A lista inclui livros de história, que são fundamentais para se conhecer o país e o mundo, de literatura, relatos jornalísticos, biografias
Listas são sempre lacunares e, portanto, insatisfatórias. Mas são bem-vindas, desde que seu autor esclareça que os livros mencionados não são camisas-de-força. As escolhas refletem o gosto pessoal e, até, idiossincrasias. Por exemplo: por que não mencionar os artigos de Paulo Francis, que são excelentes, e optar por suas memórias? Uma explicação: “O Afeto Que se Encerra” mostra o percurso de um jornalista e isto deve ser útil para jornalistas e estudantes de jornalismo. O livro “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal”, da filósofa alemã Hannah Arendt, sugere que, com uma formação intelectual ampla, é possível escrever uma reportagem mais sólida e durável. A história foi escrita para a revista “New Yorker”. Não dá para ignorar a extraordinária biografia “Chatô — o Rei do Brasil”, de Fernando Morais. A coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras, é excelente. Os livros da série podem ser lidos tanto por jornalistas quanto por estudantes de jornalismo e, claro, por leitores comuns. As obras contêm grandes histórias.
Todo jornalista tem obrigação de ler o muito bem escrito romance de não-ficção “A Sangue Frio”, de Truman Capote. Um crime brutal acontecido no Kansas chamou a atenção do escritor, que decidiu investigar a história. Para um repórter comum, com a prisão e, depois, o julgamento e condenação à morte dos dois homens que assassinaram uma família, a história estava encerrada. Truman Capote acompanhou o caso de perto, aproximou-se dos criminosos, procurou conhecê-los bem e esteve na cidade onde ocorreu a chacina. Poderia ter voltado sem uma grande história, ou com mais um “recorte” — jornalistas em geral acreditam que descrevem a realidade de maneira o mais ampla possível, quando, na maioria das vezes, produzem recortes superficiais —, mas optou por escrevê-la como um escritor que, embora conhecedor das técnicas jornalísticas, percebeu que eram insuficientes para entender o que, de fato, havia acontecido. O resultado é um grande romance, ao estilo de “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévski. A história resiste como jornalismo de alta qualidade — o que parece invenção é o uso da imaginação para iluminar a realidade — e como literatura. Não se datou. A tradução de Sergio Flaksman é de excelente qualidade, até superior à primeira, de Ivan Lessa, que chega a confundir psicanalista com psiquiatra. Companhia das Letras, 440 páginas.
Não há como não citar Machado de Assis — que pôs Shakespeare e Laurence Sterne no liquidificador e escreveu romances autônomos e de rara beleza, como “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” — e Guimarães Rosa, que “comeu” a prosa de James Joyce e William Faulkner e escreveu “Grande Sertão: Veredas” (o autor bebeu mesmo no irlandês e no americano, mas guarda certa autonomia, inclusive por dialogar com outros autores, como o Goethe de “Fausto”). Mas um jornalista ganhará muito, em termos de aprender a arte da concisão, da contenção, se ler a prosa de Graciliano Ramos. “Vidas Secas” é daqueles livros a respeito dos quais o leitor fica com a impressão de que nada está passando, nem mesmo uma mera vírgula. O jornalista aprenderá muito com o Velho Graça se observar, além da história do nordestino Fabiano e da cachorra Baleia, a sua maneira de escrever. Pode-se dizer que o alagoano é o João Cabral de Melo Neto da prosa, assim como João Cabral é o Graciliano Ramos da poesia. Record, 176 páginas.
Há críticos, da mais alta qualidade, que, para escrever sobre determinados autores e livros, precisam de uma extensa bibliografia — a tal fortuna crítica. Muitas vezes não fazem uma leitura direta precisa, e sim transcrevem o que vários outros críticos disseram, acrescentando alguns comentários. O crítico americano Edmund Wilson, professor de Princeton e consagrado nas críticas publicadas em jornais e revistas, publicouum livro de ensaios, “O Castelo de Axel”, logo depois da publicação de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, e “Ulysses”, de James Joyce. Não havia, na década de 1930, uma fortuna crítica que permitisse um diálogo amplo. O que se precisava fazer era erigir uma crítica a respeito dos dois autores e de outros. Edmund Wilson examinou-os atentamente e escreveu textos notáveis, que resistem ao tempo e à imensidão de novos estudos. (Além do livro mencionado, há também de sua autoria “11 Ensaios — Literatura, Política, História”, com seleção e prefácio de Paulo Francis e tradução de José Paulo Paes. Nesta obra, há ensaios magistrais sobre a prosa americana, destacando-se que aquilo que o presidente Abraham Lincoln escreveu tem influência na prosa enxuta que desaguou, depois de passar por Mark Twain, em Ernest Hemingway. Há artigos perspicazes sobre Charles Dickens, Turguêniev, Flaubert e Edna St. Vincent Millay.) Aprende-se a fazer crítica literária lendo Edmund Wilson. Companhia das Letras, 313 páginas, tradução de José Paulo Paes.
