Em poucos dias, 2019 já nos mostrou que não veio em missão de paz. O crime ambiental em Brumadinho, Minas Gerais, o incêndio no alojamento do time de base do Flamengo, as consequências do temporal no Rio de Janeiro e a morte de grandes personalidades, como o jornalista Ricardo Boechat, trazem um clima de tristeza e desesperança para o nosso país. Mas, ainda que os dias não estejam generosos, uma boa leitura continua sendo capaz de mudar nosso estado de espírito. A Revista Bula reuniu em uma lista dez livros que tratam de superações e geram reflexões acerca de temas universais, como o amor, a vida, a morte e o sofrimento.

Emil Sinclair é um jovem criado por pais piedosos e religiosos. Apesar do amor que sente pela família, Sinclair se enxerga de maneira diferente e já não quer levar a vida da mesma maneira que seus pais. Atormentado pela falta de respostas às suas questões sobre a vida, ele faz amizade com Max Demian, um colega de classe precoce e carismático, que o ajuda em sua busca de respostas. Demian defende que o ser humano deve celebrar não apenas seu lado bom, mas também seus defeitos e instintos perversos. Influenciado pelo novo amigo, Sinclair começa a descobrir os perigos e prazeres da adolescência.

O romance narra a história de Eugênio, um homem que, pelo esforço da família, consegue ingressar na faculdade de Medicina. No dia de sua formatura, ele conhece Olívia, uma jovem simples, por quem se apaixona. Os dois têm uma filha, Ana Maria. Mas, Eugênio tem vergonha de suas origens e abandona a família para se casar com Eunice, uma jovem da elite. Anos depois, Eugênio fica sabendo que Olívia está doente e resolve viajar para visitá-la. Durante a viagem, ele reflete sobre os sonhos e pessoas que abandonou para viver um casamento infeliz com Eunice. A partir desse momento, ele percebe que precisa dar um novo rumo à sua vida.

A obra narra a busca pela verdade e pela iluminação pela perspectiva de dois amigos. Ray Smith é um aspirante a escritor que mora em São Francisco e anseia por algo mais na vida. Ao conhecer Japhy Ryder, ele finalmente encontra um propósito. Ryder é um jovem zen-budista adepto do montanhismo que vive com o mínimo de dinheiro, alheio à sociedade de consumo norte-americana. Em meio à escaladas de montanhas, saraus poéticos, festas e bebedeiras, os amigos refletem sobre a simplicidade da vida e a felicidade. O personagem Smith é inspirado no autor do livro, Kerouac, e Ryder é baseado no poeta e ensaísta budista Gary Snyder.

“Correio do Tempo”, é uma coletânea de contos dividida em quatro partes: Sinais de Fumaça, Correio do Tempo, As Estações e Colofão, que, em sua etimologia, significa “o fim de uma obra”. Os contos tratam dos mais diversos tipos de encontros e despedidas, do distanciamento, da ressignificação e da passagem do tempo: uma criança que passa alguns dias na casa do pai separado, um homem doente que escreve ao amigo pela última vez, uma visita inesperada de um preso político ao seu algoz, sobreviventes de naufrágios que se encontram acidentalmente em uma ilha deserta, e o relato de um homem preso por matar quem amava.

“Morreste-me” foi a obra que revelou o escritor português José Luís Peixoto. Em 66 páginas, Peixoto relata a morte do seu pai após um sofrido tratamento de saúde, o processo de luto e a experiência de voltar à casa onde viveu durante a infância, que agora está vazia. Sem o pai, a casa mergulha em um constante inverno, independente do passar dos dias: “Regressei hoje a esta terra agora cruel. A nossa terra, pai. E tudo como se continuasse. Diante de mim, as ruas varridas, o sol enegrecido de luz a limpar as casas, a branquear a cal; e o tempo entristecido, o tempo parado”. Peixoto se sente envolto pela morte e apenas as lembranças do pai ajudam a aliviar o presente.

Joan Didion, uma das mais aclamadas escritoras e intelectuais americanas, narra o período de um ano que se seguiu à morte de seu marido, o também escritor John Gregory Dunne, e a longa doença de sua única filha. Uma história que falará alto a quem ama ou já amou alguém, com a profundidade que as grandes relações têm, sejam elas entre pais e filhos ou entre companheiros de uma vida. Este é um livro para todos os que já se perguntaram: E agora? O que fazer se a vida parece não ter mais sentido algum? É um livro sobre a superação e sobre a necessidade de atravessar — racionalmente ou não — momentos em que tudo o que conhecíamos e amávamos deixa de existir.

Nascido no porão de uma livraria de Boston, nos anos 1960, o rato Firmin foi o único da sua ninhada a desenvolver a capacidade de leitura. Marginalizado pela sua família ele busca fazer amizade com um livreiro, que é seu herói, e com um escritor fracassado. Firmin tem uma fome insaciável pelos livros e, por meio da leitura, se transporta para diferentes lugares. A biblioteca é o seu refúgio e o mundo lá fora lhe parece frio e repugnante. À medida em que aperfeiçoa seus conhecimentos, o rato adquire emoções e sonhos com características humanas e passa os dias imaginando como seria uma vida entre os homens.

O livro aborda o relacionamento aparentemente sólido de um casal de americanos que mora em Londres. Lawrence é um disciplinado pesquisador de um instituto de estudos estratégicos, um homem sério e muito culto. Irina é uma acomodada ilustradora de livros infantis que se depara com uma vontade incontrolável de beijar outro homem: Ramsey, um velho amigo do casal e um dos jogadores de sinuca mais famosos da Inglaterra. A partir desse único beijo, a autora escreve duas histórias para oferecer ao leitor desdobramentos diferentes do futuro e explora as consequências e as motivações mais íntimas da escolha de Irina.

O livro narra a história de personagens comuns, que caminham nas beiradas da existência e são arrancados do cotidiano por golpes incisivos do destino e da loucura. A obra contém 14 contos, divididos em duas partes e traz as únicas narrativas autobiográficas já publicadas por Munro. Todos os contos se passam no interior do Canadá e abordam temas universais, como o amor, a morte, a infância, o adultério, a velhice e a solidão. Em 2013, a autora ganhou o Prêmio Nobel de Literatura — foi a primeira vez que a academia sueca premiou uma escritora de contos.

Lucia Berlin teve uma vida cheia de reviravoltas. Nascida em 1936, no Alaska, ela passou a infância peregrinando de cidade em cidade. Aos 32 anos, ela já havia vivido em diversos países, passado por três casamentos e trabalhado como telefonista, faxineira e enfermeira para sustentar os filhos. Berlin lutou contra o alcoolismo por anos e, ao superar o vício, tornou-se uma aclamada professora universitária. Desse vasto repertório, veio a inspiração para escrever os contos com teor autobiográfico que estão reunidos no livro “O Manual da Faxineira”. Berlin morreu em 2004. A compilação de seus contos lhe deu reconhecimento internacional.