O escritor Marcel Proust gostava de jogar uma brincadeira de salão chamada “Confissões”, onde os participantes respondiam perguntas pessoais. Em sua homenagem, hoje o jogo ficou conhecido como “Questionário Proust”. Para os íntimos “bate bola”. Mas, por conta do perfil do entrevistado de hoje, evitaremos usar essa expressão.
Corajosamente, o membro mais gozador da Revista Bula foi visitar o manchado divã do escritor Jacques Fux para, numa sessão de (anti) terapia, fazê-lo desnudar-se diante de nossos leitores. No sentido figurado, é claro. Foi tudo muito bem calculado (sim, Fux também é matemático). O premiado autor dos romances “Antiterapias” (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura), “Brochadas” e “Meshugá — um Romance Sobre a Loucura” abriu-se completamente e falou sobre literatura, matemática, cultura judaica e, principalmente, brochadas, o motivo de sua fama e fortuna. Por incrível que pareça, desta vez, Jacques Fux não negou fogo. Suas respostas foram penetrantes. Se, por acaso, você não gostar da entrevista, já vou logo avisando: isso nunca aconteceu comigo antes.
Antiterapia cura brochada ou é tudo coisa de meshugá?
Pois é, parece que as coisas estão todas inter-relacionadas mesmo. Tudo teve início quando, ainda matemático, fiz os cálculos do tanto que seria literário expor as minhas memórias de infância, as minhas falhas e as minhas loucuras. Parece que fiz as contas corretas! Meus livros — “Antiterapias”, “Brochadas” e “Meshugá: Um Romance Sobre a Loucura” me dão muito orgulho. E estão me curando.
Como é ser famoso por suas brochadas?
Como digo, com toda arrogância e imponência do mundo (ato falho): sou o maior especialista no mundo em brochadas. Basta ler o livro para saber que sei tudo — tudo mesmo — sobre as brochadas masculinas, femininas, literais, metafóricas, literárias, psicanalíticas, virtuais, históricas, acadêmicas, médicas. Mas, divido esse título com quem quiser.
Escritor matemático ou matemático escritor?
Escritor louco! No e “Meshugá: Um Romance Sobre a Loucura” conto várias histórias de personagens “reais” que enlouqueceram. Um deles, é matemático brilhante que se parece muito com um personagem literário bem famoso. O capítulo se chama: “Perelman, o Bartleby da matemática”. Esse gênio-louco resolveu um dos maiores problemas da matemática. Ao oferecerem para ele o prêmio de 1 milhão de dólares, ele “preferiu não”. Vai entender.
Brochada é golpe?
Na verdade, é o anti-golpe! No “Brochadas”, conto do anti-golpe nas palavras dos grandes sábios: Para Santo Agostinho: “Às vezes, o desejo nos controla sem ser convidado. Já em outros momentos ele abandona o amante e, embora você arda de desejo, o corpo se torna frígido”. Ou, nas palavras de Platão: “desobediente e teimoso, como uma criatura deficiente de razão”.
Borges ou Machado de Assis?
Guimarães Rosa! Ele é o cara. E, olha, em tempos de empoderamento, “Grande Sertão Veredas” é leitura obrigatória.
Quem é o Kid Bengala da literatura brasileira contemporânea? Quem é a Vivi Fernandes da literatura brasileira contemporânea? Quem é a Caroline Miranda (“Fiz pornô, continuo virgem”) da literatura brasileira contemporânea?
A questão dos atores pornôs é interessante. No e “Meshugá: Um Romance Sobre a Loucura” conto a história do maior de todos (literalmente): Ron Jeremy (no livro “Ron Jeremy: um personagem de Philip Roth”. Ele, que já fez mais de 2000 filmes, que já transou com dezenas de milhares de mulheres, é aclamado, idolatrado e venerado por muitos, também é desprezado e execrado. É visto como um “abjeto” — causa atração e repulsa. Então, ligar escritores brasileiros a atores pornôs fica meio complicado. Talvez eu seja o grande ator-escritor-pornô, ou, anti-ator-escritor-pornô. Depende do “ângulo” (já plagiando a pergunta do nobre jornalista-pornô Ademir Luiz).
Qual escritor brasileiro é brochante?
Jacques Fux, claro! O maior especialista. Mas, não se esqueça que de uma brochada pode surgir um grande amor (como já disse uma das minhas ex-namoradas em uma carta publicada no “Brochadas”: “Mas, refletindo bem, talvez a única verdade desse mundo louco seja realmente a brochada. Brocha-se o tempo todo. Brocha-se com ou sem tesão. Brocha-se com ou sem paixão. E da brochada pode até nascer um surpreendente amor. Isso que parece impor o fim antes de seu tempo, pode fazer nascer, surgir, crescer. Não exatamente o que você queria que crescesse nesse infortunado instante… mas a brochada pode ter o potencial de fecundar o amor”.
Menção honrosa em prêmio literário é brochante?