Um livro que certamente deve agradar jornalistas e estudantes de jornalismo é “Radical Chique e o Novo Jornalismo”, de Tom Wolfe. O jornalista e escritor sustenta que o novo jornalismo se tornou “tão ‘absorvente’ e ‘fascinante’ quanto o romance e o conto, às vezes até mais”. E esboça a tese de “que a literatura mais importante escrita hoje na América é de não-ficção, com a forma que foi, embora sem elegância, rotulada de Novo Jornalismo”. Porém, ao começar a trabalhar no “New York Herald Tribune”, em 1962, Wolfe diz que “não tinha em mente nada de novo, muito menos algo literário”. Lá encontrou repórteres especiais, como Charles Portis, Jimmy Breslin e Dick Schaap, que, no fundo, queriam escrever o, digamos, Grande Romance Americano. No “New York Times” se destacavam Gay Talese e Robert Lipsyte. Michael Mok era a estrela do “Daily News”. Certa vez, um homem gordo decidiu “perder peso isolado num veleiro ancorado no estreito de Long Island”. Parecia uma pauta sonolenta, mas o jornal enviou Mok e um fotógrafo para entrevistá-lo. Wolfe relata: “O barco a motor que eles alugaram quebra a pouco mais de um quilômetro do veleiro do gordo, faltando quatro ou cinco minutos para se esgotar o prazo. O mês é março, mas Mok mergulha e começa a nadar. A temperatura da água está em torno de cinco graus. Ele nada até ficar meio morto, e o gordo tem de pescá-lo com um remo. Então, Mok consegue a matéria. Cumpre o prazo”. Charles Portis, depois de brilhar no jornalismo, decidiu se tornar escritor e, segundo Wolfe, escreveu ao menos um belo romance. “As críticas foram incríveis… Ele vendeu os dois livros [romances] para o cinema… Ganhou uma fortuna.” Nos anos 60, descobriu-se, na opinião de Wolfe, que “talvez fosse possível escrever jornalismo para ser… lido como um romance. Como um romance, se é que me entendem. Era a mais sincera forma de homenagem a O Romance e àqueles grandes, os romancistas, claro”. Os repórteres, os ditos literários, “nunca desconfiaram nem por um minuto que o trabalho que fariam ao longo dos dez anos seguintes, como jornalistas, roubaria do romance o lugar de principal acontecimento da literatura”. Os ensaios do livro foram publicados entre 1963 e 1973. Companhia das Letras, 245 páginas, tradução de José Rubens Siqueira, seleção de Matinas Suzuki Jr. e posfácio de Joaquim Ferreira dos Santos.
O jornalista Elio Gaspari escreveu cinco livros — conectados — que são imprescindíveis para um entendimento mínimo do que aconteceu no país, sobretudo em termos políticos, entre 1964, quando os militares assumiram o poder presidencial, e 1985, quando Tancredo Neves foi eleito presidente. Trata-se de uma história bem escrita, numa linguagem ágil, com a apresentação de uma documentação nova e vasta. Funciona, até, como uma espécie de enciclopédia do período. Livros da série Ilusões Armadas: “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Encurralada”, “A Ditadura Derrotada” e “A Ditadura Acabada” (mostra que a transição dos militares para os civis deve ser nominada de “transação” e que parte dos que participaram do governo de José Sarney ocupou postos relevantes na ditadura). Intrínseca, 2612 páginas.
O livro “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal”, da filósofa alemã Hannah Arendt, é uma reportagem com pitadas de filosofia. Poderia figurar na coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras. Enviada a Israel pela revista “New Yorker” para cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichman, um dos responsáveis pelo assassinato em massa de judeus, comunistas, ciganos, homossexuais e testemunhas de Jeová nos campos de extermínio da Polônia, Hannah Arendt, com seu belo livro, acabou por fazer um julgamento à parte. O jornalista certamente tira como lição que é preciso examinar os fatos atentamente, descrevê-los com precisão, mas notando que às vezes podem dizer mais do que aparentemente sugerem. Dada sua excelente formação filosófica, a intelectual judia pôde, com rara independência, construir um perfil mais rico do assassino funcionário público-administrativo que era Eichmann. O julgamento de 1961 resultou no livro publicado em 1963. (Uma história mais nuançada e atualizada do personagem, que não era apenas um “eficiente” servidor administrativo, pode ser conferida em “Adolf Eichmann — Historia de un Asesino de Masas”, de Bettina Stangneth, Edhasa, 642 páginas, tradução de Silvia Villegas. A obra saiu na Alemanha em 2011.) Companhia das Letras, 336 páginas, tradução de José Rubens Siqueira.
