O jornal britânico The Telegraph pediu a críticos de literatura que selecionassem os melhores romances de todos os tempos, e reuniu os mais votados em uma lista. Foram lembradas principalmente as obras clássicas da literatura inglesa e americana, entretanto houve espaço também para títulos consagrados da literatura russa e francesa. O primeiro colocado foi “A Vida Era Assim em Middlemarch” (1871-72), de George Eliot; seguido de “Moby-Dick” (1851), de Herman Melville; e “Anna Kariênina” (1878), de Lev Tolstói. Entre as publicações mais recentes estão “Desonra” (1999), de JM Coetzee; “Reparação” (2001), de Ian McEwan; e “Suíte Francesa” (2004), de Irène Némirovsky, que permaneceu inédito por 62 anos. Os comentários são adaptados das sinopses das editoras.
O romance se passa na cidade fictícia de Middlemarch no período de 1830 a 1832. Ele apresenta muitas tramas com grande número de personagens, e, apesar de suas distintas, porém interligadas narrativas, aborda um número específico de temas: condição das mulheres à época, natureza do casamento, o idealismo, interesse pessoal, religião e hipocrisia, reforma política e educação.
A clássica obra de Herman Melville é centrada em Ismael, que realiza o sonho de conhecer a rotina de um navio baleeiro. No entanto, o que ele não sabia é que o capitão da embarcação, Ahab, tinha apenas um objetivo: matar Moby Dick, uma gigante baleia branca com a qual se encontrou tragicamente no passado. O homem, então, embarca em uma perigosa aventura em alto-mar e acompanha a jornada do capitão.
Publicado originalmente em fascículos entre 1875 e 1877, a trama ganhou corpo de livro em 1878. Estruturado em paralelismos, o livro se articula por meio de contrastes: a cidade e o campo; Moscou e São Petersburgo; a alta sociedade e a vida dos mujiques; o intelectual e o homem prático. Os dois principais personagens, Liévin, um rico proprietário de terras, e Anna, uma aristocrata casada, só se encontram uma vez, mas estão sempre interligados.
“Retrato de uma Senhora” é primeiro grande romance de Henry James, e talvez sua obra máxima. Em um século em que a esposa burguesa insatisfeita tornou-se uma personagem literária central, e o adultério um motivo romanesco recorrente, Henry James colocou em cena uma heroína singular, cuja carência essencial é de outra ordem. Um jogo em que cada coisa se transmuta em seu oposto: liberdade em destino, afeto em traição, pureza em artimanha – e vice-versa.
“Coração das Trevas” é centrado na viagem do protagonista Marlowe pelo coração sombrio da selva africana. A sua missão é trazer de volta Kurtz, um mercador de marfim cujos métodos passam a desagradar a companhia mercante que o contratou. Dividido entre o fascínio e a repulsa por Kurtz, Marlowe aos poucos vai descobrindo a natureza desses métodos.
“Em Busca do Tempo Perdido” é uma das maiores criações da literatura mundial. Dividida em sete livros, a obra-prima de Marcel Proust foi publicada entre 1871-1922, e sua beleza e força vão se revelando cada vez mais impactantes com o correr dos anos. Grosso modo, a obra trata da vida do Proust. Ela apresenta as suas reflexões sobre diversos temas, entre eles o amor, a homossexualidade e o passar do tempo.
Ambientado no século 19, o livro é centrado em Jane Eyre, uma garota órfã que vive com parentes que a desprezam. Um dia, ela é enviada a uma instituição de caridade, onde sofre privações, mas se torna forte e independente. Aos 18 anos, ela decide partir rumo a outra cidade para trabalhar. Jane Eyre narra, além de uma comovente história de amor, a saga de uma jovem em busca de uma vida mais digna do que a sociedade inglesa permitia.
Sucesso de crítica e de público, “Desonra” conta a história de David Lurie, professor de literatura que é expulso da universidade após ter um caso com uma aluna. Com um ritmo narrativo que magnetiza o leitor, o romance investiga as relações entre uma cultura humanista e a situação social explosiva da África do Sul pós-apartheid.
O romance se passa em um único dia, em junho de 1923, quando Clarissa Dalloway resolve comprar flores para a festa que vai oferecer. A partir desta cena inicial, o romance segue a protagonista pelas ruas de Londres, registrando suas ações, sensações e pensamentos. Em torno de Clarissa, gravitam vários personagens: o marido Richard Dalloway, a filha Elizabeth, e um amigo de juventude, Peter Walsh, com quem ela tem grande conexão afetiva.