Puxa, demais. Mas, mesmo assim, é bom. Significa que você quase chegou lá, né? E, como já diria a nossa maravilhosa Hilda Hist: “Que bom que as pessoas têm língua e têm dedo”. Então, dá para dar um brincadinha…
Tirando o Ziraldo, existe mais alguém imbrochavel?
Na verdade, o Ziraldo é irrebrochável, como disse o Jaguar. Acho que há uma diferença: imbrochável = que não brocha; irrebrochável: que se recusa a brochar. (veja como sou especialista mesmo). Será que nossos políticos não estão nessa categoria? Não brocham, e se recusam, pelo fato de não fazerem jamais!
Quando matemático brocha ele diz “nunca aconteceu comigo antes” ou explica tecnicamente o ângulo?
Matemático nunca brocha. E, claro, tudo é uma questão de ponto de vista. Uma brochada no mundo “real” pode não ser uma brochada no mundo “imaginário”.
Existe judeu burro?
Existe de tudo nessa vida. Existe até o Bolsonaro.
Existe judeu pobre?
Existe judeu sem complexo de Édipo?
Freud é literatura?
Freud foi indicado para o Nobel de Literatura uma vez. Adoro o cara. No “Meshugá”, falo de uma troca de cartas entre ele e o Fliess. Eles chegam a conclusão de que os homens judeus menstruam pelo nariz: “Segundo o otorrinolaringologista (Fliess), cuja tara era o nariz, havia uma estreita relação entre as vias nasais e a genitália, além de uma correspondência entre períodos menstruais masculinos e femininos. Sim, períodos menstruais masculinos! E, para curar os problemas e as depravações sexuais judaicas, Fliess acreditava que bastava cuidar da saúde do nariz, intimamente ligado a essas perversões. A conhecida ‘neurose nasal reflexa’ era uma psicopatologia que precisava ser tratada”. Freud até conta de um corrimento nasal que teve.
Einstein é literatura?
Literatura da boa. Mas, é daqueles “livros” que todo mundo cita, mas que ninguém leu.
Borges é matemática?
Borges é um universo inteiro. Um livro infinito. Um mundo impossível e encantador.
O que aconteceria num encontro literário entre os escritores Jacques Fux e Bruna Surfistinha?
Eu tentaria fazer ela adotar meus livros para vender para seus clientes.
Medalha Fields ou Nobel de Literatura?
Nobel recebe 1 milhão de dólares. Fields, só 50 mil dólares. Fora impostos.
Se 42 é a resposta, qual é a pergunta?
Como fazer para o “Brochadas” virar best-seller na China e na Índia?
666 é o número da besta ou besta é quem acredita nisto?
“Besta é tu! Besta é tu! Besta é tu! Besta é tu! Não viver nesse mundo Besta é tu! Besta é tu! Besta é tu! Besta é tu! Se não há outro mundo…”
Cabala é coisa séria ou só matemática para Madonna entender?
Vejo a Cabala como um mote literário maravilhoso, intrigante e encantador. Faço uso de suas ideias nos meus livros. (Ainda me lembro da cena da Madonna, numa cama armada no palco, simulando uma masturbação e cantando “Like a Virgin”. Na Flip, quando me deram um daqueles microfones da Madonna, fiquei lembrando da Madonna! Quase que não me apresentei por lá.)
Todo neonazista é brocha?
Acho que todo mundo que discrimina tem sérios problemas. \
Antissemitismo é coisa de?
Antissemitismo, discriminação racial, discriminação de gênero e tudo mais é coisa de idiota.
O que é literatura brochante?
Aquela que não te prende. Que não te excita. Que não te motiva e nem te faz viajar por lugares e ideias novas.
Quem dá três sem tirar: Marcelo Mirisola ou Reinaldo Moraes?
Os dois são bem bons. Admiro o trabalho e as incursões sexuais deles. Ouvi dizer que já deram 42 sem tirar.
Se existe raiz quadrada dá para fazer uma bola quadrada para o Quico do Chaves?
Prefiro ajudar a galera do “Caverna do Dragão” a voltar para casa.
Borges disse que uma biblioteca era sua visão de felicidade. Qual a sua?
Deixar de ser o maior especialista no mundo em brochadas e me tornar o “Imperador das Brochadas”!
Um matemático pegou a esposa do Alfred Nobel? Verdadeiro ou falso?
Até onde sei, é verdade. Mas, juro, não fui eu.
Woody Allen ou Caetano Veloso?
Os dois misturados, somados ao Saul Bellow, Philip Roth, Bashevis Singer, com mais uma pitada de loucura e brochada dá um Jacques Fux!
O que é mais brochante: Alexandre Frota ator pornô ou Alexandre Frota intelectual conservador?
Alexandre Frota é uma entidade absurda.
Jacques Fux, Julián Fuks, Luiz Fux. Falta fucks no Brasil?
Melhor não nos colocar no mesmo “saco” do Luiz.
Qual será seu epitáfio? “Brochadas nunca mais”?
Toda brochada será convulsiva… ou não será! (plagiando e subvertendo o Breton!)