Entrevistar é uma arte e uma técnica. Entrevistar escritores é uma arte que exige preparo, refinamento intelectual e uma certa malícia. As entrevistas da “Paris Review” estão entre as melhores da história. Parecem informais, e são — como o jazz. Na verdade, os entrevistadores sabem tudo ou quase sobre os autores, mas não repetem o óbvio e fazem perguntas às vezes desconcertantes. Numa coletânea publicada no Brasil, há as entrevistas clássicas de Truman Capote, William Faulkner, Jorge Luis Borges, Primo Levi, Hemingway, Louis-Ferdinand Céline, Doris Lessing. Ian McEwan, Amós Oz, Javier Marías, Paul Auster também figuram neste volume. Faulkner, entrevistado por Jean Stein (autora do livro “A Oeste do Eden — Um Lugar Americano”, tradução de Denise Bottmann, se matou no dia 30 de abril 2017, aos 83 anos. Ela e o autor de “Luz em Agosto” foram amantes; a entrevista é de 1956), assinala: “O que importa é ‘Hamlet’ e ‘Sonhos de uma Noite de Verão — não quem as escreveu, mas que alguém o tenha feito. O artista não tem importância. Só é importante o que ele cria, já que não há nada de novo a ser dito. Shakespeare, Balzac, Homero, todos escreveram sobre as mesmas coisas, e se tivessem vivido mil ou dois mil anos a mais, os editores não teriam precisado de ninguém mais desde então”. O autor do romance “O Som e a Fúria” atuou como roteirista em Hollywood (“Uma Aventura na Martinica” e “À Beira do Abismo”). “Gostaria de fazer um [filme] baseado em ‘1984’, de George Orwell. Tenho uma ideia para o final que provaria a tese que não me canso de repetir: o homem e indestrutível simplesmente por seu desejo de liberdade”, disse o escritor. Aprende-se muito a entrevistar, sobre as formas de se abordar escritores diferentes, inventivos e tradicionais, lendo as coletâneas da “Paris Review”. Companhia das Letras, 459 páginas, tradução de Christian Schwartz e Sérgio Alcides.
O jornalista Lira Neto é autor da biografia mais reveladora do presidente Getúlio Vargas. Publicada em três volumes, a obra explica como o político gaúcho se tornou uma figura proeminente no cenário nacional, governando o país por quase 20 anos, quinze deles de modo ininterrupto. No terceiro volume, fica evidente que o suicídio do líder petebista, em agosto de 1954, estancou o golpe que se anunciava por civis, como Café Filho, o vice-presidente, e Carlos Lacerda, e militares, como o general Juarez Távora. Trata-se de uma biografia crítica, mas não excessiva. O ditador do Estado Novo, entre 1937 e 1945, é exibido de maneira precisa, mas o estadista, que Vargas era, é mostrado de modo exemplar. O personagem ganha nuance. Não fica menor, é destacado na sua verdadeira dimensão. Historiadores, como Boris Fausto, aprovaram o rigor e, mesmo, a bela escrita do repórter-pesquisador-escritor. Companhia das Letras, 1704 páginas (a trilogia).
Gay Talese pode não ter sido o inventor do novo jornalismo, mas é um de seus próceres. “Vida de Escritor” contém alguns de seus melhores textos (há um excepcional sobre um lugar onde foram instalados restaurantes, até de categoria, mas sempre quebram), que, aparentemente despretensiosos, são de alta qualidade. Tanto muito bem escritos quanto precisos. Há um quê de literatura, mas é, sobretudo, jornalismo de primeira linha. A imaginação não falseia a realidade, embelezando-a ou tornando-a mais feia; ao contrário, torna-a mais luminosa. Mas “Fama e Anonimato” é mais famoso, e de fato é muito bom mesmo. O ensaio sobre Frank Sinatra é uma lição para jornalistas que voltam para a redação informando que não conseguiram dados para a reportagem porque não conseguiram falar com a fonte básica. Gay Talese não falou com Sinatra, que estava “resfriado”. Mas, ao entrevistar várias pessoas de seu entorno, produziu um grande perfil, publicado há vários anos, mas até hoje apontado como uma grande peça jornalística. Companhia das Letras, 536 páginas, tradução de Luciano Vieira Machado.
