20 títulos de filmes que vão do céu ao inferno (e do inferno ao céu) por conta da tradução

Dar nomes geralmente é um processo inglório. João que queria chamar José, que queria chamar Carlos, que queria… Dentro das artes então, é aquela história: deve-se levar em conta o que realmente o artista quer dizer com sua obra, a que ela se propõe, dar uma ideia do que se trata e, se ainda puder, tem que ser um nome bonito. Mas, do que adianta um diretor de cinema — ou o roteirista — pensar em um nome espetacular, que faça tudo o mencionado acima e esconda toda e qualquer tentativa de spoiler, quando um tradutor vai lá e mete um “Deu a louca…” no seu título tão carinhosamente lapidado? É pra enfartar qualquer Godard.

Abaixo segue uma lista de filmes nos quais os títulos originais e suas traduções não falavam a mesma língua — literalmente — e por isso a versão brasileira geralmente destoou do sentido original. Aviso aos navegantes: como a maioria dos filmes tem mais de dez anos, não levamos em conta eventuais spoilers (ah, esses malditos!), mas se quiser se precaver, pule aquele filme que você ainda não viu e releia o trecho só depois de assisti-lo. Vai que tem a mesma sacada do texto?

Das profundezas do sétimo círculo do inferno (da tradução):

Rebel Without a Cause — Juventude Transviada (1955)

É sempre bom começar com um clássico. E apesar de muitos dizerem nos dias de hoje que não há exatamente uma “rebeldia” no filme, vale lembrar que ele é de 1955. E para aqueles dias o jovem Jim Stark — James Dean, antes que um acidente o transformasse em lenda — era o protótipo do rebelde. E para que causa, se ele tinha aquele topete? A tradução aqui erra no foco: o que era um filme centrado em um personagem acaba tentando englobar — o que, na verdade, acabou fazendo — toda uma geração. E cá entre nós, transviada é uma palavra que só deveria ter ficado naquela marchinha de carnaval, que hoje virou proibidona. Mais rebelde que o próprio filme, afirmam por aí…

Teen Wolf — O Garoto do Futuro (1985)

Aqui o tradutor tentou pegar carona no sucesso de “De Volta para o Futuro” — franquia que fez de Michael J. Fox uma grande estrela, apesar de seu 1,63 — colocando no título algo que remetesse ao popular Marty McFly. Afinal, o que tem a ver um lobisomem juvenil (não, não é aquele da música da Legião Urbana) com viagens no tempo? Pelo menos não causou nenhum dano maior, afinal todo mundo que viu o trailer sabia que se tratava de um adolescente boa praça, jogador de basquete, aluno de colegial e quem sabe, com algum parentesco com o Tony Ramos…

The Hangover — Se Beber, Não Case (2009)

Qual nome você daria para um filme onde um noivo acaba desaparecido depois de sua despedida de solteiro, em uma noitada épica, com direito a roubo de viatura de polícia, um bebê vindo do nada, um tigre roubado de ninguém menos que Mike Tyson, onde tudo isso foi regado a hectolitros alcóolicos e cositas más? A Ressaca talvez fosse muito óbvia e sem apelo, daí algum gênio disse: E que tal se colocássemos “Se Beber, Não Case”? O problema é que ele não contava com a ganância, digo, astúcia do estúdio que, diante do enorme sucesso do primeiro filme, emendou logo uma franquia. E que tivesse casamentos dos personagens principais só nos dois primeiros longas. E ainda sobrou para outro filme de manguaceiros… (daquela bomba com o John Cusack e uma banheira do tempo, é mole?)

Hidden Figures — Estrelas Além do Tempo (2017)

Para provar que estes equívocos de tradução — ou renomeação, como parece ser o caso — não é coisa feita somente com os antigos, eis um filme bem recente. Não precisa falar muito do enredo, no qual três matemáticas negras tem que superar o preconceito de gênero e raça para trabalharem na Nasa, dentro do programa espacial. E isso nos anos 1960, é bom lembrar. O que pega aqui realmente é que o título original serve muito melhor ao intuito de apresentar a história de mulheres que tinham que atuar basicamente nos bastidores, mesmo sendo brilhantes em suas áreas de atuação, só por conta daqueles atrasos que a humanidade adora acariciar de tempos em tempos. A “tradução” fica entre viagens temporais e musicais de quinta categoria.

