Estava na sala de espera da clínica veterinária com minha gata doente. De repente, um homem entrou na recepção com uma cadela de raça nos braços. Ela estava prenha e gemia com um latido fininho e angustiante. Foi levada à sala de emergência. Passado algum tempo, o médico veterinário veio dar a notícia de que a cadela sobrevivera, porém, infelizmente, abortara todos os fetos. O homem relutou um pouco para acreditar. A aflição dele me causava agonia também. Ele se sentou na cadeira em frente a minha e telefonou para alguém: “tivemos um prejuízo de 10 mil reais!”.
Faço parte de um grupo do Facebook que divulga fotos de animais achados e perdidos na minha cidade: “filhotes encontrados abandonados em terreno baldio”, “gato bem cuidado que deve ter fugido de casa”, “cachorro com coleira foi visto vagando em avenida”, “cadela doente precisa de ajuda para tratamento veterinário”, “meu gatinho fugiu de casa, me ajudem encontrá-lo!”, “pago recompensa para quem encontrar meu filho de quatro patas”, “gatinhos de sete semanas para adoção responsável”.
Confesso que, muitas vezes, sinto um nó no estômago. Vejo imagens de animais abandonados por ex-donos que se mudaram para outra cidade e deixaram seus cães e gatos para trás, como se eles fossem um sofá velho que não caberia na nova morada. Já me emocionei com as histórias de pessoas que nunca vi na vida, mas que contam como reencontraram seus animais de estimação ou relatam a dor de tê-los perdido.
Nesse grupo virtual, desconhecidos têm algo em comum: o amor e o respeito pelos animais que vivem dentro de casa. Fazemos vaquinha virtual, enviamos ração para doação, compartilhamos fotos e esperança pelas redes sociais.
Por isso, quando passeio pelo Shopping, sinto aflição ao encontrar filhotes de cães e gatos expostos nas vitrines das lojas de pet shop. Até entendo o desejo de ter um animal de raça pura, como o amigável e brincalhão Golden Retriever ou o dócil e inteligente Yorkshire Terrier. Entretanto, o preço para se ter um cachorro desses pode ser muito maior do que o valor que o comprador desembolsa.
A todo momento os jornais noticiam canis clandestinos que são fechados. Vemos imagens de cães e cadelas emagrecidos, sujos e abandonados em gaiolas apertadas. Às vezes, o filhote fofinho que você levou para casa é resultado do sofrimento e abuso de outros bichos.
Muitos anos atrás, meus pais adotaram um cãozinho vira-lata. Ele foi meu primeiro amigo de quatro patas. Quando fui morar sozinha, adotei dois filhotes de gatos de rua. Só quem convive com esses animais conhece o companheirismo sincero e o amor desmedido que eles têm por nós.
Antigamente, se alguém me falasse que eu sairia de casa com um saquinho de ração na bolsa para dar aos gatos que encontro pelo caminho, acharia improvável. Mais curioso ainda é descobrir que nossas ações nos presenteiam com situações inesperadas: os gatos de rua me deram novos amigos. Dentre outras pessoas, conheci um casal através da vaquinha que foi feita para pagar a cirurgia de uma gata idosa que tinha câncer de mama ulcerado. Outro dia, fui à casa desses amigos e vi que a gata não ganhou somente mais tempo de vida: ela saiu das ruas para ser adotada e morar num lar quentinho de afeto.
Aquele dia, na clínica veterinária, voltei para casa duplamente arrasada. Em primeiro lugar porque minha gatinha ficou internada. Em segundo porque tive pena daquela cachorra: ela estava prenha de cinco cachorrinhos que custariam 2 mil reais cada um: “o prejuízo de 10 mil reais!”.
Sendo assim, não compre; prefira adotar cães e gatos. Porém, se optar por comprar, pesquise o vendedor antes de adquirir o bichinho. Procure saber onde os animais estão sendo criados e vá visitar o lugar, se possível. É um apelo sincero: sejamos conscientes, e não cúmplices de canis e gatis clandestinos.