A Editora Três Estrelas republicou os artigos do jornalista Paulo Francis e o que se percebe é que a maior parte não se datou. Os textos permanecem vivos, divertidos e inteligentes. Jornalistas que querem escrever artigos críticos e não convencionais devem ler o profissional que brilhou tanto na “Folha de S. Paulo” quanto no “Estadão”. Mas recomendo primeiro e vivamente a leitura de suas memórias. Ele conta grandes histórias, no seu estilo idiossincrático. Uma delas: “Deste [Carlos Castello Branco] aprendi uma das raras lições proveitosas de jornalismo. Um dia, depois de ler meu artigo, antes de baixá-lo (à oficina de composição), devolveu-me o dito, por contínuo. Isso não acontecera antes. Fiquei espantado. Onde eu tinha escrito ‘via de regra’, Castelinho puxou um traço à margem, adicionando: ‘É b…’. É a primeira vez que escrevo ‘via de regra’ desde 1957” (a primeira edição do livro é de 1981). Francis, 264 páginas.
Juscelino Kubitschek ficará na história, possivelmente, como o presidente que construiu Brasília. Trata-se de um símbolo incontestável. Mas o que Claudio Bojunga mostra, com uma pesquisa impressionante, é que o mineiro, que governou o país entre a década de 1950 e o primeiro ano da década de 1960, não deve ser conhecido tão-somente como o construtor da nova capital. Na verdade, a própria cidade, incrustada no Planalto Central, é mais do que uma cidade. Era e é uma ideia: a de que o desenvolvimento precisa ser descentralizado, não pode se concentrar no Sul do país, notadamente em São Paulo e Rio de Janeiro. O pesquisador demonstra que JK era um democrata radical, altamente tolerante (o doutor em história Ronaldo Costa Couto escreveu dois livros que ajudam a compreender o astuto político de Minas Gerais: “Brasília Kubitschek de Oliveira” e “O Essencial de JK — Visão e Grandeza, Paixão e Tristeza”). Objetiva, 800 páginas.
Marco Antônio Villa escreveu um livro polêmico sobre o presidente João Goulart, que governou o Brasil de 1961 a 1964, quando foi derrubado por militares, com o apoio de civis-vivandeiras, como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto. Mas o livro mais completo e equilibrado é o do cientista político Jorge Ferreira. O pesquisador não insiste na história de que Jango era pusilânime. Ao não fazer julgamentos estreitos, que soam mais como condenação do que interpretação, o professor confere nuance ao líder do PTB. Jango não vira mito, não se torna um gigante político, mas é visto como um elemento de seu tempo, que era mais nacionalista, por assim dizer, do que esquerdista, ao contrário do que sugerem, até hoje, militares e civis de direita. O petebista era um político hábil, ainda que, eventualmente, hesitante. Quando apostou em ser decisivo, aliando-se, por exemplo, a militares de baixa patente, aparentemente acreditando que poderiam ser seus aliados numa possível luta contra generais, deixou de perceber, com a devida nitidez, a verdadeira correlação de força, sobretudo onde estava o verdadeiro poder militar. Civilização Brasileira, 714 páginas.
As memórias da falecida publisher do “Washington Post” são excepcionais: uma lição de como se deve dirigir um jornal, de como é vital respeitar as opiniões e posições dos editores e repórteres, desde que estejam certos. Defendia profissionais fortes e autônomos — com discernimento e capacidade intelectual. Ela jamais diria que o político “x” deveria falar só com ela, e não com os repórteres e editores (não competia com seus profissionais, não tinha inveja deles, e sabia valorizar os mais qualificados). Katharine Graham jamais perguntava quais eram as fontes de seus repórteres (não perguntou nem mesmo a respeito das investigações mais explosivas). Sabia valorizar seus talentos mais preparados e produtivos e não tinha simpatia por aduladores, capachos e futriqueiros. DBA, 648 páginas.
Pode um filme, como “A Glória de um Covarde”, ser biografado? A jornalista Lillian Ross, da revista “New Yorker”, prova que sim. O diretor de cinema John Huston havia decidido adaptar o romance “O Emblema Rubro da Coragem”, de Stephen Crane, e convidou a repórter para assistir sua produção. Uma das inventoras do novo jornalismo, ou do jornalismo literário, Lillian Ross aceitou o convite e fez uma reportagem de tão alta qualidade que migrou para o formato livro, com sucesso. Matinas Suzuki, na apresentação, sugere que se tornou até mais famoso do que o próprio filme. Um dos segredos de Lillian Ross era ouvir e observar bem, apostando na sua memória privilegiada, pois gravações e anotações às vezes retiram a percepção do repórter e incomodam os entrevistados (retiram-lhe, no mais das vezes, a espontaneidade). Noutro texto, ela recomenda: “Não escreva sobre pessoas de quem você não gosta”. Aqueles que pensam se tornar críticos de cinema não podem prescindir das ideias e sugestões de Lillian Ross. Companhia das Letras, 307 páginas, tradução de Pedro Maia Soares (o prefácio é da atriz Anjelica Huston, filha de John Huston, e o posfácio do crítico literário Davi Arrigucci Jr.)