Lost in Translation – Encontros e Desencontros (2003)

O título desta pequena pérola de Sofia Coppola, de certa forma representa todo o problema com traduções em geral: a expressão “Lost in translation” é utilizada para informar quando determinada palavra ou frase foi vertida para outra língua e alguma parte dela, seja cultural ou linguística, acabou se perdendo durante o processo. No filme, representa o deslocamento cultural que os personagens de Bill Murray e Scarlett Johansson — ele um ator com a carreira em aparente declínio, ela a esposa de um fotógrafo que a deixou ilhada em um hotel — sentem em meio a uma Tóquio enigmática e estranha. Uma pena que parte da graça da coisa acabe logo no título, mas alguns exemplos para frente sofrem muito mais deste mal.

Breakfast at Tiffany’s — Bonequinha de Luxo (1961)

Ok, esta tradução seria meio difícil ficar coerente com o original. Primeiro porque algo como “Café da Manhã na Tiffany” ficaria prejudicado pois na época a célebre loja nova iorquina não era muito conhecida por estas bandas… Mas daí a chamar de “bonequinha de luxo” tem mais a ver com a profissão da personagem — “puta, meu filho, chama de puta”, como ensinou didaticamente uma cafetina para um grupo de estudantes, na dúvida entre chamar suas meninas de garotas de programa, acompanhantes ou prostitutas — do que com a figura angelical de Audrey Hepburn, no auge da beleza e elegância. Como bônus, se na época o título traduzido era singelo, hoje lembra alguma superprodução pornô.

Revolutionary Road — Foi Apenas um Sonho (2008)

O livro homônimo que deu origem ao filme é uma alusão do autor à revolução americana que desembocou na independência e o contraponto vivido nos anos 1950, a época representada na obra. A versão cinematográfica obviamente carregou o nome, o que é usual em filmes vertidos de livros. Daí aparece o tradutor e, em sua magnificência esplendorosa, olha para aquilo e sentencia: “Foi apenas um sonho”. Pronto, mais um spoiler acaba de nascer… Aqui Kate Winslet e Leonardo DiCaprio são novamente um casal enfrentando um naufrágio, mas ao contrário do Titanic, o que está indo para o fundo aqui é a relação de seus personagens, cada um mais náufrago que o outro. E, tentando escapar da suburbana vida do american way of life e do rótulo de casal perfeito, decidem dar uma bica em tudo e partir para Paris. Mas eles não contavam com a astúcia do tradutor, que poderia ter abortado a ideia…

Persona — Quando Duas Mulheres Pecam (1966)

Quando um filme é considerado “o mais difícil de todos os tempos”, cujo título original resume em si mais de um significado, fazendo paralelos com a psicologia, o teatro, a própria busca humana pelo sentido do ser e da vida e daí o tradutor resolve colocar um título à lá Brasileirinhas nele, não dá vontade de enforcar o lazarento? Com Persona isso acontece. Uma obra prima de Bergman, no qual o roteiro — escrito pelo próprio — centra na relação de uma atriz que sofre um colapso e da enfermeira que a atende, desencadeando uma relação de identificação e mimetismo, onde a personalidade da paciente — Liv Ulmann, espetacular — acaba submetendo a de sua cuidadora — Bibi Andersson, em sua melhor atuação, dizem — é repleto de frases memoráveis, dentro de monólogos feitos na medida exata, acompanhados por um jogo de imagens que reforça essa busca pela identidade e demonstra que os seres humanos utilizam-se comumente de máscaras e atuações para continuar nesse joguinho terreno chamado convivência, o mínimo que se esperava era que a versão em português tivesse um pouco mais de respeito. Agora, pode ser que o tradutor fosse um pândego, que fez muita gente levar um filme cabeça pensando ser uma pornochanchada…

Angel’s Heart — Coração Satânico (1987)

Verdade que a obra original, o romance de William Hjortsberg, “Falling Angel” — de 1978 — teve o nome vertido para “Angel´s Heart”, pelo diretor Alan Parker, daí a tradução para “Coração Satânico” não é nenhuma heresia. Mesmo que acabe entregando uma parte boa da rapadura. Nesta película, o jovem detetive Harry Angel (Mickey Rourke, antes de fazer plásticas na base da porrada, literalmente) é contratado pelo misterioso Louis Cyphre para encontrar um cantor de blues há muito desaparecido, que havia “roído a corda”, num trato com o segundo… O negócio é que boa parte de quem assiste o filme pela primeira vez, não saca de imediato a escorregada, mas conforme a história segue, a cortina vai caindo, só que mais rápido por conta disso.

