Apreciar um bom vinho é um caminho sem volta. A julgar pelo crescente número de adegas especializadas, digo sem medo de errar que o brasileiro se interessa cada dia mais pelo tema e evoluiu muito no quesito descobrir novos sabores, aromas e texturas. Mesmo sendo um hábito antiguíssimo, presente em quase todas as religiões antigas, o consumo de vinho cresceu significativamente nas últimas décadas. Seja pelo aumento das importações do produto — que tem seus mais famosos e premiados exemplares produzidos fora do Brasil — ou pelo significativo aumento das pesquisas científicas avalizando o consumo pelos inúmeros benefícios oferecidos à saúde, o vinho vem se tornando mais popular a cada dia. Os bons vinhos saíram das adegas requintadas e se espalham rapidamente pelas prateleiras dos mercados populares. Falar sobre vinhos, uvas viníferas e afins em uma roda de conversa, de um hábito sofisticado se tornou uma prática corriqueira que denota hábitos saudáveis e atualíssimos. Está presente também no cultuado encontro à luz de velas, onde o neófito, muito apressadamente, espera que o garçom sirva sua taça para endossar o produto com a sua mais nova habilidade: girar a taça, sentir o aroma, degustar o produto e dizer “É um bom vinho. Pode servir”. O crescente interesse pelo tema gera consequências que afetam significativamente o mercado e mais ainda o consumidor. Com o passar dos vinhos, novos hábitos são adquiridos com bastante naturalidade. O que nem todo mundo sabe é que cada uma dessas “manias” tem um propósito bem específico.
1 — Girar a taça para “abrir” os aromas
Essa é, sem dúvidas, a primeira mania adquirida pelo iniciante. Girar a taça, além do glamour, provoca a oxigenação do vinho. Essa prática permite ao enófilo identificar os aromas que se desprendem da bebida e apreciar na íntegra todo o potencial do líquido. Sua vida muda significativamente quando você descobre a infinidade de aromas inebriantes que um bom vinho pode oferecer.
2 — Observar a cor do vinho
O exame visual se inicia pela coloração do vinho. A análise da cor nos dá informações sobre o corpo, a viscosidade, o tipo de uva, o grau de envelhecimento do vinho, etc. A medida que envelhecem, vinhos tintos vão do vermelho ou violáceo ao atijolado e os brancos vão ficando mais escurecidos. A limpidez e a espuma também trazem indicações sobre o grau de envelhecimento do vinho. E é por esse motivo que um vinho tinto de cor rubi intenso ou vermelho brilhante é bem mais convidativo que um vinho de aspecto atijolado, opaco ou turvo.
3 — Segurar o vinho na boca para desvendar os sabores
Para compreender os sabores característicos do vinho é necessário que se dê um grande gole, de modo a deixar o vinho em contato com toda a superfície da boca. Isso porque cada sabor é identificado em uma região da língua. Conhecer os sabores que agradam o nosso paladar é o primeiro passo para escolher bem o vinho. Alguns, mais entusiasmados, costumam ainda segurar o vinho na boca por um tempo, abrir os lábios ligeiramente e aspirar um pouco de ar para induzir a evaporação dos elementos voláteis do vinho. É quase um ritual, mas vale o esforço.
4 — Ler sobre os benefícios do consumo de vinho
Essa é sem dúvida uma das primeiras atitudes tomada pelo bebedor iniciante. Os anúncios da diversidade de benefícios que o vinho pode trazer são figurinha repetida pelos blogs e sites especializados, sem falar na quantidade de livros sobre o assunto. Desde emagrecimento até a prevenção do Alzheimer, as potencialidades do vinho tinto são amplamente divulgadas. O fato é que essa bebida é mesmo rica em nutrientes que trazem uma vasta gama de benefícios à saúde humana, com destaque para o bom funcionamento do coração. O resveratrol, os taninos, os flavonoides são mesmo substâncias com inúmeras potencialidades terapêuticas e farmacológicas e por isso são excessivamente citadas. Tem jeito de melhorar? Se beber vinho diverte, alegra e ainda aumenta a longevidade, o consumo tende mesmo a aumentar e a gente super compreende.
5 — Segurar a taça pela haste
Hábito importantíssimo para garantir que seu vinho não esquente com o calor das suas mãos. Precisa falar mais nada, né?
6 — Comprar vários modelos diferentes de taças
Descobrir como os vários formatos interferem na apreciação do vinho é prazeroso e traz uma evolução significativa no grau de conhecimento que o enófilo adquire. Além disso, ainda traz a satisfação de dar um up na cristaleira.
7 — Analisar o ano da safra
Outra informação proveitosa. Quando você descobre quanto tempo cada tipo de vinho pode envelhecer essa informação se torna uma das mais importantes na escolha da garrafa. É também uma tarefa agradável ficar pesquisando acerca dos vinhos que você quer conhecer para julgar que safra lhe interessa mais.