Ao lado de Ulysses Guimarães — e, quem sabe, Petrônio Portella, no campo da Arena —, Tancredo Neves, do MDB-PMDB, foi o mais importante político civil durante a ditadura civil-militar. Mas sua história antecede o regime militar. Foi ministro da Justiça do governo democrático do presidente Getúlio Vargas e aconselhou-o a reagir ao golpismo. Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, se tornou primeiro-ministro, numa estratégia para garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Se o parlamentarismo tivesse sido mantido, o golpe teria sido evitado? É possível. O fato é que, ao radicalizar o governo, quiçá mais no verbo do que na ação, o próprio Jango forneceu combustível aos golpistas militares e civis. Em 1982, Tancredo foi eleito governador de Minas Gerais. Em 1985, foi eleito presidente da República, no colégio eleitoral, mas morreu antes de assumir o governo. Plínio Fraga mostra um Tancredo densamente humano, terreno, menos mítico, mas ainda assim grande. Ele tinha amantes, por exemplo. Uma delas casada. Objetiva, 648 páginas.
Uma certa interpretação “paulista” do livro de Gilberto Freyre, sociólogo e escritor pernambucano, quase selou o seu destino, digamos como uma obra que, ao pregar a “teoria” da “democracia racial”, praticamente teria contribuído para produzir a história de uma “escravidão benevolente”. Na verdade, o que dizem da obra, numa crítica mais ideológica que objetiva e científica, pouco acrescenta ao estudo da sociedade patropi. A escravidão era, claro, cruel e os negros eram tratados como objetos. Mas, para além da crueldade, havia uma certa interação, inclusive de matiz sexual, o que acabou por produzir uma relação mais tolerante. Sobretudo, apesar do caráter “imperdoável” da escravidão, produziu-se uma “civilização” das mais multifacetadas — o que chama a atenção de pesquisadores ingleses e americanos, que valorizam o livro, tão rico em termos literários quanto em termos de pesquisa e interpretação dos dados colhidos, muito mais do que os brasileiros. O tempo tornou a história — ou histórias, ou sociologias, ou antropologias — relatada por Gilberto Freyre “atualíssima”. Hoje, com menos preconceitos, muitos deles derivados do fato de o intelectual de Apipucos não ser de esquerda, acadêmicos, locais e de outros países, conseguem mostrar a vitalidade do livro. (Há outros livros imprescindíveis no campo da interpretação do Brasil e dos brasileiros: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, “Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Júnior, “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro, “Formação Econômica do Brasil”, de Celso Furtado, e “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro. Clássicos são obras que até, por vezes, se datam, mas guardam certo frescor, vivacidade. São eternos.) Global, 768 páginas.
O ex-editor da “Granta” entrevistou 55 escritores e compôs, mais do que entrevistas frias, perfis dos mais interessáveis. “A única coisa que um entrevistador pode fazer para capturar o que um escritor realmente faz é deixá-lo falar, contar histórias, pensar em voz alta”, sugere. Os textos são relativamente curtos, mas dizem muito. Aprende-se muito observando, por meio de leitura, a maneira de John Freeman abordar os escritores e suas obras. Alguns de seus personagens: John Updike, Joyce Carol Oates, Don DeLillo, James Wood (o crítico polêmico, ele diz: “Concordo com Randall Jarrell que um crítico que não consegue elogiar não é um crítico”. Freeman ressalva o quão é feroz), Jonathan Safran Foer, Toni Morrison, Haruki Murakami, Philip Roth, Ian McEwan, Orhan Pamuk, Jonathan Franzen, Jeffrey Eugenides, Jennifer Egan (vale ler também “Conversa Entre Escritores — As Entrevistas da Believer”, organizadas por Vendela Vida, Arte & Letra, 315 páginas, tradução de Irinêo Netto, Miguel Nicolau Abid Neto e Ernesto Klüpel. Zadie Smith entrevista, por exemplo, Ian McEwan). Objetiva, 309 páginas, tradução de Helena Londres.
Imagine um personagem histórico sobre o qual já se disse quase tudo. O que havia mais a dizer sobre Carlos Marighella, o fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN) e mais importante líder da guerrilha contra a ditadura civil-militar na década de 1960? Aparentemente, pouco. Pois Mário Magalhães escarafunchou sua vida, pública e privada, e apresentou novos fatos (inclusive sobre o fato de que era uma espécie de latin lover da esquerda). Ao contar bem a história do esquerdista, o jornalista e historiador consciencioso conta, pari passu, a história do século 20 no Brasil e no mundo (Marighella influenciou esquerdistas de vários países, como Itália e França). A lição para o jornalista é: não há assuntos mortos e, portanto, o que vale são as novas abordagens e, claro, a reportagem exaustiva, que, no lugar de apenas repetir, acrescenta fatos novos. Companhia das Letras, 744 páginas.