Annie Hall — Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Pensei que não poderiam cometer um crime maior do que fizeram com “Persona”, mas se aquilo foi um assassinato, “Annie Hall”é um massacre. Porque fiquei anos deixando esta obra-prima na fila do “depois eu vejo, ah, é só mais uma comédia romântica, etc…” por conta do título nacional e imagino quantas outras pessoas perderam o melhor do senhor Woody Allen — que escreveu, atuou e dirigiu. Fora que o título original apresenta uma das melhores personagens criadas por ele, Annie, em uma atuação marcante de Diane Keaton, recheada de referências: já havia namorado o próprio Allen, alguns anos antes, tem Hall como sobrenome verdadeiro e era apelidada pelos íntimos como Annie. É mole ou quer mais? Em segundo lugar, os personagens não são noivos, são namorados! Mas isso talvez seja pelo preciosismo da época, afinal, namorados morando juntos deveria ser um disparate para a época aqui no Brasil. Noivos, vá lá…

E agora, aqueles que ascenderam ao paraíso da boa tradução (ou da sacada que os gringos não tiveram):

Shallow Hal — O Amor é Cego (2002)

Aqui o ditado popular caiu como uma luva na história de Hal (Jack Black, que funciona para este tipo de papel), um sujeito meio estranho que, por conta de um mau conselho paterno (sim, os pais também erram) acaba procurando nas mulheres somente a superficialidade da beleza física, mas que, depois de ser hipnotizado por um guru famoso, acaba encontrando o verdadeiro amor da delicada Rosemary (Gwyneth Paltrow — ótima tanto no tamanho P quanto no GG), uma garota obesa mas com um coração ainda maior. Fico pensando se o filme tivesse tido uma continuação. Talvez algo como outro ditado, mais tupiniquim: “Já que o amor é cego, o importante é apalpar”.

Airplane — Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu! (1980)

Um dos primeiros trabalhos do trio ZAZ — Jim Abrahams, Jerry e David Zucker — foi também um dos primeiros “filmes paródia” da história. Nele encontra-se a figura do herói traumatizado (Robert Hays), a aeromoça sonhadora (Julie Hagerty), o médico sisudo (Leslie Nielsen, despontando para a comédia), o controlador de voo que parece ser a única pessoa com um pouco de sanidade (Lloyd Bridges), com direito inclusive a uma participação especial do astro do basquete Kareem Abdul-Jabbar, em um amontoado de situações, pequenos sketches que servem para levar o roteiro e adicionar as já citadas paródias em uma metralhadora giratória de piadas, algumas hilárias — como o boneco inflável piloto automático — e outras nem tanto. Apesar de o piloto não ter efetivamente sumido (foi somente vítima de um envenenamento acidental), é um título que funciona muito melhor que “Aeroplano”. Para uma comédia pastelão, claro.

Saw — Jogos Mortais (2004)

Neste filme independente de baixo orçamento — para os padrões gringos claro: afinal, U$ 1,2 milhão é o sonho de produção de qualquer produtor local — que fez uma reviravolta no segmento (assim como havia feito o kaô “Bruxa de Blair”) e acabou se tornando uma franquia milionária, embora sem o sucesso do original. E claro que um nome como “Serra” não ajudaria muito nisso aqui; “Jogos Mortais” cai bem melhor com o intuito do Jigsaw, o psicopata super inteligente, com ares de “tio do Kevin de ‘Esqueceram de Mim’”, que cria intrincadas armadilhas para punir / resgatar pessoas que ele acha que estão desperdiçando a vida de alguma forma. Alguém tão obcecado com a vida dos outros deve ser um saco no Facebook.

