O primeiro Nobel brasileiro a gente nunca esquece

O primeiro Nobel brasileiro a gente nunca esquece

E se o Brasil tivesse recebido um Prêmio Nobel de Literatura, quem seria o ganhador? Antecipando as eventuais discussões, polêmicas e brigas, Jacques Fux já resolveu logo a questão. Ele “se deu” o prêmio! Isso mesmo, acabou o tabu! Depois que Leonardo DiCaprio ganhou o Oscar de Melhor Ator, o Corinthians venceu um Mundial de verdade, a Seleção Brasileira ganhou a Medalha de Ouro Olímpica, finalmente, o Brasil se laureou com um Prêmio Nobel de Literatura. Os suecos podem ter esnobado Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Jorge Amado, Cabral, Rosa e Drummond, mas não conseguiram resistir às brochadas literárias de Jacques Fux. Pelo menos segundo o próprio. O autor de “Literatura e Matemática”, “Antiterapias”, “Meshugá: Um Romance Sobre a Loucura” e do livro que retratou fielmente todo o momento político e social do mundo “Brochadas”, lavou nossa alma verde e amarela.

Jacques Fux
Nobel, de Jacques Fux (José Olympio, 128 páginas)

E o mais importante é que Fux acaba de publicar um livro com seu discurso de recebimento. E, que discurso! Sabe aquilo que todo mundo tem vontade de falar, de por para fora, de dizer bem alto: “eu mereço, eu sou bom mesmo”, mas não tem a mínima coragem para fazer? Pois bem, Fux — o nosso laureado — não tem papas na língua. Seu discurso é repleto de ironia, sarcasmo, (auto) depreciação e literatura. Uma sátira bem escrita e divertidíssima, mas que promete abalar os pilares do Nobel revelando suas politicagens e fofocas. Confere? É isso mesmo? Em se tratando de Fux, um herdeiro do falsificador erudito Jorge Luis Borges, tudo pode acontecer. Ser ou não ser não é mais a questão. Num furo de reportagem, pulei o muro com cacos de vidro e cerca elétrica da mansão de Fux no principado de Mônaco e consegui uma entrevista exclusiva. Em tempos de Fake News, nada como um bom exemplo de jornalismo literário ou literatura jornalística; o leitor decide. Com vocês, em primeira mão, entrevistamos o nobélico Fux!

O senhor está lançando o romance “Nobel”, que nada mais é do que seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo. Lava muito roupa suja literária. Entrando no espírito da coisa, primeiramente parabéns, e pergunto: o senhor tinha conhecimento de que estava entre os indicados?

O filósofo francês Jean-Paul Sartre, deu uma de gostoso e recusou o Nobel. Existiria alguma possibilidade de o senhor fazer o mesmo?

Então, quais seriam seus planos para a montanha de dinheiro que vem junto com a medalha e o diploma?

Deu aqui em um obscuro site na internet, com servidor da Eslovênia, que a Academia Sueca anunciou sua premiação justificando a láurea pelo senhor “ter performado, falsificado e duplicado a narrativa dos escritores canônicos, transformando-a em sua perturbada obra”. Acha tal interpretação do escopo de sua obra justa?

Consta que assim que recebeu a notícia do Nobel, o senhor telefonou para Philip Roth. Qual foi o teor da conversa?

Muitos críticos afirmam que a Academia Sueca premiou Kazuo Ishiguro em 2017 para se desculpar por ter premiado Bob Dylan em 2016. Agora tem uns youtubers metidos a cult afirmando que o senhor foi escolhido em 2018 como forma da Academia se desculpar por ter pedido desculpas em 2017? Concorda?

Diz a lenda que não há Prêmio Nobel de Matemática em função da esposa de Alfred Nobel ter tido um caso extraconjugal com um matemático. O senhor, além de escritor, é também um matemático. Foi justiça poética?

Um perfil fake da Mia Farrow publicou no Twitter que o Woody Allen anunciou que pretende adaptar seu livro “Antiterapias” para o cinema. É uma obra com fortes traços autobiográficos. Quem recomenda para interpretar o protagonista?

Brasileiro adora um primeiro lugar. Aceitaria convites para desfilar em carros de bombeiro pelas ruas de Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro?

Olha só, as surpresas não acabam! Um contato no Rio de Janeiro acaba de me enviar um Twitter fake informando que uma escola de samba vai usar sua obra como enredo em 2019. Parece que o título já está até definido: “A brochada do judeu louco na terra da dinamite”. E neste desfile, o senhor aceitaria subir no carro alegórico?

Seus inimigos literários o acusam de ter roubado seus livros de um colega da faculdade de engenharia que suicidou. O que tem a dizer em sua defesa?

Vim para Mônaco sentado ao lado de um senador no avião. Ele me confidenciou que três candidatos à presidência o procuraram, convidando-o para ser ministro da Educação e Cultura em seus eventuais futuros governos. Confere? O que pensa dos convites?

Para terminar, registro que seu livro “Nobel” é o discurso que os Acadêmicos Suecos precisariam ouvir. É desaforado, honesto e hilário ao mesmo tempo. Recomendo muito. Adiantaria alguma coiso do livro para os leitores?

Ademir Luiz

É doutor em História e pós-doutor em poéticas visuais.