O alemão Florian Illiers decidiu estudar 1913 — verificando o ano que precedeu o início da Grande Guerra, como era chamada a Primeira Guerra Mundial por seus contemporâneos — mês a mês, destacando a política e, sobretudo, a cultura. Com textos curtos, extremamente deliciosos e bem escritos, o autor trata de Kafka, Proust, Thomas Mann, Freud, Jung, Karl Kraus, Robert Musil, Alma Mahler, Rilke, Picasso, Duchamp, Schönberg, o arquiduque Francisco, Stravinski, Hitler, Stálin (que é flagrado fora da Rússia), Tito e personagens menores mas interessantíssimos. O livro pode inspirar um jornalista a escrever sobre o 1963 brasileiro, por exemplo. Estação Liberdade, 368 páginas, tradução de Silvia Bittencourt.
Pode-se dizer que as regras do desenvolvimento de um sistema econômico, como o capitalismo, não são santas. Mas há momentos em que as regras básicas são inteiramente distorcidas — gerando o que se pode chamar, não apenas de “Estado do compadrio” ou de “capitalismo de compadrio”, e sim, numa linguagem mais popular, de capitalismo bandido ou picareta. Há um paradoxo na linguagem do PT. Os petistas criticam as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, que seriam produto de uma privataria, mas contribuíram fortemente para privatizar, não as estatais, e sim o próprio Estado. Os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff “financiaram” a Odebrecht, a OAS, a Andrade Gutierrez, a JBS e o Grupo X e, de algum modo, 2cederam parte da governança, a da gestão dos recursos financeiros, a tais empresas. O caso de Eike Batista é espetacular no sentido de que “enganou” não apenas no Brasil. Executivos e empresários do primeiro time, de várias partes do mundo, foram ludibriados pelo discurso sedutor mas falso do empresário. O rei do Grupo X ganhou muito dinheiro, mentiu a rodo sobre o sucesso de seus negócios, entrou para lista dos homens mais ricos do mundo — a inserção na lista era uma tática para obter mais dinheiro — e era respeitadíssimo. Seus negócios eram como certas fachadas de filmes e novelas. Uns existiam, mas outros (extração de petróleo, por exemplo) eram ficções puras. Coube a uma grande repórter, Malu Gaspar, contar sua história, de maneira detalhada e objetiva, no livro “Tudo ou Nada — Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X”. É uma radiografia de um tipo de capitalismo que às vezes existe apenas no papel, mas simula ser densa e profundamente real. Record, 545 páginas.
O que é o novo jornalismo? “A resposta é que se trata de um jornalismo que se lê como ficção e que soa como a verdade do fato relatado”, afirma Marc Weingarten no livro “A Turma Que Não Escrevia Direito — Wolfe, Thompson, Didion e a Revolução do Novo Jornalismo”. “Wolfe compara seus contemporâneos jornalistas aos gigantes do século 19 Dickens, Balzac e Fielding, escritores que retrataram suas épocas com precisão, numa ficção realista social. A nova ficção do fim dos anos 1960 e dos anos 1970, ao se voltar para dentro, afastando-se do ‘carnaval desajeitado’ da cultura americana contemporânea, deixou um enorme vazio para os Novos Jornalistas preencherem”, afirma Weingarten. Não é ficção, mas pode usar técnicas ficcionais, não para embelezar os textos e criar literatura, e sim para melhorar a qualidade do jornalismo, dando-lhe mais nuance. Pode-se falar que, enquanto o jornalismo factual do dia a dia é rico em certezas, como se traduzisse a realidade com precisão, o novo jornalismo, ao “reabrir” a discussão dos fatos e ao observá-los com mais atenção, acaba por ampliar o entendimento do que se entende por realidade. Certeza é necessária ao jornalismo, mas deixar uma brecha para a dúvida, apontando-a, é saudável. O livro fala de Tom Wolfe, Jimmy Breslin, Gay Talese, Hunter S. Thompson, Joan Didion (autora de livros doloridos e belos sobre a morte do marido e de uma filha), John Sack, Michael Herr, entre outros. Record, 390 páginas, tradução de Bruno Casotti.
