Há poucas verdades universalmente aceitas tanto pela ONU quanto pelos Illuminati, o Vaticano e a URSAL. Uma delas é que todas as respostas para todas as perguntas estão no número 42, na Bíblia e na saga “O Poderoso Chefão”. Fique claro que se trata da trilogia de filmes dirigidos por Francis Ford Coppola, não do bom romance policial escrito por Mário Puzo. A trilogia “O Poderoso Chefão” é uma espécie de cabala pop pós-moderna, com Marlon Brando e Al Pacino no lugar da Madonna. Basta saber perguntar e, mais importante, saber absorver as respostas nas linhas e entrelinhas dos diálogos trocados entre os membros da família Corleone, seus agregados, aliados, amigos e inimigos.
Tal fonte de sabedoria universal pode ajudar a compreender o conturbado atual cenário político brasileiro, no qual familiares, agregados, amigos e inimigos brigam sem parar nas redes sociais, em casa, no trabalho, no trânsito, em reuniões de condomínio, dentro de aviões, shows internacionais, nos churrascos na laje, concursos de miss, peladas de final de semana, bocas de fumo e até mesmo no sacrossanto espaço pacifista dos estádios de futebol. Ninguém mais se importa com disputas realmente importantes, como Pelé ou Maradona, Marvel ou DC, Caprichoso ou Garantido, Star Wars ou Star Trek. Portanto, vou fazer-lhe uma oferta que não vai poder recusar. Usando minhas habilidades jedi, sugiro que vá para casa, veja ou reveja “O Poderoso Chefão” e repense sua vida.
O primeiro e mais importante ensinamento que recebemos de “O Poderoso Chefão” é que não estamos em uma história dualista, feita de heróis e vilões. Na verdade, ninguém é puro. Nem você e muito menos seu candidato. O Chefão já deixou claro: só não me diga que você é inocente, isso insulta minha inteligência e me deixa ainda mais zangado. Se você se considera o lado do bem, provavelmente é um inocente útil. Alguém está te usando, explorando ou manipulando. Obviamente, uma coisa é acreditar ser o bem, outra é fingir ser o bom. Nada te impede de adotar esse discurso, desde que seja como estratégia de jogo.
Afinal, se você é mesmo o bem, o outro lado deve ser o mal. O mal digno de todo desprezo, o mal que merece ser cuspido e pisado, o mal indigno de sua indignação. Você pode até se sentir aliviado por crer-se moralmente superior ao outro, mas esse tipo de atitude passional cega. Ensinou o Chefão: nunca odeie seus inimigos, isso afeta seu julgamento. Ou seja, se pretende derrotar o oponente, seja frio e calculista, procure compreender como ele pensa e age, faça engenharia reversa de seus métodos. Só assim conseguirá descobrir suas fraquezas e as explorar. Converse com ele, convide-o para um papo privado, um café, mande nudes (sem rosto), seduza-o. Já disse o Chefão: eu converso com meus inimigos e, às vezes, até os respeito, mas isso não quer dizer que eu confie neles. Portanto, nada de sentimentalismo, tenha sempre em mente que não é nada pessoal. São apenas negócios.
Negócios. Política no Brasil são negócios e você é basicamente capital de giro. Valores são negociados todos os dias na Bolsa de Valores. A verdade é que um advogado com uma pasta pode roubar mais que mil homens armados. Sobretudo se for um advogado de campanha. Em política, contam com sua ingenuidade. Seu candidato não é seu amigo. Amigos e negócios: água e azeite. Não há para onde fugir e quem lhe oferecer segurança será o traidor. A escolha fica entre deixar o potencial traidor saber que você espera a traição e está pronto para retaliar ou fingir para ele e para si que não sabe que será traído. A pessoa pragmática não ignora que política é saber a hora de puxar o gatilho. Metaforicamente, é claro, estamos em uma democracia.
Neste jogo de cartas marcadas é fundamental pelo menos tentar esconder suas cartas. Aproveite-se do corolário de que o voto é secreto. É uma margem de manobra. Deixe que seus amigos subestimem suas qualidades e que seus inimigos superestimem seus defeitos. Dessa forma, sabendo manobrar, talvez você até consiga trazer alguns votos para seu candidato. Não perca tempo com apoiadores consolidados, mas entrando em contato com indecisos, adesistas ou praticantes do voto útil, jogue no ar frases como se você fosse meu amigo, os seus inimigos seriam meus inimigos, ou lustre sua vaidade com se um homem honesto como você fizesse inimigos, então eles seriam meus inimigos e temeriam você. Tenha certeza que assim poderá conquistar corações e mentes de forma mais efetiva do que xingando muito no Twitter, brigando com as tias do Whatzapp, respondendo memes ou reclamando de “fake News”, como se apenas o lado de lá as espalhasse. Nada mais estrategicamente equivocado do que bradar indignado que vai excluir de sua vida quem pensa diferente de você. Lembre-se: mantenha os amigos por perto; e os inimigos mais perto ainda.
E ninguém é mais próximo do que os familiares. A questão da família é um dos temas recorrentes desta eleição. Me intriga que isso ainda seja um problema considerando que na Família Lima tem até nora, mas não tem mãe. A vida é assim, cheia de possibilidades. Seja como for, os Corleone formam uma família disfuncional tipicamente “tolstoiniana”, são infelizes a sua maneira. Pelo exemplo pedagógico, como numa tragédia grega, podemos concluir o que fazer e o que não fazer para não termos o mesmo destino: nada de espancar o cunhado, nada de mandar matar o irmão e, principalmente, nunca diga o que sente para alguém de fora da família. As eleições passam. A família fica. Brigar com familiares por conta de entidades bidimensionais que moram em um reino encantado distante e seco chamado Brasília é bobagem. Afinal, um homem que não se dedica à família jamais será um homem de verdade. O mesmo vale para mulheres, LGBT’s e adolescentes que votam aos 16 anos.
A vitória de seu candidato não é sua vitória. A derrota de seu candidato não é sua derrota. Salvo se ele te prometeu um cargo comissionado. Ainda assim, se por um lado, os homens mais ricos são aqueles que possuem amigos mais poderosos, por outro, aquele que depende de outras pessoas depende de sobras.
Enfim, todo o poder do mundo não pode mudar o destino, nem o resultado das urnas. Se por acaso o seu candidato for derrotado, não se desespere, não é um “apocalipse now”. Ser oposição é sempre mais fácil e mais seguro. Claro que dói mais ter algo e perdê-lo do que nunca o ter, mas nem tudo está perdido. Quando menos esperar vai se dar conta de que quando eu pensei que estava fora, eles me puxavam para dentro. Quatro anos só é muito tempo para esperar a próxima Copa do Mundo, para chegar as novas eleições é um pulinho quântico. Nem sentimos o caminhar dos dias.
Veja e aprenda. Deixe a arma, pegue o cannoli.