Meu sonho era fazer turismo à la Michael Palin, um dos integrantes do grupo de humor Monty Phyton. Em sua série de programas sobre viagens da BBC, Palin mostra que tem estrela. Se ele for, por exemplo, pra Santa Rita do Cumbuco Adentro acaba encontrando lá uma ex-mulher rendeira que faz um camarão flambado no Calvados. O marido dela, por acaso, é ex-barman do Oyster Bar e lhe prepara uma incrível batida de cupuaçu na vodca polonesa. E mais: os filhos do casal, mesmo vivendo naquela praia deserta nordestina, criaram um artesanato raríssimo — vendido apenas no Mercado Comum Europeu e na Haddock Lobo — e que está custando, no exato dia da estada, apenas 1 real a peça. Ainda chego ao patamar do colega britânico. Já é um começo eu me recusar a viajar por essas agências-de-email-marketing. Porque elas são as verdadeiras profissionais na arte de mediocrizar uma jornada.
Recentemente estive nos Lençóis Maranhenses. E, no caminho paras as dunas, acabei notando a aproximação de um Toyota de agência-de-email-marketing. O carro ia para o mesmo local do meu jipe, mas apinhado de turistas. Detalhe: quase todos de Terceira Idade, caminhando para a Quarta. O que presenciei deveria ser interpelado por um tribunal de direitos humanos da ONU.
Velhinhos de 75 anos pulando dentro do utilitário feito pipocas numa panela. Chamava a atenção porque o decrépito 4X4 passava nas enormes costelas-de-adão formadas no areião maranhense e ninguém fazia um “ô ô ô ô ô ô ô ô ô!” ou mesmo um “irrráááááááá!”. Os pobres anciãos não tinham mais energia para gritar. O Toyota caía num buraco, o motor roncando feito um cavalo selvagem acuado e… silêncio. O jipão corcoveava por cima de uma pequena montanha branca e… nenhum pio.
Durante o período de visita às famosas lagoas, caminhei por cerca de meia hora, encontrei uma aguinha cristalina e lá fiquei me refrescando, dando uns tchibuns. Os colegas da agência-de-email-marketing com aquelas frasqueiras típicas, andavam, de lagoa em lagoa, feito formigas alienadas. Chegavam, fotografavam, enfiavam os pés na água e saiam buscando outro lugar para se molhar. Comecei a pensar que os velhotes não voltariam mais à civilização. É sol e vento demais para um cocoruto idoso.
Mas olha só eles de novo, dias depois, no Centro Histórico de São Luís. A mesma correria. Chegando, fotografando um casarão e saindo logo para fotografar o do lado. Todos lampeiros e saracoteando, pra lá e pra cá, com suas frasqueiras típicas.
Definitivamente, a felicidade é um estado de espírito de porco.