Um clássico dito popular sugere que “tamanho não é documento”. Algumas obras clássicas literárias provam que, quando o assunto é literatura de qualidade, o provérbio está mais do que correto. Com no máximo cem páginas, títulos como: “A Festa de Babette” (1950), de Karen Blixen; “A Morte de Ivan Ilitch” (1886), de Lev Tolstói; “O Paraíso São os Outros” (2014), de Valter Hugo Mãe; e “O Alienista” (1882), de Machado de Assis; não deixam nada desejar em relação a livros de maior extensão. A Bula selecionou os 15 melhores títulos com menos de uma centena de páginas —, entre eles, aqueles mencionados acima, — e os reuniu em uma lista. Os comentários são adaptados das sinopses das editoras. Além disso, as obras não estão organizadas de acordo com critérios classificatórios.
O conto narra a história de duas senhoras puritanas, filhas de um pastor protestante, que vivem na costa da Noruega após a morte do pai. Certo dia, elas recebem a visita de Babette, uma misteriosa francesa que, fugindo de Paris, lhes pede abrigo em troca de serviços domésticos. Babette tira a sorte e ganha o bilhete premiado na loteria. É a possibilidade de retribuir o bem às irmãs, e ela o faz preparando um grande jantar para a comunidade local.
Macabéa é uma jovem nordestina que cumpre seu destino. Feia, magra, sem entender o que se passa à sua volta, é maltratada pelo namorado Olímpico e pela colega Glória. Os dois são o seu oposto: o namorado sonha alto, e Glória, carioca da gema e gorda, tem família e hora certa para comer. Os dois acabam juntos, enquanto Macabéa, sozinha, continua a viver sem saber por que está vivendo. Até que uma consulta com uma cartomante muda os rumos de sua vida.
Depois de abdicar da arte e renegar toda a sua obra anterior para se dedicar à vida espiritual, Lev Tolstói volta a escrever em 1886, à pedido do também escritor e amigo Ivan Turguêniev, que estava prestes a morrer. A primeira obra literária publicada após seu retorno às letras, “A Morte de Ivan Ilitch”, é considerada um dos textos mais impressionantes não só de seu legado literário, como de todos os tempos.
Partindo de Nova York rumo ao Extremo Oriente, Tosches revela lugares improváveis, acontecimentos impossíveis, pessoas incríveis e, acima de tudo, mostra o quanto nossa disparada enlouquecida ao futuro destrói costumes nobres. A sua narrativa é recheada de referências históricas e resgata o lado sagrado e mitológico no consumo de Ópio, conferindo ao controverso e milenar hábito uma aura de requinte.
A história é contada a partir do ponto de vista do sócio de um escritório de advocacia de Nova York, que se esforça para desvendar a misteriosa e impenetrável personalidade de Bartleby, um escrivão que se recusa resolutamente a realizar qualquer tarefa, sem apresentar nenhuma justificativa para tal. O fascínio pela postura do funcionário impede o advogado de tomar medidas enérgicas e, quando finalmente decide fazê-lo, é confrontado com a mesma negativa inabalável.
O último livro do filósofo francês André Gorz foi escrito para homenagear sua mulher, Dorine, com quem foi casado por quase 60 anos. O casal cometeu suicídio em 2007. Os corpos foram encontrados um ao lado do outro, e um cartaz, na porta de sua casa, pedia que a polícia fosse avisada. Gorz era um crítico radical da mercantilização das relações sociais. Desde 1990, vivia em retiro com a mulher, que sofria de uma doença degenerativa incurável.
A obra é um conjunto de releituras de contos da década de 1930, nas quais Jorge Luis Borges se coloca no lugar do leitor. Embora as histórias que compõem o volume tenham sido tiradas, em grande parte, de livros de outros autores, o trabalho abissal de reescrita é a novidade, complexa e de grande força expressiva, pois depende da criação incomum de pormenores circunstanciais de longo alcance que, ampliam e adensam os significados dos argumentos que aproveita, imprimindo-lhes um sentido inesperado.
“Morreste-me” foi o livro que revelou o escritor português José Luís Peixoto. Publicada em 2000, é uma obra tocante e comovente: o relato da morte do pai, o relato do luto e, ao mesmo tempo, uma homenagem, uma memória redentora daquele que posteriormente seria considerado um dos escritores mais dotados de seu país. O jornal francês “Le Monde”, considerou a obra “uma extraordinária forma de interpretar o mundo”.
A trama é centrada no dr. Simão Bacamarte. Um estudioso da mente humana, o médico decide construir a “Casa Verde”, um hospício para tratar os doentes mentais na pequena cidade de Itaguaí. Com um estilo realista e fantástico a um só tempo, Machado conduz uma história surpreendente e mostra ao leitor que tudo é relativo e que a normalidade nem sempre é aquilo que a ciência e os fatos atestam de forma absoluta.
Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas. Entre desejar um barco e tê-lo pronto para partir, o viajante altera aos poucos a ideia que faz de uma ilha desconhecida e de como alcançá-la, e essa flexibilidade o torna mais apto a obter o que sonhou.
Tido como morto durante uma batalha, ao voltar para casa depois de anos, o coronel Chabert já não encontra lugar no mundo. Sua mulher, herdeira de toda a fortuna, casou-se de novo e teve dois filhos; sua casa foi demolida; até a rua em que morava foi rebatizada. Despossado de seus bens e de seu nome, o antigo herói das guerras napoleônicas pede ajuda ao advogado Darville para se lançar com todas as forças em uma última batalha, pela retomada de sua identidade.
De origem autobiográfica, o texto só foi publicado postumamente em 1916. “O Diabo” trata de questões caras ao autor: o papel do casamento, do sexo e das relações amorosas; e a responsabilidade moral dos indivíduos. Na história, Evguêni, um bacharel em direito, se envolve com uma bela camponesa, num caso que teria tudo para ser esquecido e relegado às loucuras de juventude. Mas Evguêni é jovem, e não percebe que está criando armadilhas para si mesmo.
Em “O Paraíso São os Outros”, uma menina volta seu olhar pueril para os casais. Casais de pessoas e de animais, de homem e mulher, de mulher com mulher, de golfinhos e de pinguins. Uma menina a quem o amor intriga e fascina. Uma menina que ao imaginar a vida dos outros, sonha com a pessoa que um dia irá amar. Sua voz inocente toca tanto as crianças quanto os adultos.
“O corpo antes da roupa”, afirma o personagem principal de “Um Copo de Cólera” ao narrar o que acontece numa manhã qualquer, depois de uma noite de amor, quando a aparente harmonia entre ele e sua parceira se rompe de repente. Tensa, contundente, a linguagem de Raduan Nassar tornou a obra um clássico contemporâneo da literatura brasileira. A obra foi adaptada para o cinema em 1999, no filme homônimo do diretor Aluizio Abranches.
“Um, Dois e Já” é uma delicada ode às memórias afetivas. Na novela, a história é narrada em primeira pessoa por uma menina que conta a viagem de verão da família até um balneário uruguaio, dentro de um carro apertado, no início dos anos 1980. A voz da narradora, ora lírica, ora jovial, mas nunca infantilizada, descortina a paisagem plana e melancólica do Uruguai, e revela a dinâmica familiar, na qual ela ocupa a peculiar e determinante posição de irmã do meio.