O escritor, jornalista e ensaísta italiano Roberto Saviano publicou uma seleção com dez livros que considera essenciais. A maior parte das obras discute as mazelas da existência humana de maneira crua e sem rodeios. Em suas redes sociais, Saviano justificou a escolha: “Procuro livros que me ponham em perigo, não palavras que me assobiam que tudo vai correr bem”, escreveu. De acordo com ele, a seleção, que inclui livros como “Vida e Destino” (2014), de Vasily Grossman; e “Antes que Anoiteça” (2009), de Reinaldo Arenas; reúne alguns dos livros que são “as melhores lanternas para atravessar a noite”.
Roberto Saviano nasceu em 1979 em Nápoles, Itália, estreou na literatura em 2006, quando lançou “Gomorra”, que descortina as atividades da Camorra napolitana, uma das máfias mais temidas e violentas do mundo. O livro vendeu mais milhões de cópias em 50 países. Desde então, “o escritor e jornalista é protegido, dia e noite, por sete carabinieri (policiais). Sua vida social é praticamente nula”.

“Vida e Destino” é um épico moderno e uma análise profunda das forças que mergulharam o mundo na Segunda Guerra Mundial. Vasily Grossman, que esteve no campo de batalha e acompanhou os soldados russos em Stalingrado, compôs uma obra com a dimensão de Tolstói e de Dostoiévski. Finalizado em 1960, e a seguir confiscado pela KGB, o livro permaneceu inédito até a metade dos anos 1980. Uma vez redescoberto, foi alçado a um dos romances mais importantes do século 20.

Em Kolimá, no extremo leste da Sibéria, onde as temperaturas alcançam 60 graus negativos, localizavam-se os campos de trabalhos forçados mais terríveis da era stalinista. Foi neles que o escritor Varlam Chalámov cumpriu a maior parte de sua pena de quase 20 anos, trabalhando até 16 horas por dia, constantemente doente e desnutrido. Ao final desse período, ele retornou a Moscou e, no ano seguinte, começou a escrever “Contos de Kolimá”.

“Uma Vida à sua Frente” é narrado por Mohammed, um rapaz árabe órfão de 14 anos. A garoto vive no bairro pobre de Belleville com Madame Rosa, prostituta reformada e sobrevivente de Auschwitz. Publicado em 1975, o livro teve êxito imediato: vendeu milhões de exemplares em todo o mundo, foi traduzido em mais de 20 línguas, adaptado para o cinema e recebeu dezenas de prêmios.

O romance é ambientado na Invasão da Itália pelos Aliados de 1943 a 1945. Malaparte contrasta a inocência e ingenuidade dos soldados americanos com o desespero e a corrupção dos italianos derrotados, questionando acima de tudo as interpretações morais do conflito. Em 1950, o livro foi condenado pelo Vaticano e colocado no Índice de Livros Proibidos.

Leogrande leva o leitor a bordo dos navios da Operação Mare Nostrum, unindo histórias de traficantes, contrabandistas, e sobreviventes dos naufrágios do Mediterrâneo nas proximidades da Ilha de Lampedusa. Além disso, ele também reconstrói a história dos eritreus, um povo forçado a migrar de uma ditadura feroz, também causada pelo colonialismo italiano. O livro ainda não tem tradução para o português.

“Nasci a 11 de junho de 1889 nos arredores de Odessa. O meu pai era, à data, engenheiro-mecânico reformado da Marinha. Com a idade de um ano fui levada para o Norte, para Tsárskoe Seló, onde vivi até aos meus 16 anos.” É assim que Anna Akhmatova, uma das mais importantes poetas russas, inicia a narrativa. A sua obra é caracterizada pela aparente simplicidade e naturalidade, que resultam em precisão e clareza da sua escrita.
Em “Pastores de Aspromonte”, Corrado Alvaro conta a dura vida da família Argirò. Pobre e sem qualquer esperança de poder mudar sua condição difícil, o único consolo é um dos filhos, Benedetto, que estudou no seminário e redime o orgulho dos pais perante os poderosos que controlam as terras locais. Mesmo sem poder estudar, o outro filho, Antonello, começa a tomar consciência da condição de miséria e desigualdade em que vive.

A autobiografia de Reinaldo Arenas narra os fatos mais importantes de sua vida. O autor, com a saúde debilitada pela Aids, suicidou-se quando percebeu que não poderia continuar escrevendo e lutando pela liberdade política de Cuba. Em carta publicada na última página da obra, ele culpa Fidel Castro pela sua decisão, dizendo que não teria sofrido com o exílio, a solidão e as doenças contraídas no desterro se pudesse ter vivido livre em seu país.

Danell Standing, um professor de Agronomia que matou um colega de faculdade, aprendeu a auto hipnose na prisão. Em princípio, ele utilizava a técnica para escapar das dores da tortura. Depois, para recuperar mais detalhes de “desdobramentos astrais”. Em suas memórias, ele deixou registrada a experiência, que foi absorvida por Jack London. Baseado nos relatos de Standing, o autor construiu um dos mais instigantes romances de todos os tempos.

O último livro do filósofo francês André Gorz, foi escrito para homenagear sua mulher, Dorine, com quem foi casado por quase 60 anos. O casal cometeu suicídio em 2007. Os corpos foram encontrados um ao lado do outro, e um cartaz, na porta de sua casa, pedia que a polícia fosse avisada. Gorz, discípulo de Sartre e co-fundador do “Le Nouvel Observateur”, era um crítico radical da mercantilização das relações sociais. Desde 1990, ele vivia em retiro com a mulher, que sofria de uma doença degenerativa.