O jornalista Fernando Morais escreveu uma história da imprensa no século 20 ao contar a vida do magnata Assis Chateaubriand, um dos mais importantes empresários do ramo de comunicação do Brasil. Criador do grupo Diários Associados, Chatô fundou jornal, revista (“O Cruzeiro”, que vendia quase 1 milhão de exemplares, num tempo em que a população não passava de 50 milhões; há quem duvide do dado, aparentemente inflado), rádio e televisão (TV Tupi). Era um desbravador. O que Fernando Morais mostra, sem fazer discurso, é que, apesar de ser (quase?) um gangster, ele de fato contribuiu para a modernização da imprensa patropi, investindo a sério na melhoria dos seus veículos, sobretudo com a contratação de grandes profissionais, como Joel Silveira e David Nasser. Hoje, fala-se mais de Roberto Marinho, construtor do império Globo, e é justo que se fale do empresário que tornou “O Globo” um grande jornal e criou a TV Globo, a mais importante do país. Mas Chatô enfrentou tempos mais difíceis, com um mercado privado ainda incipiente, o que criava uma relação promíscua entre empresários e governantes (e também empresários). Não satisfeito em ser um cidadão Kane do país, inclusive influenciando políticos — ele próprio era político —, decidiu criar o Museu de Arte de São Paulo. Aproveitando-se da crise na Europa, depois da Segunda Guerra Mundial o continente estava arrasado, Assis Chateaubriand criou o Masp e comprou quadros de pintores importantes por preços mais baixos. Ele pressionou empresários para que lhe dessem dinheiro para adquirir trabalhos de alguns dos maiores pintores da história. Vale observar que Fernando Morais, biógrafo de primeira linha, poderia ter contado apenas a história de um bandido da imprensa. Porém, ao nuançá-lo, mostra que, por trás do pequeno homem, quiçá um semigangster, havia um grande homem. Uma de suas lições, se é uma lição, é que se deve verificar de maneira mais ampla quem são as pessoas, limando preconceitos e julgamentos apressados. Companhia das Letras, 736 páginas.
O russo Vladimir Lênin perguntou, e não de forma retórica, sobre o que é roubar um banco perto de um banco (a frase tem sido atribuída, na imprensa, a Bertolt Brecht)? O setor financeiro é altamente profissional e não é um lugar de anjos e santos. Todos que estão envolvidos no negócio querem ganhar dinheiro e, para tanto, sabem que alguém também perderá. As bolsas americanas são as importantes do planeta, pois capitais de vários países — senão de todos, de quase todos — passam por lá. Há quem ganha e há quem perde nas bolsas. O curioso é que grandes investidores às vezes poderiam ganhar muito mais, porém, de alguma forma, são ludibriados por financeiras-bancos extremamente profissionais (a palavra inescrupulosos, no caso, diz quase nada). Tanto, digamos assim, que o “roubo” de dinheiro é imperceptível. Brad Katsuyama, do Royal Bank of Canada, e alguns profissionais contratados por ele descobriram que, usando a rede de telefonia de maneira altamente profissional — nanosegundos mais rápidos do que a concorrência —, alguns bancos lucravam para si e para alguns de seus clientes muito mais do que outras financeiras. Por vezes, as financeiras ganham mais e, até, prejudicam seus clientes ditos preferenciais. Katsuyama e auxiliares vasculharam o que estava acontecendo e apontaram o problema para vários investidores, que ficaram estupefatos. Estavam sendo enganados e, até, furtados à luz do dia. Feita a descoberta Katsuyama criou uma bolsa, também para ganhar dinheiro, mas supostamente sem enganar os clientes. Repórteres que lidam com o mercado financeiro devem ler cuidadosamente o livro. De Michael Lewis escreveu Tom Wolfe: “O melhor escritor americano da atualidade”. Não é, claro, pois não se equipara a Joyce Carol Oates. Mas poucos jornalistas e até economistas vasculham o mercado financeiro com tanta precisão quanto o brilhante jornalista formado por Princeton e com mestrado em economia pela London School of Economics. O filme “A Grande Aposta”, sobre a recente crise financeira dos Estados Unidos, é baseado num de seus livros. Intrínseca, 238 páginas, tradução de Denise Bottmann.