Despicable Me — Meu Malvado Favorito (2010)

Pense em um título em que a tradução literal tem mais facções que as torcidas organizadas. Pois “Despicable Me” pode ser tanto “Eu, Detestável” (minha favorita), quanto “Sou Detestável”, “Meu Detestável Eu”, “Meu Eu Detestável” etc. Claro que nenhuma delas cairia bem para um filme para crianças, daí baixou a Agnes (falo dela daqui a pouco) em um dos tradutores e voilá: “Meu Malvado Favorito” caiu como uma luva para essa animação pouco convencional. Conta a estória de Gru, um vilão em apuros com o aparecimento de um rival e, para conseguir executar o crime-do-século-da-última-semana, acaba tendo que adotar três adoráveis órfãs para atingir seu intento. Evidente que o contato com as pequenas acaba deixando suas marcas no pobre vilão. Ah, Agnes, uma das órfãs, é um dos pontos altos do filme — juntamente com os Minions, os atrapalhados ajudantes de Gru — e é quem tem algumas das melhores falas, como a já clássica: “Ele é tão fofo… Acho que vou morreeeer!”

The Shawshank Redemption — Um Sonho de Liberdade (1994)

O filme mais injustiçado da história do Oscar — calhou de enfrentar pesos pesados como “Pulp Fiction” e “Forrest Gump”, além dos queridinhos “Quatro Casamentos e Um Funeral” e “Quiz Show” — é daquelas obras que passam quase despercebidas pelas telonas (arrecadou somente 3 milhões a mais que seu orçamento), mas que são unanimidades tanto de crítica quanto de público, tornando-se uma obra cultuada com o tempo e chegando a ser apontando por muitos como o melhor filme já feito. É baseado na novela de Stephen King, “Rita Hayworth and The Shawshank Redemption”, sobre um banqueiro (Andy Dufresne, bem interpretado por Tim Robbins) que passa quase 20 anos preso por um crime que afirma não ter cometido e seu relacionamento com “Red” Redding (Morgan Freeman, bem à vontade para roubar a cena), mas os produtores decidiram encurtar o título para poder caber nos letreiros, conseguindo desagradar a todos com isso. Vale lembrar que até Freeman, que foi indicado ao Oscar pela atuação, disse em uma entrevista recente que a única coisa que não gosta na película é justamente o título. Ainda bem que o tradutor teve o mesmo pressentimento e acabou trocando o original para “Um Sonho de Liberdade”.

Nightmare in Elm Street — A Hora do Pesadelo (1984)

Um clássico dos anos 1980, que lançou um dos maiores vilões (com a camisa do Fluminense): Freddy Krueger (Robert Englund, insuperável), e ainda foi o abre alas para a enxurrada de franquias de terror com adolescentes que viriam depois, quase todas com o selo original de seu criador, Wes Craven. O plot original é a vingança de um serial killer, que depois de ter sido morto queimado pelos pais das vítimas e vizinhos — Alô, é do disque-linchamento? — de alguma forma invade os sonhos dos herdeiros de seus algozes para eliminar um por um. Acabou transformando-se em um manual-do-que-não-se-pode-fazer-em-filme-de-terror-teen, algo que acabou sendo de certa forma parodiado em outro sucesso de Craven, a série “Pânico”. E, cá entre nós, “A Hora do Pesadelo” soa bem melhor que “Pesadelo na Rua do Olmo”… Ah, calha ainda de ser a primeira aparição de Johnny Depp, antes de virar o pirata mais pirado do cinema.

No Country for Old Men — Onde os Fracos não Tem Vez (2007)

Se os irmãos Cohen fossem escultores, esta seria sua Pietá. Baseado no romance homônimo de Cormac McCarthy, esta obra apresenta um veterano do Vietnã (Josh Brolin, mantendo a média) que em plenos anos 1980 acaba descobrindo uma bolada em meio a uma malsucedida transação de drogas. Tentando pela grana fácil, acaba levando a maleta de dinheiro e todos os problemas que a acompanham, que acabam sendo personificados pelo mais novo integrante do panteão dos grandes vilões: o imparável Anton Chigurh, interpretado de maneira esplendorosa por um Javier Bardem inspirado, na melhor atuação que alguém pode ter com um cabelo ridículo. E quem teria coragem de zoar o penteado de um cara que carrega uma arma de pressão tratando todos que encontra como gado a ser abatido? Como uma espécie de homenagem aos grandes faroestes do passado — a trama em si remete aos antigos cowboys, como bem lembra o xerife interpretado por Tommy Lee Jones, sempre um passo atrasado — o título remete aos vastos planos do ensolarado Texas. E parece que, em uma feliz coincidência, o tradutor deve ser um ávido leitor de poesia ou dos quadrinhos do Tex. Ou os dois, ora essa… Afinal, “Não há país para homens velhos” lembra muito o rombo da Previdência brasileira.