8 — Conhecer todas as adegas possíveis
Eita hábito infame. Conhecer novos vinhos é o objetivo principal, mas serve também pra gente gastar cada dia mais com vinho e pra gente descobrir que não somos ricos o suficiente, rs. Garanto que a diversidade de preços é quase tão ampla quanto a de rótulos e a variedade pode ser assustadora mesmo em estabelecimentos pequenos. Descobrir vinícolas, uvas e regiões viníferas são algumas das consequências diretas dessa peregrinação. Outra consequência muito proveitosa é o fato de que com o tempo percebemos que o preço não atesta a qualidade. Outra vantagem desse hábito é ficar a par das degustações oferecidas. Afinal, uma degustação guiada é uma verdadeira aula sobre vinhos.
9 — Observar a percentagem alcoólica
Quando você descobre que, em geral, a graduação alcóolica pode ser um bom indicativo da qualidade do vinho, você faz dessa observação um hábito. Claro que existem vários outros indicativos, mas se alguns especialistas afirmam, quem sou eu pra contestar?
10 — Ler sobre as uvas viníferas mais conhecidas
Cada uva imprime características olfativas, gustativas, visuais e táteis diferentes ao vinho. Conhecer as características dos vinhos feitos a partir de determinada uva faz com que você tenha um controle mais apurado do tipo de vinho que vai agradar seu paladar.
11 — Ler sobre as regiões viníferas mais famosas
A região de onde o vinho é proveniente entrega algumas características da bebida, portanto é uma informação importante para o bom bebedor de vinho. Em geral um blend produzido em determinada região vai conter, prioritariamente, as uvas mais cultivadas naquele terroir. Além disso cada uva pode ter expressões diferentes dependendo da região onde é cultivada. Com o passar do tempo você vai estar escolhendo o destino da viagem a partir da vocação vinícola do local. Adeus praia, neve, compras… a gente quer mesmo é beber vinho e degustar sabores únicos pelo mundo.
12 — Estudar a temperatura de serviço do vinho
Servir um bom vinho na temperatura ideal é fundamental para que se aprecie o vinho na sua melhor expressão. Em geral, quanto mais quente estiver o vinho, mais aromático ele será pois liberará mais componentes voláteis. Mas, como tudo na vida, há um limite. Os taninos e a acidez também são afetados pela temperatura. Uma dica importante é que quanto mais encorpado for o vinho, mais quente ele deve ser servido. De um modo geral, as melhores características olfativas são entregues quando o vinho é servido entre 15 ºC e 18 ºC. No entanto é mais comum servir o vinho branco na famosa temperatura de adega, entre 11 ºC e 13 ºC, pois são vinhos considerados mais leves e refrescantes.
13 — Colecionar rolhas
Cada um por um motivo diferente: é bonito, é cult, decora o ambiente… Por uma infinidade de motivos as pessoas colecionam rolhas. Vai entender.
14 — Fazer a harmonização ideal
Desde que o homem saiu das cavernas e se estabeleceu em sociedade para abandonar sua faceta primitiva, estabeleceu como regra de civilidade as atividades em grupo que incluem reuniões com viés gastronômico e apreciação de bebidas. Não demorou muito para perceber que essa combinação pode ficar ainda mais prazerosa quando a harmonização entre elas é cuidadosamente orquestrada. Sabe-se que o vinho pode melhorar o sabor da comida. Então, investir na harmonização ideal melhora o sabor da comida e potencializa os sabores do vinho.
15 — Beber água e trocar as taças antes de servir o próximo vinho
Você não vai querer que o sabor e o aroma do vinho anterior interfiram na apreciação do próximo rótulo. Substituir as taças sujas por outras limpas é fundamental para não comprometer ou mascarar as características do vinho.
16 — Ter uma adega em casa
Ah… A adega! Componente importantíssimo na casa do enófilo, existem nos mais diversos padrões: portáteis, elétricas, de madeira, de ferro, climatizadas ou não, são sempre muito apreciadas.
17 — Observar o tempo de guarda
O potencial de guarda — tempo em que o vinho pode ser armazenado até o consumo — depende de diversos fatores. Um deles, e talvez o mais importante, é o tempo em que esse vinho ficou armazenado durante o processo de produção. Quando você tem uma adega em casa percebe que esse hábito é quase automático.
18 — Decantar o vinho
Decantar o vinho é importante quando existem sedimentos que precisam ser removidos, quando o vinho é encorpado e jovem ou quando a gente quer mesmo exibir o decantador. Na verdade, existe um debate sobre até onde a combinação vinho e ar é boa, por isso é melhor que a decantação seja feita apenas quando recomendada por um especialista.
19 — Ir à feira e ficar tentando gravar cheiros distintos
Excentricidade talvez, mas essa é uma técnica eficiente para treinar a memória olfativa e começar a reconhecer melhor os aromas específicos de cada vinho.
20 — Baixa o aplicativo Vivino
… e ficar pontuando vinhos e lendo comentários de vários bebedores ao redor do mundo. Ahh… A tecnologia!
Agora que se conhece a rotina e os vícios dos bebedores de vinho, só nos resta procurar uma boa adega, tirar onda de enólogo com outro cliente que examina curioso a enorme diversidade de rótulos, escolher vinhos que expressam as suas preferências olfativas e palatáveis, fazer a harmonização com o menu do jantar, convidar os amigos para celebrar e brindar às amizades, aos amores, à família, aos bons vinhos, ao emprego novo, à viagem, ao namoro, ao noivado, ao casamento, ao batismo, ao nascimento, à formatura, ao aniversário… À vida, em fim.. Brindar! Tim Tim!