A partir do século 19 diversos autores russos se lançaram no cenário literário mundial com obras não menos do que geniais. Rapidamente, os livros se tornaram verdadeiros marcos na literatura em todo mundo. Aclamados pela crítica e principalmente pelos leitores ávidos, eles apresentaram novos estilos e tendências de narrativas. Para relembrar a importância das obras do país, a Bula reuniu em uma lista os grandes clássicos literários russos. Alguns destaques são as obras-primas “Crime e Castigo” (1866), de Fiódor Dostoiévski; “Os Contos de Kolimá” (1970-1976), de Varlan Chalámov; e “Doutor Jivago” (1957), de Boris Pasternak. Os livros não estão organizados de acordo com critérios classificatórios. Os comentários são adaptados das sinopses das editoras.
A obra narra a vida de Eugênio Oneguin, que, em plena juventude, sente-se entediado com a vida. Aristocrata, rico e militar, ele permanece solteiro por medo das responsabilidades. Certo dia, um verdadeiro amor passa por sua vida, a quase adolescente Tatiana. No entanto, Eugênio ignora a garota. Anos mais tarde, ele parece despertar de seu tédio pela vida e volta a encontrar Tatiana, mas ela está casada.
O livro é centrado em Pável Ivánovitch Tchítchicov, um burocrata afastado do serviço público por desonestidade. Ele percorre o interior da Rússia à procura da fortuna. Enquanto faz um retrato das autoridades das pequenas cidades e dos proprietários de terras, o personagem apresenta uma visão crítica e mordaz do sistema semi-feudal existente à época, com os servos vivendo em um quase regime de escravidão.
“Oblómov” é uma obra-chave na literatura russa do século 19 e a obra-prima de Ivan Gontcharóv. A trama é centrada na vida de Iliá Ilitch Oblómov, um rico senhor de terras que mal sai do sofá e passa os dias de roupão, fazendo planos que nunca coloca em prática. Lançado em 1859, a obra suscitou amplo debate ao retratar, por meio do protagonista, a elite russa às vésperas do fim da servidão.
O livro conta a história do jovem Arkádi Nikolaitch que, acompanhado de seu amigo e mentor Bazárov, volta à propriedade de sua família após formar-se na universidade. Bazárov é um personagem singular: despreza qualquer autoridade, é antissocial e se autoproclama um “niilista”. Suas convicções contrastam com os modos aristocráticos da família de Arkádi, provocando um conflito entre gerações.
“Crime e Castigo”, considerado um dos grandes clássicos da literatura universal, conta a história de Rodion Românovitch Raskólnikov. Um jovem estudante, que, sem encontrar outra saída para os problemas financeiros que vive, decide cometer um assassinato. No entanto, ao contrário do que ele imaginava, o crime se torna uma tormenta ainda maior, já que ele não consegue seguir a sua vida após o delito.
Com centenas de personagens e mais de mil páginas na versão original, “Guerra e Paz” é considerado um dos maiores romances da história. O enredo se passa durante a campanha de Napoleão na Áustria, e descreve a invasão da Rússia pelo exército francês e a sua retirada, compreendendo o período de 1805 a 1820. O jogo da política, as intrigas da corte, as tramas da sociedade, as táticas da nobreza arruinada, a brutalidade da guerra, sua banalidade e seus acasos são retratados na obra.
O enredo é centrado na personagem que dá nome à obra: Anna Karenina. Ao abandonar sua sólida posição social por um novo amor, e seguir esta opção até as últimas consequências, ela potencializa os dilemas amorosos vividos dentro e fora de casamento. Apesar de se tratar de uma pungente romance, o amor não é abordado por Lev Tolstói como puro idealismo romântico.
No livro, Dostoiévski conduz o leitor a uma jornada singular pelos recantos mais sombrios e luminosos da alma. A trama põe em foco três protagonistas irmãos, representantes dos mais diversos aspectos da realidade russa: Aliócha, o mais novo, que vive num mosteiro; Ivan, o intelectual e ateu; e Dimítri, militar e impulsivo. Apesar da diferença entre eles, os garotos compartilham algo comum: as tormentas de pertencer a uma família disfuncional.
Conhecido por revolucionar as narrativas curtas e por influenciar inúmeros autores do gênero, Tchekhov exibe em seus contos um interesse constante em desvendar o estado psicológico dos personagens, seus sentimentos e aflições, sejam eles camponeses, burgueses, nobres abastados ou aristocratas decadentes. No conto “A Dama do Cachorrinho”, um de seus mais célebres e que dá nome ao livro, o autor lança um olhar singular sobre o adultério e o surgimento do amor.
“O Exército de Cavalaria” reflete a experiência de Isaac Bábel na guerra russo-polonesa, entre os anos de 1920 e 1921. Judeu, russo e míope, o narrador registra sua permanente sensação de deslocamento em meio aos brutais cossacos que lutam a seu lado. Com sua prosa expressionista, Bábel parecia encarnar o ideal soviético de uma literatura revolucionária, mas acabaria fuzilado em 1940 pela política de extermínio stalinista.
“Doutor Jivago” é o maior e mais importante romance da Rússia pós-revolucionária. Nele, Boris Pasternak traz à luz o drama e a imensidão da Revolução Russa pela história do médico e poeta Iúri Andréievitch Jivago. Em tempos em que a simples aspiração a uma vida normal é desprovida de qualquer esperança, o amor de Jivago por Lara e sua crença no indivíduo ganham contornos de um ato de resistência.
A obra reúne as mais importantes criações de Anna Akhmátova, incluindo “Poema sem Herói”, que ela considerava o coroamento de sua obra. Escrito durante a Segunda Guerra Mundial, o livro carrega a marca do sofrimento vivido pela poeta. Perseguida pelas autoridades stalinistas, que a proibiram de publicar, ela teve que enfrentar o fuzilamento do primeiro marido, a morte do terceiro em um campo de concentração e a terrível angústia de ver o filho preso.
“O Mestre e Margarida”, de Mikhail Bulgákov, é considerado um dos grandes romances do século 20. Situado na Moscou dos anos 1930, o livro narra as peripécias de satã na cidade. Acompanhado de um séquito infernal — um gato falante e fanfarrão, um intérprete trapaceiro, uma bela bruxa e um capanga assustador —, seu caminho se cruzará com o dos amantes Mestre e Margarida.
Para escrever o livro, que se tornou a sua obra-prima, Soljenítsin foi ajudado pelo testemunho de 227 sobreviventes dos campos do Gulag. Na narrativa, ele revela os mistérios por trás do campo de prisioneiros soviéticos. A obra foi escrita clandestinamente entre os anos de 1958 a 1967, sendo seu manuscrito descoberto em 1973, na sequência da prisão de Elizabeth Voronskaïa, uma colaboradora de Soljenítsin que o datilografava.
Em Kolimá, no extremo leste da Sibéria, onde as temperaturas alcançam 60 graus negativos, localizavam-se os campos de trabalhos forçados mais terríveis da era stalinista. Foi neles que o escritor Varlam Chalámov cumpriu a maior parte de sua pena de quase 20 anos, trabalhando até 16 horas por dia, constantemente doente e desnutrido. Ao final desse período, ele retornou a Moscou e, no ano seguinte, começou a escrever “Contos de Kolimá”.