A Argentina especializou-se em criar uma história paralela a respeito de Adolf Hitler, como se quisesse criar uma espécie de protagonismo historiográfico às avessas. Historiográfico não é a palavra justa, pois os livros que sugerem que o nazista-chefe não morreu na Alemanha, e sim na Argentina, geralmente são escritos por repórteres (quiçá ficcionistas). Trata-se de um jornalismo rico em teorias conspiratórias e escasso em documentação. Dois biógrafos categorizados do ditador, Ian Kershaw e Volker Ullrich, fornecem evidências de que ele se matou, ao lado de sua mulher, Eva Braun, e depois seu corpo foi queimado. Livro fundamental é mesmo “O Dossiê Hitler — O Führer Segundo as Investigações Secretas de Stálin”, de Henrik Eberle e Matthias Uhl. Os agentes de Stálin prenderam os militares (Heinz Linge e Otto Günsche) que estavam com Hitler nos momentos finais e especialistas da polícia secreta os entrevistaram de maneira exaustiva, em busca de registrar a informação precisa do que havia de fato acontecido no bunker. Ouvidos em lugares diferentes, os auxiliares de Hitler relataram a mesma história, de maneira detalhada: o homem que provocou a Segunda Guerra Mundial havia mesmo se matado e, em seguida, seu corpo havia sido queimado. O que restou os homens de Stálin levaram para União Soviética. Ian Kershaw escreveu a respeito da obra: “Este é um importante documento; a partir de agora, terá lugar garantido entre as fontes sobre a vida de Hitler”. Portanto, se alguém lhe disser que Hitler morou na Argentina (Bariloche ou outro lugar) ou até em Mato Grosso, não titubeie: indique o livro, que esclarece a história de maneira definitiva. Mesmo assim, a Argentina continuará a publicar ao menos um livro por ano “informando” que Hitler fugiu para a terra de Jorge Luis Borges e Oliverio Girondo. Pura ficção, mas quem não gosta de uma teoria conspiratória, mesmo se falsa? Record, 627 páginas, tradução de Kristina Michahelles, com revisão técnica de Maurício Parada.
Czeslaw Milosz é um dos grandes poetas do século 20. Poeta, acima de tudo. Mas era também prosador, ensaísta, crítico, tradutor. Eu diria até filósofo e talvez o “até” esteja sobrando. Em 1981, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Na linhagem de Ievguêni Zamiátin, George Orwell e Arthur Koestler, o polonês Czeslaw Milosz escreveu um livro brilhante, mas pouco lido no Brasil, “Mente Cativa”, de 1951 (Ióssif Stálin viveu até 1953). É uma das críticas mais corrosivas e perceptivas ao totalitarismo escrita por um insider que se considerava outsider. “Seu tema é a vulnerabilidade do pensamento intelectual do século 20 à sedução pelas doutrinas sociopolíticas e sua presteza em aceitar o terror totalitário pela proteção de um futuro hipotético”, afirma. Talvez seja possível sugerir que quem cultua o futuro como paraíso tende a transformar o presente no inferno ou, no mínimo, no purgatório. “O poder de atração manifestado pela mentalidade totalitária, sendo ela tanto de direita quando de esquerda, não pertence ao passado; pelo contrário, parece agir de forma crescente.” O fenômeno totalitário é de uma tenacidade impressionante. Quando a Polônia se tornou um país-satélite da União Soviética, o autor serviu ao governo comunista, como “oficial diplomático em Washington e Paris”. Ele afirma que não serviu à ditadura comunista do Leste Europeu por dinheiro. “Não sou nenhum santo, mas aqueles que me conhecem têm consciência de que minhas necessidades são modestas e não possuo nenhum gosto extravagante, exceto o amor aos livros. Concordei em servir não por motivos materiais, mas por convicção.” No exterior, sentia-se livre da “pressão direta” dos comunistas. Ele não queria romper com a Polônia por vários motivos, um deles não perder contato direto com a língua (“O que é um poeta que não mais possui a própria língua? Tudo isso poderia ser meu se eu pagasse o preço: a obediência”). “Chegaria o tempo que haveria de admitir minha derrota. (…) Os homens se agarram a ilusões quando não há mais nada a se segurar. (…) À medida que os centros de controle do país foram elaborados, um a um, pelos seguidores de Moscou, fui forçado a abandonar minhas crenças filosóficas uma após outra, com o propósito de conter-me de me lançar ao abismo. O abismo para mim era o exílio, o pior de todos os infortúnios, pois significava a esterilidade e a estagnação. (…) O ‘socialismo realista’ [nota do Jornal Opção: uma tradução mais adequada é “realismo socialista”]… diz respeito às crenças que estão situadas na base da existência humana. No campo da literatura, proíbe o que em qualquer época foi a tarefa fundamental do escritor — observar o mundo sob um ponto de vista independente, dizer a verdade como ele a vê e, assim, manter vigilância assídua sobre o interesse da sociedade como um todo.” O autor diz que o livro, de rara excelência, é “um campo de batalha”. “No qual”, frisa, “dei forma a meu combate à doutrina que rejeitei”. Trata-se de um livro impressionante, que merece leitura atenta e, se possível, debate. Estudantes de jornalismo (e não só) aprenderão muito com a honestidade e a firmeza intelectual do escritor. Novo Século, 247 páginas, tradução de Dante Nery.