheira da seleção norte-americana na história, Abby Wambach colecionava gols de cabeça, mas deixava vários de seus gols com seu pé direito e por vezes até de canhota. Não à toa, foi eleita a melhor jogadora do mundo em 2011 e é uma das maiores lendas do futebol dos EUA, já que nenhuma outra pessoa, homem ou mulher, marcou mais gols do que ela em seu país.
A estrela máxima da Suécia, posteriormente treinadora, foi grande referência para o futebol feminino no final do século 20. A euforia com o seu talento era tanta que chegou a virar selo comemorativo de seu país. Apesar do sucesso, boa parte da sua carreira foi construída antes das grandes competições internacionais se consolidarem, disputando apenas duas Copas do Mundo por seu país. Mesmo com a idade mais avançada, ainda assim mostrava seu poderio ofensivo e anotou quatro gols na Copa de 1991, inclusive o que eliminou as donas da casa, a China. Por tudo o que representou para o esporte e pela história, a bicampeã Olímpica como treinadora é nome certo dentre as melhores do futebol mundial.
Simplesmente a melhor jogadora da história do futebol chinês, Sun Wen encantou o mundo e foi a primeira mulher a ser indicada como atleta do ano na Ásia. É também a maior artilheira da história da China, com 106 gols no total, além de ter o reconhecimento por meio da conquista do prêmio de melhor jogadora do século 20. Em 1996, na final dos Jogos Olímpicos, marcou um golaço no empate parcial com os EUA, de cobertura, sem chances para a goleira adversaria. Uma verdadeira pintura, dentre as várias que fez durante seu período na ativa.
Sempre que se estabelece um ranking de futebol, raros são os guarda-redes que aparecem. Nesse caso, Hope Solo não está por acaso ou por representatividade. Gigante arqueira norte-americana, conquistou todos os títulos possíveis e se tornou grande nome debaixo das três ingratas barras de ferro na terra do Soccer. Bicampeã olímpica, campeã do Mundo e com muitas importantes defesas na carreira, Hope Solo merece posição de destaque por sua desenvoltura e aparições fundamentais para o brilho de seu país.
Um dos grandes nomes da Seleção Brasileira ao lado de Marta, Cristiane é a maior artilheira da história dos Jogos Olímpicos. Não apenas isso. Foi também a grande artilheira por duas vezes, em Atlanta e em Pequim, com cinco gols marcados. Dona de uma canhota extremamente calibrada, Cristiane possui habilidade rara e sempre que pode constrói as jogadas com dribles desconcertantes nas adversarias. A precisão de seu chute, aliada à sua qualidade com a bola nos pés, faz dela uma das mais perigosas jogadoras do mundo. Seu cartão de visitas, sua chapada cortando na entrada da área, marcou seu estilo arrasador de jogo.
Duas vezes eleita melhor do mundo pela FIFA e com mais de 100 gols apenas pela sua Seleção, a camisa 10 dos Estados Unidos é um fenômeno. Não escolhe a perna que vai chutar, bate escanteio e faltas com uma precisão incrível e prende a bola por meio de um jogo de corpo que só ela parece ter, confundindo as adversárias, que nunca sabem o lado que ela vai escolher. Mesmo veterana, consegue ditar o ritmo nos jogos e corresponder como uma jovem em campo. Pode-se dizer que Carli é uma maestrina.
Duas vezes campeã olímpica e uma vez do mundo. 158 gols em 275 partidas pela Seleção dos Estados Unidos. Duas vezes melhor do mundo pela FIFA e eleita entre os 150 maiores jogadores vivos pela FIFA, em 2004, entre homens e mulheres. Falar de Mia é relatar uma lendária estrela, com centenas de produtos com seu nome, jogos de videogame, enfim, uma total referência no esporte mundial. Ela definitivamente alterou paradigmas na modalidade e foi uma das primeiras jogadoras a virar garota propaganda de uma gigantesca marca de fornecimento de material esportivo. Por essa razão, Mariel Margret, seu verdadeiro nome, merece destaque como uma das maiores atletas do mundo em sua modalidade. A camisa 9 da Seleção norte-americana conquistou uma legião de fãs no globo e fez com que o esporte crescesse junto com a sua carreira. Sua facilidade em bater na bola era algo surreal e sua vibração em campo contagiava na condução de sua esquadra para as vitória. Mia é um monumento do esporte.
Nossa primeira colocada, por mais incrível que pareça, jamais conquistou nenhuma Copa do Mundo ou Olimpíadas. Mas isso não altera em absolutamente nada a magia da alagoana da Seleção Brasileira, que encantou o mundo por ser uma jogadora completa: dribla, pensa o jogo, sempre rápida, constantemente decisiva e uma liderança em campo. Não é exagero compará-la a Pelé, tendo em vista o que ela é para o futebol feminino. Dona de nada menos do que seis prêmios da FIFA de melhor do mundo, é a maior artilheira da história das Copas, com 15 gols no total. É também a maior artilheira da Seleção Brasileira, com mais de 100 tentos marcados, além de deter o recorde consecutivo de premiações individuais da FIFA. O repertório da brasileira parece infinito, o que a torna totalmente imprevisível em campo. Não à toa, salvou o Brasil por diversas vezes em situações que pareciam perdidas e fez uma das partidas mais espetaculares da história, na lendária semifinal de 2007 contra os Estados Unidos. Sem dúvida, Marta Vieira da Silva é a número um do esporte feminino. Sem prejuízo de ser apenas a maior da história, sem limitações tal qual o seu futebol.