O livro narra a história do engenhoso fidalgo Dom Quixote e de seu fiel escudeiro Sancho Pança em três incursões por terras da Mancha, de Aragão e da Catalunha, na Espanha. O clássico de Miguel de Cervantes é considerado o expoente máximo da literatura espanhola e, em 2002, foi eleito por uma comissão de escritores de 54 países o melhor livro de ficção de todos os tempos.
A história de “Orgulho e Preconceito” gira em torno das cinco irmãs Bennet, que viviam na área rural do interior da Inglaterra, no século 18. A obra aborda a questão da sucessão em uma família sem herdeiros homens, dentro de uma sociedade patriarcal, na qual o casamento era fundamental para as mulheres. Quando um homem rico e solteiro se muda para os arredores, a vida pacata da família entra em ebulição.
Um marinheiro náufrago em uma ilha deserta é a receita ideal para a criação de uma exótica e emocionante aventura de alcance universal. Robinson Crusoé, porém, está longe de ser apenas uma romântica aventura. Não a lemos de modo a escapar para um mundo de perigos e triunfos. Mas, sim, de modo a seguir com enorme interesse o sucesso do herói em construir, passo a passo, uma réplica física e moral do mundo que ele deixou para trás.
Publicado originalmente na forma de folhetim entre 1849 e 1850, “David Copperfield” é o romance mais autobiográfico de Charles Dickens. Nele, acompanhamos a jornada do herói, nascido na Inglaterra dos anos 1820. Órfão de pai desde o nascimento, David Copperfield pertence à imensa massa de desfavorecidos que a literatura do século 19, pela primeira vez, presenteou com o protagonismo.
Na fazenda chamada Morro dos Ventos Uivantes nasce uma paixão devastadora entre Heathcliff e Catherine, amigos de infância e cruelmente separados pelo destino. No entanto, a união do casal é mais forte do que qualquer tormenta, e acaba deixando rastros de ira e vingança. O único romance escrito por Emily Brontë, e uma das histórias de amor mais belas de todos os tempos, a obra tornou-se um clássico da literatura inglesa.
O divertido livro de PG Wodehouse é centrado no universo do cavalheiro Wooster e do mordomo Jeeves. Eles são os eixos em torno dos quais se move um louco mundo de tias de nariz empinado, primos atrapalhados e parentes de todas as espécies: de garotas sagazes a rapazes que atiram pão uns aos outros nos almoços do clube, mas gaguejam na companhia de mulheres.
O livro relata uma perseguição religiosa no sul do México, em que o último padre da aldeia tem a cabeça posta a prêmio e é caçado como uma lebre. Humano demais para ser herói, humilde demais para chegar a mártir, continuamente embriagado, o padre é impelido para seu mísero calvário tanto por sua compaixão pela humanidade quanto pelos esforços de seus perseguidores. Ele tenta fugir, mas volta cada vez que um moribundo precisa de seus serviços.
Em meio às rápidas mudanças econômicas e sociais que sacudiram o século 19, a Inglaterra rural representa a distância entre tradição e modernidade. Após ser informado de um possível parentesco com os aristocratas D’Urbervilles, o camponês John Durbeyfield envia sua filha, a jovem Tess, para trabalhar com a nobre família. Dividida entre sua posição social e suas aspirações, Tess descobrirá que o mundo pode ser terrivelmente hostil.
Publicada pela primeira vez em 1897, “A Guerra dos Mundos” é considerada uma das obras fundadoras da ficção científica moderna. O romance de H.G. Wells descreve uma invasão da Inglaterra por alienígenas de Marte, que possuem tripés biomecânicos gigantes e querem conquistar a Terra e manter os humanos como escravos. O livro pode ser lido como uma crítica feroz ao imperialismo europeu do século 19.
Narrado pelo cavalheiro Tristram Shandy, o livro tornou-se um best-seller do século 18. Satírico, sentimental e libertino, dotado de uma capacidade inesgotável de ramificar os temas e consciente de que a literatura existe primeiro para satisfazer as vontades do autor, o pregador anglicano Laurence Sterne não se deixa classificar com facilidade, mas já na dedicatória anuncia seu princípio básico de composição: rir é o melhor remédio.