Ferris Bueller’s Day Off — Curtindo a Vida Adoidado (1986)

A épica jornada de um jovem (Matthew Broderick, em sua melhor performance) para matar aula em um dia de sol com sua namorada (Mia Sara, ainda mais bela que em “A Lenda”), seu melhor amigo (Alan Ruck — para sempre Cameron) — hipocondríaco e desestimulado, tendo que no processo despistar um diretor obcecado (Jeffrey Jones, antes da cadeia) por ele e escapar das garras e do ciúme da irmã caxias (Jennifer Grey, antes da “Dor de Dente”). Dizendo assim, parece simples, mas este é de longe um dos melhores filmes do mago das comédias adolescentes, John Hughes, além de ser o filme preferido da sessão da tarde de muita gente. E quem não gostaria de dar voltas despreocupadas em uma Ferrari GT California, almoçar no restaurante mais chique da cidade — metendo o kaô de “Rei da Salsicha de Chicago” — visitar um museu de arte, assistir a um jogo de beisebol no meio da tarde e até roubar a cena em uma parada alemã cantando a clássica “Twist and Shout”, dos Beatles? Em termos de tradução, engraçado ver o quanto mudou de um lugar para outro: “O Rei dos Gazeteiros” — Portugal; “Um Louco Dia de Férias” — Itália; “A Escapada de Ferris Bueller” — México. É claro que este sujeito estava curtindo, e muito, a vida adoidado…

Sunset Boulevard — Crepúsculo dos Deuses (1950)

No original ainda vem um subtítulo “A Hollywood Story”, deixando mais do que claro que aquilo é uma história sobre o cinema e as pessoas que o fazem, afinal a avenida que dá nome ao filme é um dos endereços com mais personalidades hollywoodianas por metro quadrado. No script vencedor do Oscar (e a Academia dispensa uma lisonja?) um roteirista em apuros financeiros — algo comum na vida de pessoas que vivem de escrever, acreditem — (William Holden), acaba caindo nas graças de uma grande atriz do passado (Gloria Swanson) que planeja uma volta triunfal às telonas. O problema é que a dona era da época do cinema mudo, e com a introdução do áudio muita coisa mudou na maneira de fazer filmes, fato que coitada não vê, ou finge não perceber. Uma tradução que acaba sendo também uma espécie de homenagem à Sétima Arte, divinizando seus integrantes.

Shane — Os Brutos Também Amam (1953)

Tudo bem que o título original é só o nome do protagonista. Mas isso fica em segundo ou até em terceiro plano quando a gente vê poesia brotando da tradução. Sério, não estou de sacanagem. Na história do pistoleiro que deseja trocar de vida e deixar as matanças para trás — baseado no romance de Jack Schaefer — Alan Ladd dá vida a um Shane às vezes lacônico, meio amargo e com um tanto bom de esperança escondida em algum lugar da alma, esta que ele quer desesperadamente resgatar. Para tanto, aceita trabalhar para um pequeno fazendeiro, que anda tendo problemas com um vizinho poderoso, que está tanto de olho em seu pedaço de chão e que acaba trazendo um matador (Jack Palance, indicado ao Oscar) para dar um jeito na coisa. Só não contavam com a astúcia e pontaria do protagonista, que depois de resolver a parada toda, ainda arranja tempo para mandar uma letra que entrou para o rol dos grandes discursos e fazer uma daquelas despedidas homéricas, do tipo de fazer até estivador chorar. Mas chorar escondido, que os brutos podem até amar, mas daí a começar a embalar lágrimas tem quilômetros de testosterona…

E aí, quais outros títulos vocês acham que foram bem ou mal traduzidos?