Os leitores Nutella desse mundo tomado por obras insossos como “50 Tons de Cinza”, “Codinome Lady V”, “Deep” ou “O Executivo Tatuado” são pudicos que pensam ser libertinos. Como diria o grande mestre Cumpadi Washington: “sabem de nada, inocentes”. Na verdade, a literatura erótica possui uma tradição secular, até milenar. Inclui verdadeiras obras-primas estéticas, algumas caminham no limite tênue entre o grotesco e o sublime. Vão muito além da pornografia para donas de casas consumida atualmente. O fato é que a “literatura para ser lida com uma mão” só já viu dias melhores. Em homenagem a essa respeitável tradição, a Revista Bula preparou uma lista com alguns de seus títulos mais célebres.
O pessoal na Idade Média só ficava rezando. Doce ilusão! Mas, como se diz, ajoelhou tem que rezar.
Não gosta das aulas de filosofia? Talvez não tenha tido os mestres certos.
Aviso aos navegantes: o nome da autora não quer dizer nada.
Você não é de câncer? É de virgem. Então, cuidado com Touro, ou pode acabar com Gêmeos.
Em terra de cego quem tem um olho é rei? Sim, mas não estamos falando de um ciclope.
Ela achava o tal amante racionalmente inferior, feio e velho. Mesmo assim deu. Galã, rico e jovem, até a Demi Moore aceitaria a proposta indecente, sem nem precisar oferecer um milhão!
O bom e velho Nelson, um caso raro de reacionário perdoado pelas esquerdas, usando uma vassourinha ao contrário da usada pelo presidente maluquinho Jânio Quadros, espalhava de volta todo o lixo varrido para debaixo do tapete pela respeitável família brasileira.
A tetralogia em quadrinhos baseada nas histórias e lendas acerca da famigerada família Bórgia representa o refinamento máximo do traço do mestre Manara e um excepcional exercício de minimalismo literário do sempre exuberante Jodorowsky. Se alguém ainda acha que quadrinhos é coisa de crianças, vai sair chocado da leitura: orgias papais, incesto e castrações é apenas o começo.
Pensando bem, o livro é datado e anacrônico. Prefira a adaptação cinematográfica feita pelo bom rabino Woody Allen: “Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo (mas tinha medo de perguntar)”, de 1972. O filme leva uma ovelha de vantagem.
A famosa cena de sexo no chão da cozinha, entre um noviço e uma camponesa, é um complexo mosaico composto por centenas de citações eruditas retiradas da Bíblia, da literatura clássica e de tratados teológicos. Mesmo assim essa cozinha consegue ser mais excitante do que o “quarto vermelho da dor” da dona E. L. James.
Parece que Christian e Anastásia, o casal bem-comportado de “50 Tons de Cinza”, estão grávidos. Parece que é uma menina. Parece que vão dar o nome de Raquel para a doce herdeira. Parece que ela vai preferir ser chamada de Bruna quando crescer. Parece que ela não será exatamente uma surfista. Não tenho certeza, li num blog.
Ehhhh, véia safada!
O livro é escrito como se fosse a descrição de uma série de consultas a um analista. Quem sabe o mal que se esconde nos corações dos homens? O analista sabe.
Por falar nisso, sabe àqueles calos duríssimos nas mãos firmes e trabalhadoras de seu respeitável avô, esse homem sisudo que jamais passará perto desse tal livrinho sem-vergonha que as mulheres andam lendo? Pois bem, nem todos seus calos são frutos da dura labuta diária. Fique com essa imagem na cabeça.
É a prova de que até Jeová, como bom judeu que é, consegue escrever literatura erótica melhor do que os autores de hoje. Como pregou o bom rabino Woody Allen, “sexo só é sujo quando é bem-feito”. Amém.