Ao lado de “A Revolução dos Bichos”, “1984” é um dos livros mais famosos de George Orwell. Ele é centrado em Winston, que vive aprisionado em uma sociedade completamente dominada pelo Estado. O personagem não aceita bem a falsa democracia em que vive, questionando a opressão que o Partido e o Grande Irmão, que vigia a tudo e todos, exercem sob a sociedade.
O livro reconstitui, de maneira ficcional, aspectos da colonização inglesa na Índia, detendo-se sobretudo no conflito que se estabeleceu durante o contato de duas culturas tão diferentes. Uma passagem para a Índia mistura o relato de viagem à análise da sociedade que se criou com a chegada dos colonizadores. Forster, no entanto, não esbarra em um problema comum a esse tipo de texto: a parcialidade, e abre espaço no livro para uma pluralidade de pontos de vista.
Publicado originalmente em capítulos de jornal, em 1856, o romance mostra o crescente declínio da vida de Emma Bovary. Uma mulher que, sonhadora, se vê presa em um casamento insípido, com um marido de personalidade fraca, em uma cidade do interior. Ele é considerado por muitos críticos e estudiosos como a maior realização do romance ocidental, e a obra-prima de Gustave Flaubert.
Um homem sai de casa pela manhã, cumpre com as tarefas do dia e, pela noite, retorna ao lar. Foi em torno desse esqueleto enganosamente simples, quase banal, que James Joyce elaborou o que veio a ser o grande romance do século 20. Inspirado na “Odisseia de Homero”, “Ulysses” é ambientado em Dublin, e narra as aventuras de Leopold Bloom e seu amigo Stephen Dedalus ao longo do dia 16 de junho de 1904.
O livro é um dos mais importantes romances ingleses do século 19. Pedra da Lua é o nome de um gigantesco diamante, roubado de um templo indiano por soldados ingleses. Supostamente amaldiçoada, a pedra é dada para a bela Rachel Verinder em seu 18º aniversário. Mas, na mesma noite, é novamente roubada, lançando os mais diversos personagens em uma busca repleta de mistério e suspense.
Elizabeth Gaskell nos transporta para a vida interiorana em uma cidadezinha fictícia da Inglaterra do século 19 dominada pelas mulheres: solteironas ou viúvas que se esforçam para viver com dignidade. As aventuras e desventuras de personagens marcantes, como a doce Miss Matty e a autoritária Mrs. Jekins, ganham outro tom com a chegada do capitão Brown, um viúvo com duas filhas moças, que se muda para o vilarejo gerando curiosidade e falatório.
“Frankenstein” é considerado o primeiro clássico da literatura de horror. A trama é centrada em um jovem estudante, Victor Frankenstein, que constrói uma criatura horrenda a partir de partes de corpos de outras pessoas. Ao despertar para o mundo, o monstro se vê rejeitado por todos. A partir daí ele inicia uma jornada de busca por vingança, marcada por mistérios e tragédias.
Considerado por muitos estudiosos o primeiro romance moderno, o clássico de Henry Fielding acompanha as peripécias de um jovem bastardo pelas estradas da Inglaterra no século 18, apresentando uma galeria de personagens e situações que captam com vivacidade o espírito da época. O livro foi adaptado por Clarice Lispector, que manteve o frescor, o tom picaresco e a ironia que fizeram da obra um marco da literatura ocidental.
O livro foi escrito segundo os preceitos do Oulipo, grupo formado por Perec e Italo Calvino, entre outros, que propunha criar literatura a partir de regras matemáticas. Perec entrecruza diversas histórias na obra, considerado por ele um hiper-romance: “Um romance extremamente longo, mas construído com muitas histórias que se cruzam renovando o prazer dos grandes ciclos ‘à la’ Balzac”.
A trama gira em torno de Briony Tallis, uma pré-adolescente que nutre a ambição de se tornar escritora. No dia mais quente do verão de 1935, numa casa de campo da Inglaterra, Briony vê pela janela uma cena incompreensível: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, despe a saia e a blusa para mergulhar na fonte do quintal. A partir desse episódio, a aprendiz de romancista, movida por uma imaginação fértil, comete um crime que marcará o futuro de toda a família.
Escrito no calor dos acontecimentos e inédito por 62 anos, este romance retrata o êxodo da população francesa diante da ocupação alemã na Segunda Guerra. A obra expõe as delicadas minúcias da alma humana e a fragilidade dos elos de solidariedade em momentos de desespero. Dividido em duas partes, o livro traça um retrato impiedoso da França vencida e ocupada pelos alemães, transformando em ficção fatos que Irène Némirovsky provavelmente presenciara.