A morte ensina muito aos que ficam. Ensina o peso da dor, a importância dos olhos nos olhos, que o último abraço, mesmo quando forte, nunca é o suficiente. Quando ela acontece de maneira violenta, os ensinamentos são muito maiores e mais duros. Um trem nos atravessa ao meio e sacoleja sentimentos que nem sabíamos que poderíamos sentir.
A morte brutal de dez pessoas no atentado à escola de Suzano, em São Paulo, deixa infinitas lições. A principal, porém, é a de que o jornalismo não é imortal. Ele morre e mata. Ele morre a cada repórter que interroga famílias em momentos de desespero, a cada veículo que busca explicações simplistas para a barbárie, que culpa os familiares dos assassinos.
Ele morre e mata. Mata a humanidade das vítimas —, que tem nome, família e uma banda favorita —, quando exibe cenas injustificáveis. Nem mesmo o mais forte dos borrões nas imagens de corpos de adolescentes estirados no chão escondem a repugnância da violência e a indignidade de veículos que vendem um show de horrores, não mais notícias.
Mata o compromisso com a informação, que faz o jornalismo, jornalismo. Que é tão caro para a manutenção de uma sociedade equilibrada. Para a garantia da democracia. Ele morre e mata. Mata com disparos cirúrgicos, que reverberam contra si. Disparos, talvez, muito mais letais do que as armas dos atiradores de Suzano.
Lições, é claro, servem para ensinar algo. Já sabemos o que não fazer. Suzano nos noticiários é uma definição exata do mau jornalismo. Como há um par de anos atrás, quando escolhi ser narradora do cotidiano, sigo de mãos dadas com a profissão que acolhi. Não vou desistir do jornalismo, mesmo que ele esteja abatido e sujo de sangue.
Ele morre e mata. Mas como jornalistas, leitores ou espectadores, precisamos salvá-lo para também nos salvar.